domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro: Lembranças,Controle e Liberdade

O filme a Dama de Ferro apresenta a história da Primeira Ministra da Inglaterra Margareth Thatcher dentro do viés profissional e pessoal.
A história retrata, de forma primorosa, a vida de uma mulher que queria ser diferente das mulheres da sua época, determinada a deixar uma marca significativa nas lembranças do seu país. Filha de "quitandeiro"( como seus opositores a denominavam ), figura forte, uma vez que sempre alimentava a força e a vaidade da filha para ser mais e melhor. Margareth parece ter feito a lição de casa  com maestria, pois "obedecendo" aos comandos do pai, sobe degrau a degrau e consegue, mediante aprisionamento de sua vida íntima e pessoal, galgar o primeiro lugar na política do seu país.
O enredo do filme reforça a sustentação da motivação e competência pessoal pela contínua alimentação dos "anjos da guarda do poder" que no caso da Primeira Ministra aparecem nas figuras do seu pai e do orientador estratégico no ínício da sua esclada pública ao poder, figuras essas por quem ela demonstra significativa dependência e gratidão.
O filme relata  a força de uma mulher  " vencedora" na determinação de poder e controle profissional.
Mas o que dizer da sua vida pessoal?  Ela passeando na solidão da sua velhice volta às  lembranças, permeadas ainda pela necessidade de controle, ao seu marido, constante escudeiro, figura aparentemente frágil, que dentro do seu humor e desapego, demonstra sua mais genuína fortaleza. A presença dele na vida do casal, traz a todo momento o alento e a suavidade tão necessários à vida íntima, pessoal, conjugal e familiar daquela mulher que colocou essas vivências para o final da fila.
Algumas cenas mostram com leveza essa presença forte e amorosa do marido, que mesmo desempenhando tão essencial papel nas lembranças da sua esposa, essa o posicionava, até fisicamente, atrás dela.
O diálogo entre os dois, fruto das alucinações de uma doença que  avançava em Margareth ( pois o marido já estava morto), era pela mulher repleto de ordens, orientações e controle.
Uma cena significativa é aquela em que ela em um momento de lucidez, agora apenas como mulher que sofre pela perda do companheiro querido, se enche de coragem e se despede do marido, limpa o guarda roupa dele colocando em  sacos todos os seus pertences e suas lembranças...Margareth poderia ter feito essa "tarefa" com a ajuda da filha que em alguns momentos ofereceu seu auxílio. Preferiu fazer essa "limpeza" sozinha.
Na manhã seguinte após essa despedida, Margareth consegue olhar pela janela, ouvir as vozes da vida lá fora e andar pela casa  de forma mais leve. A cena mostra uma escada e penso eu agora em uma pessoa que, aos poucos, vai deixando de estar refém e  prisioneira das suas lembranças e vivências limitantes, dando chance a formas de vida mais serenas.  Quem sabe poderá ser o começo da liberdade do controle...

                                           Lígia Oliveira - Terapeuta familiar e de casal

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Casal- Conversando Com Seus Recursos e Suas Dificuldades







Na maioria das vezes quando um casal procura por terapia tem como principal queixa as  dificuldades do relacionamento. A leitura de cada um à análise do relacionamento se concentra no que o outro faz, ou não faz, ações essas, segundo os cônjuges, responsáveis pela geração de sentimentos de raiva, frustração, mágoas, ambivalência...

 Podemos dizer que ambos os parceiros desenvolvem naquele ciclo de vida, uma cegueira aos potenciais da conjugalidade. Ou seja, o sentimento e o pensamento dos dois estão paralisados na dor, no déficit. Nesse caminho os parceiros ensaiam passos para um um estado relacional permeado pela disfunção.
 
Os terapeutas que trabalham com casais costumam falar que a iniciativa conjunta dos parceiros em procurar alguém e um espaço onde eles queiram conversar acerca dos seus sentimentos, pensamentos, necessidades, dúvidas, possibilidades e limites já sinaliza uma força. É reforçado aos cônjuges que olhar para a crise como uma possibilidade para despertar, requer atitude amorosa de abertura, cooperação e compromissos mútuos.
 
No processo terapêutico é trabalhado o entendimento que fugir, negar e  abafar o conflito é disfuncional à dinâmica relacional; gera insatisfações e ressentimentos. É essencial que os cônjuges possam falar um para o outro daquilo que os incomoda, do que percebem que está faltando, ou está em excesso, das suas raivas, frustrações,  do que pode ser feito diferente e do que precisa ser aceito.
 
Contudo, avaliamos juntos, terapeuta e clientes, que a terapia é um espaço onde vamos não só para tratar das feridas, mas também um lugar no qual, cooperativamente, reforçamos o desenvolvimento das habilidades e talentos do casal. Trabalha-se dentro dessa perspectiva o que está vivo na relação, ou seja: os fatores de proteção do relacionamento conjugal, observando-se de que maneira é possível adequar esses fatores protetivos relacionais às dificuldades conjugais.

Em relação aos fatores de proteção são identificados junto aos casal os pontos que funcionam como rede de apoio à relação, que no momento da crise parecem estar invisíveis, ou pouco valorizados pelo casal. Nesse momento há uma maior concentração nas forças do casal, nas suas potencialidades e interações prazerosas, no clima de confiança da superação de obstáculos, nos seus projetos comuns, no fortalecimento da força individual, diferenciando-se um do outro, no investimento da parte saudável do vínculo, enfim, nos  fatores de resiliência do par.

Seguindo esse processo e mediante o olhar cuidadoso  do inventário relacional do casal,  ampliamos o foco para que o casal possa clarificar as suas dificuldades, possibilidades e influências mútuas. Avaliamos que caminhando nesse percurso os parceiros terão uma maior condição para decidir e fazer suas escolhas mais conscientes sobre em que bases poderão vivenciar seu relacionamento afetivo de agora em diante.  

Refletindo:
Olhando para seu casamento o que considera fator de "risco"ao relacionamento afetivo?
O que percebe como maior recurso que ajuda no relacionamento: seu , do par, dos dois?

                           Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Resiliência e Terapia Familiar











O sentido de resiliência no âmbito  relacional explica a capacidade das pessoas, casais, grupos e famílias em construirem estratégias de enfrentamento às dificuldades e de serem capazes de manter atitudes adaptativas  diante dos problemas.
Fortalecendo a resilência, contribuimos para que as pessoas (inclusive nós) acreditem nas suas próprias potencialidades.
A Terapia Familiar baseada na resiliência, mobiliza recursos individuais, conjugais, familiares, espirituais, comunitários... que promovam cura e crescimento.
A Terapia Familiar dentro desse enfoque procura trabalhar a dor sem patologizá-la. São experenciados comportamentos para a elaboração das perdas, seus significados, reverberações e alternativas de solução, mediante estudo criterioso do binômio dificuldade/superação.
Uma perspectiva positiva envolve uma linha voltada à iniciativa e criatividade, coragem,  flexibilidade, comunicação clara , foco na possibilidade e a vivência de uma espiritualidade, sendo essa compreendida não só dentro do viés religioso, como  também numa perspectiva de olhar para a vida, querendo crescer fazer crescer em si movimentos de melhoria interna, relacional e com o meio ambiente.
Requer o entendimento de todos esses fatores, olhando-se também para os limites do nosso poder, mudanças possíveis e aceitação daquilo que não pode ser mudado.
No campo da Terapia Familiar percebemos, hoje, um gradual crescimento de modelos mais colaborativos voltados aos recursos  de cura familiar que depositam fé na força do cliente. Não se trata de uma visão ingênua ou, meramente, estratégica respaldada em um otimismo sem fundamentação. O processo da terapia baseada na resiliência tem como objetivo inspirar os que dele participam a se darem conta de suas próprias forças, encorajar a rede de relacionamentos para a construção  de um ambiente mais acolhedor .
Essa abordagem orienta os clientes a deslocarem o foco da vitimização personalizada para o processo da cura das feridas relacionais.
É fundamental que os terapeutas sejam habilidosos para não atribuir fracassos que possam acontecer, à força de vontade, crenças positivas e espiritualidade insuficientes. Entendemos que existem problemas para os quais nem sempre existem soluções .
O conceito de cura segundo Froma Walsh, terapeuta familiar norte americana, é "se tornar inteiro".
Quando necessário a cura envolve também compensações e perdas.
"Não é a forma, o modelo familiar da família, mas os processos familiares que importam para o funcionamento saudável da resiliência familiar", afirma Walsh.

Obs.: O texto acima teve como base o livro : Fortalecendo a Resilência Familiar de Froma  Walsh, 2005

                                                    Lígia Oliveira - Terapeuta de casal e família

Terapia de Casal e Família Sistêmica - Visão Geral






      A Terapia Familiar e de Casal trabalha para uma melhor compreensão e vivência do relacionamento.
    
      Numa visão geral, procuramos juntos compreender :
      O que está acontecendo com o casal e a família;
      Quais as principais queixas e recursos;
      O que os problemas significam para cada um dos seus membros;
      Quais os comportamentos que reforçam as dificuldades;
      Quais os comportamentos  melhoram o relacionamento;
      Qual a contribuição de cada um para a manutenção da dificuldade e da melhoria;
      Quais os objetivos de cada um em relação à terapia;
      Qual o contexto do casal e da família atual ;
      Quais as influências  da família de origem;
      Que reflexões e ações precisam ser melhor ativadas.
  
      Compreendemos que o papel do terapeuta é construir espaços de conversação, que facilitem aos clientes a exploração e o compartilhamento das suas visões para recriarem suas histórias com bases mais saudáveis.
    
     " Compreender é duplamente enriquecedor." Karl Rogers

                                   Lígia Oliveira - terapeuta de casal/ familiar e individual na abordagem analítica






  

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Passos Para Acolher, Compreender e Trabalhar a Ansiedade


Uma das chaves para lidar com a ansiedade é não brigar com ela  e sim olhá-la de frente.
A ansiedade chega para nos mostrar que algo  não está bem, conosco, e precisa de mais cuidado.
Quando voce sentir que a ansiedade está chegando,  respire bem devagar, procurando descobrir um ritmo que lhe deixa mais sereno(a). Pergunte-se: O que esse sentimento ansioso está querendo lhe falar? Procure   viver no presente, e, devagar, vencer seus medos.

 Compreenda que é um passo de cada vez, e que esse caminho é repleto de tentativas, que nos preparam para entender o sentido da vida, das nossas experiências  e  escolhas. Procure viver no presente e  entender os seus medos. Quantos desses medos podem estar limitando sua vida? Olhe-os, sem pressa, aos poucos identifique-os, converse com eles, acolha-os, e reflita o que pode ser mudado e também aceito.
 
Reveja os  momentos  nos quais voce já usou a estratégia do enfrentamento e venceu... Não estique muito o "elástico". Não desanime quando não conseguir e celebre cada pequeno avanço. Reflita  quantas vezes voce conseguiu, sozinho ou com a ajuda de alguém, enfrentar essas vivências de ansiedade e seguiu em frente. Como voce agiu? Encare a ansiedade não como uma inimiga, mas como algo que faz voce aprender  o manejo dos afetos e treinar a sua habilidade de compreensão e enfrentamento diante da vida. Não precisa ser pesado nem rápido. Devagar, identifique e  diminua os pesos desnecessários na sua vida.
  
Reflito que um passo decisivo  para irmos aos poucos "vencendo" a ansiedade é procurar não viver a  vida a partir dela, identificarmos o quanto desse sentimento somos reféns, como ainda entedermos o momento no qual a ansiedade precisa ser olhada dentro da necessidade de um viés medicamentoso especializado.
 
Importante obsevarmos ações, sentimentos e pensamentos que trabalhem nossa capacidade de compreensão e fortalecimento diante da ansiedade, sabendo diferenciar aquelas ações que nos impulsionam para a vida, daquelas que adoecem o coração, a alma e o pensamento.
Um passo de cada vez, contabilizando pequenas vitórias...
 
Reflexão:
 
Como voce percebe a ansiedade na sua vida individual/conjugal/familiar?
Lembre de uma vivência  muito  ansiosa na sua vida.
Qual sua forma de enfrentamento e como se sente quando fica refém da ansiedade ?
Cite uma situação significativa onde voce venceu sua ansiedade ( individual / casal /familiar).
Como compreendeu o último parágrafo ?

                                                     Lígia Oliveira -terapeuta casal e família

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um Olhar Para Nossas Heranças Familiares : O Que Escolho Acolher e Modificar

Quando tentamos entender nossos atos, muitas vezes, nos deparamos com a lembrança de uma cena significativa vivenciada lá atrás .
É um ato agressivo que repetimos, ou uma forma mais tolerante de reagirmos à determinadas situações. Lembramos, então de alguém, pai, mãe, irmão, avós, que nessa lembrança nos aparece como referência do comportamento por nós adotado.
Aos poucos, quando vamos amadurecendo, percebemos repetir comportamentos de forma inconsciente, que,"conscientemente", dizíamos que jamais faríamos.
Observamos que o sistema familiar compreende todo um sistema emocional composto de pelo menos tres gerações : avós, pais e filhos, sendo esse complexo sistema reponsável pela transmissão de padrões de comportamentos que incluem : valores, atitudes, tabus, mitos, "verdades", segredos,  através  dos quais experenciamos nossa história de vida pessoal e familiar. Poderíamos dizer que esses padrões de comportamento  nos foram dados, entretando, o que iremos fazer com esses significados, a partir de determinado momento na nossa vida, é escolha nossa.
Sabemos que a sociedade com seus fatos sociais, econômicos, religiosos e  tecnológicos, exercem grande influência no contexto familiar. Cada época oferece o seu legado de valores, informações ...
O fluxo da vida nos leva a um contínuo movimento que abrange idas e vindas ao passado, presente e futuro. Se pararmos para observar, compreenderemos que as nossas atitudes estão vinculadas a uma "progamação familiar ", que vem de muito tempo, de acordo com a cultura familiar dominante.
Citamos como exemplo uma família de perfil " autoritário" e "hieráquico",  na qual a mãe insiste em continuar sendo a cuidadora dos filhos, mesmo após o crescimento desses. Essa figura materna, poderá, com esse comportamento, estar escondendo uma necessidade de controle para que tudo seja realizado da "forma certa," que essa mãe  acredita ser a dela,  o que pode servir de exemplo de comportamento consciente ou inconsciente para algum membro familiar. O seguimento nessa direção, favorece condições ao aprisionamento do sistema familiar, caso os seus membros não construam momentos de diálogo e reflexão. Muitas vezes, um familiar, nem sempre bem visto na dinâmica da família  acima falada, desafia os padrões de comportamentos, com o objetivo de que essa família repense papéis, valores, redifinindo e ampliando olhares e ações.
Não estamos querendo colocar aqui uma visão negativista das gerações anteriores, mas enfatizar a necessidade de se refletir as diferenças entre comportamentos que estimulam uma repetição de ações limitantes, daqueles que motivam o crescimento da estrutura e relacionamento familiares.
Há momentos em que nos pegamos desenvolvendo atos voltados à positividade, os quais colocam a família dentro de um contexto criativo. De olho nessa aprendizagem"herdada" procuremos refletir sobre seus ensinamentos e práticas, vislumbremos seus " doadores" e saibamos a eles sermos gratos.
Importante, após a aceitação e consciência desse patrimonio herdado, sabermos de forma amorosa, fazermos uma diferenciação daquilo que queremos continuar, agradecer, e mudar.
Mediante esse  caminho cuidadoso, procuremos compreender que a responsabilidade será nossa de querer viver e repassar para nossa vida, parceiros, filhos, e amigos a possibilidade de uma vivência mais saudável, vontade que será alimentada pela compreensão de que esse caminho é gradual, contínuo e nunca fechado no nosso único olhar .

Para refletir:

Após cuidadosa leitura do texto refletir:
Experiências que foram limitantes na família de origem ; ( cite uma ).
Experiências enriquecedoras na família de origem ; ( cite uma ).
Coloque dois adjetivos ou nomes para as figuras e crenças familiares abaixo: ( busque seu sentimento e responda segundo sua primeira lembrança, sem grandes eleborações).
       Pai
       Mãe
       Avós
       Irmãos
       Afeto
       Família
       Amizade
       Sexo
       Dinheiro
       Profissão
       Espiritualidade
       Principal valor

O que voce devolveria a sua familia, por não querer repetir ?
O que voce agradeceria a sua família  e quer repetir na sua vida ?
Qual o lema da sua família:
   No passado
    Hoje
Qual o seu lema individual de vida hoje ?

                                                                   Lígia Oliveira - terapeuta de casal,  família e psicanalista