domingo, 24 de março de 2013

OTerapeuta de Casal e Familiar Sistêmico




Em um processo terapêutico familiar com base na Teoria Sistêmica os terapeutas costumam falar que os referenciais de poder são compreendidos de uma forma mais horizontal. Famílias e terapeuta, a todo momento, colaborativamente, compartilham poderes,escolhas e autonomias.


Grandesso no livro, Sobre a Reconstrução do Significado, quando descreve sobre o relacionamento terapêutico faz a seguinte citação: "O cliente é especialista  no que diz respeito ao conteúdo: é ele quem sabe das suas experiências de vida e das razões que o trouxeram à terapia.O terapeuta, contudo é especialista no processo: sua especialidade consiste em em criar um contexto dialógico"...

Dessa maneira,  deve ser atenção contínua do terapeuta o olhar cuidadoso ao ritmo e condições de abertura de cada cliente, o acolhimento das suas dúvidas e dores e a ajuda no caminho a seguir  à resignificação das suas experiências  como  também à aceitação daquilo que naquele momento não pode ser reelaborado.


O  terapeuta tem como um significativo recurso a escuta acolhedora e a habilidade ao falar na identificação junto aos clientes sobre as características por esses identificadas como fraquezas. Muitas vezes o percurso seguinte se baseia em verificar o quanto de força está presente nessas fragilidades, refletindo e construindo um agir diante desse "balanço psicológico".

No processo da terapia familiar e de casal de olhar sistêmico, de maneira geral podemos dizer que terapeutas e clientes se juntam, passo a passo, para:


 -Não terem como único foco o sintoma trazido pela família e o casal e sim a rede de relações;
 
 -Trabalharem o aqui e o  agora e o contexto presente;
 
- Identificarem os padrões repetitivos nos múltiplos níveis de comunicação mental, emocional...
 
- Desenvolverem mudanças que irão contribuir para a melhoria do clima relacional;
 
- Fortalecerem a rede de apoio relacional;
 
 -Ajudarem nos movimentos de diferenciação e aproximação  e autonomia  familiar e do casal;
 
- Identificarem e favorecerem um padrão de comportamento gerador de novas aprendizagens.

 Na vivência desses passos de reflexão e ação terapeutas e clientes terão oportunidade de construir uma teoria e prática de mudanças na qual a função facilitadora do terapeuta poderá ser complementada por falas familiares mais funcionais e com mais autonomia. Como diz Grandesso:

"Conversar é dar voltas junto..., Nossas histórias são sempre construções coletivas"

                       Lígia Oliveira Terapeuta de Família e Casal

obs-Base de leitura para o texto- Sobre a Reconstrução do Significado do Significado, Marilene Grandesso,S. Paulo, Casa do Psicólogo, 2000

quarta-feira, 6 de março de 2013

Vida de Casal- Conflitos e Negociações



Os conflitos são geradores de crise, que poderão oportunizar transformações trazendo como resultados mudanças na forma de pensar, se comportar e interagir.
Os casais em conflito, na maioria dos casos, apresentam comportamentos que podemos entender como reações de defensividade.
Aparece, como primeira reação, a atitude de CEDER. Os cônjuges negam seus sentimentos, abrem mão, porque temem que o confronto possa trazer rejeição e até abandono. O segundo mecanismo de defesa seria o CONTROLE. Esse aparece como forma de fazer  com que o outro ceda, mediante crítica, manipulação, procurando despertar no outro,  culpa. O terceiro mecanismo é a INDIFERENÇA: o problema é ignorado  para evitar desaprovação e não permitir o controle.
Barbara de Angelis, (2001) terapeuta familiar americana, nos mostra fatores que quando presentes na relação conjugal, sinalizam a presença de conflitos mal resolvidos.
Para uma melhor compreensão  didática, dividiremos os fatores em fases :
A primeira fase do conflito é a RESISTÊNCIA: Dificuldades não conversadas vão se cristalizando, criando afastamento, resistências em ouvir o outro.
,
A segunda fase é a do RESSENTIMENTO: Coisas ditas e feitas pelo parceiro  intensificam a raiva, a mágoa. Nessa fase, pelo menos um dos cônjuge,  já alimenta hostilidade em relação ao outro.
Na terceira fase, a da REJEIÇÃO, os parceiros cada vez mais magoados, desenvolvem sentimentos e atitudes de rejeição, muitas vezes sem querer ouvir  o seu  par, seus motivos, seus sentimentos, seus pedidos. Nesse momento, a rejeição é  vivenciada de forma mais ampla e cotidiana.
É comum que o casal, em situação de embate, possa perder a amplitude da percepção para uma melhor compreensão de si,  do outro, e da situação. A ansiedade torna-se companheira, e o casal fica aprisionado em ações repetitivas que contribuem para um clima de pouca auto-avaliação. Assim sendo, falta ao casal motivação à criatividade e soluções. Ninguém  se sente ouvido, acolhido, pois cada parceiro localiza o problema e a solução no outro.
Para a construção de uma convivência afetiva conjugal mais funcional é necessário que o casal queira ir aos poucos, olhando para os seus sentimentos, suas  dificuldades, seus  recursos, suas limitações e suas habilidades de convivência. Importante  que os parceiros levem em conta suas singularidades, aprendam numa dinâmica de tentativa x erro, a ir se permitindo concordar, discordar, e procurem alimentar de forma compartilhada, um clima onde se possa expor medos, desejos e dúvidas.

É necessário que todo esse caminho seja compreendido dentro de um modelo possível, pois a idealização, como também uma lente ampliada de expectativa sobre o outro, poderá comprometer o novo caminho a ser percorrido. Por essa estrada, aos poucos, o casal que deseja seguir junto, vai aprendendo a temperar o casamento com romance e realidade.
 O olhar atento, compreensivo, pode evitar que cantemos, novamemente tristes canções .


Reflexão:

Olhando para as fases faladas pelo texto, resistência, ressentimento e rejeição, nos casais em conflito, como você compreende o seu momento conjugal?

O que no seu casamento poderia ser  modelo possível da resolução conflituosa?

                                                              Lígia Oliveira- terapeuta de casal e familiar

sábado, 2 de março de 2013

Comunicação Conjugal - Caminhos





Unir-se ao outro é uma proposta de percurso de vida em comum, todavia, sabendo-se que cada cônjuge tem sua própria forma de caminhar.
A comunicação entre o casal poderá ser melhor entendida quando ampliamos a nossa visão e fazemos uma leitura individual e conjugal dos gestos, dos silêncios, da entonação e intencionalidade das palavras, das posturas, dos olhares....
 
Para  compreendermos mais claramente, vejamos em linhas gerais, como ocorre  a comunicação entre os cônjuges:
                                          Comunicação funcional
                                          Comunicação não funcional
 
Na comunicação funcional as falas, as intenções  são  claras, tem como objetivo  o entendimento mútuo, e, quando isso não ocorre, há espaço para um novo esclarecimento.
A comunicação não funcional traz como resultado  a ausência da compreensão, a impaciência, e algumas vezes, o entendimento distorcido da mensagem, não sendo possível a abertura para nova conversa. Poderá acorrer então a criação e a cronificação de raivas e mágoas. Nesse nível da comunicação o objetivo  centra-se em saber quem "tem" a razão.
 
A comunicação  não funcional proporciona a vivência de uma série de desencontros: quando um fala não é ouvido, o outro se coloca numa situação de embate, vitimização... Assim sendo a conjugalidade tende a ficar contaminada pelo não dito, o não entendido, pela    agresividade, pela indiferença, pela ironia,  o que pode trazer distanciamento afetivo e frustrações.
 
Osório, terapeuta de casal, em seu livro Alquimia Íntima(2004), fala da necessidade do casal em ficar sempre atento ao que ele denominou de "lixo psíquico" .O que seria esse "lixo"? Seria tudo aquilo que os cônjuges em sua relação  reprimiram, não expressaram, acumularam sob forma de mágoa, raiva . Esses   fatores  vão concorrer para poluir  e  comprometer negativamente  a conjugalidade..
O que fazer então quando vivenciamos uma comunicação  não funcional?
 
Quem sabe os  passos não seriam  olhar para si e para a relação,  perceber a existência desse lixo  e investigar em que proporção ele mina o relacionamento, continuar no caminho de identificar as fonte geradoras dessas dificuldades,  como ainda, buscar formas  de reciclagem do " lixo conjugal". O passo seguinte continuaria o processo de clarificação da relação  com os parceiros cuidadosos em não entrar no interjogo da acusação e culpabilização.
 
Na prática clínica observamos que o diálogo não flui entre os pares com a comunicação comprometida, em função de atitudes  nas quais enquanto um fala, o outro apenas espera o momento  do contraponto, alimentando esse padrão de comportamento de forma recíproca.
 
Ser ouvido favorece uma atitude de abertura, respeito e reflexão, tanto para quem fala, quanto para quem ouve, vez que alimenta um clima de respeito  de forma circular.
A comunicação funcional requer que o casal avance na aprendizagem do conversar e no exercício de querer evoluir o casamento como uma vivência adulta de intimidade.
Reflexão :
 
Como voces entendem comunicação conjugal de voces?
Citem dois momentos vividos na relação:
 
              Comunicação funcional
              Comunicação  não funcional
 
 O que na relação de voces precisa ser reciclado? ( Escolha um fator).

                                                              Lígia Oliveira - Terapeuta de casal e familiar