segunda-feira, 31 de março de 2014

Adoção / Revelação

Ilustração do blog Filhos Adotivos

Lembro-me de um caso atendido por mim e equipe o qual trazia como demanda a preparação da família para a revelação da adoção da filha caçula.

Trabalhamos, anteriormente, com o casal e família por um ano e cinco meses, vez que os mesmos passavam por conflitos conjugais e familiares.

Podemos dizer que o processo terapêutico foi muito precioso no que podemos avaliar como trocas, e aprendizado para ambos os lados: clientes e terapeutas.

Após dois anos retorna a família, já ampliada com a chegada de mais um membro, uma menina que foi adotada ainda recém-nascida.,e gestada afetivamente pela família.    

A demanda familiar, para a terapia era trabalhar as condições da revelação da adoção pela família da filha caçula.

Entediámos que  temas relativos ao contexto familiar e conjugal também precisavam ser observados e compreendidos, assuntos  esses, conversados conjuntamente.

Dentre atividades e reflexões trabalhadas entre clientes e equipe terapêutica podemos trazer  o cuidado voltado ao entendimento do quando e do como fazer a revelação.

Assim sendo, construímos juntos uma revisão teórica dos estudos e práticas acerca dos estudos sobre o tema, vivendo momentos de emoção e de colaboração conjunta sobre o que avaliávamos como afetivo e saudável a ser conversado.

Trago  um pequeno resumo do que foi vivenciado,  a princípio de forma teórica, mediante conversas e reflexões, idas e vindas. Essa vivência trouxe a base para as ações familiares.

Revelação ao filho da sua adoção:  Assuntos gerais  que demandam uma compreensão sistêmica acerca do contexto familiar:

A revelação não é um ato único. É um processo importante, e, os pais e toda a família precisam se preparar para essa vivência.

Os estudiosos reforçam que a revelação, quando feita com a criança ainda pequena, entre dois e tres anos, é mais benéfica e não exigirá maiores detalhes.

À medida que o filho cresce, virão outras perguntas e, aos poucos, os pais poderão ir falando de forma mais gradativa e adequada ao momento da criança e familiar.

Os pais necessitam estar cientes e preparados para serem interrogados. Por essa razão deverão conversar sobre a forma, conteúdo e contexto no qual farão a revelação.

A orientação de estudiosos e clínicos é que a revelação seja feita com segurança, naturalidade, transparência e verdade. Não precisa ser um momento formal, pesado. Deve-se aproveitar uma oportunidade, por isso, a necessidade de uma planejamento anterior. Essa ação tanto dará mais segurança aos pais como também não gerará ambivalência e desconfiança  no filho.

É essencial que a revelação seja feita, conjuntamente, com o pai e a mãe presentes.

É importante que as perguntas sejam respondidas dentro da curiosidade da criança: Responda apenas o que ela está perguntando. É imprescindível que falem a verdade e que toda a família fale o mesmo texto, em função de  a criança ter confiança naquilo que escuta para não criar fantasias desnecessárias. Haverá muitas ocasiões onde a criança irá pedir o FAMOSO CONTA DE NOVO.

Deve-se ter o cuidado para que o momento da revelação, seja  em um período no qual a família ou a criança não estejam passando por crises.

Os pais precisam ter a atenção em  não estabelecer competição entre as duas famílias: Família boa e família ruim.

Cuidado com as distorções da verdade, ou seja, falar fatos que não aconteceram. Caso não saiba de maiores detalhes, repasse essa informação ao filho, e, procurem dentro da motivação do filho, pesquisar sobre a sua origem biológica, indo aos poucos,vendo como pode complementar a sua história.

Os pais naõ devem deixar o filho sozinho após a revelação para que a criança não se sentir abandonada. Todavia, se  o filho quiser ficar sozinho, respeitar.

O filho tem direito a saber sobre sua história biológica.

Quanto mais tarde a revelação, mais chance de disfunção.

Dificuldades podem surgir mais pelo não dito do que pelo revelado.  O não dito poderá ser compreendido pelo filho com traição e quebra de confiança dos pais.

A verdade não machuca quando é dita de uma forma cuidadosa, planejada, inteira,  carinhosa e acolhedora



                       Lígia Oliveira - Terapeuta de casal e família

Obs- O texto acima teve como base de leitura livros do psicólogo, pernambucano, grande estudioso em Adoção, Luiz Schettini:

                                    Compreendendo o filho adotivo
                                    Adoção os vários lados da história
 




















sábado, 29 de março de 2014

Terapia Familiar e de Casal- Refletindo Juntos

 



 Leitores e clientes me pediram para eu trazer,  junto com os textos do blog,  momentos de reflexão mais direcionados à prática.

Gostei da ideia e selecionei alguns recortes dos registros de sessões entre casais e famílias.


Abaixo, peço para que você leia os pensamentos e, por ordem de prioridade, escolha aqueles mais significativos para sua vida.

Vamos lá:

   A qualidade do nós é a base de qualquer relacionamento.

  Quando nos dispomos a ser também responsável pelas dificuldades, ampliamos nossas possibilidades de     solução.

   A escuta é do outro é muito difícil porque implica em fazer silêncio dentro da gente.

   Em toda relação a pessoa tem mais chance de crescimento quando se sente primeiro, compreendido e respeitado.
  
   A mudança não pode ter como base a manipulação e o desrespeito.

   Muitas são as situações nas quais estamos passando por dificuldades e que colocamos como foco central,  apenas os problemas. Diminuímos, com essa postura, as nossas possibilidades. como foco central.
  

   Nossos principais bloqueios resultam das nossas certezas "absolutas". Precisamos olhar, com mais atenção a rigidez dos nossos pensamentos.
 

   Reorganização interna repercutirá em mudança de comportamento, tanto nossa como daqueles que conosco se relacionam. Ninguém muda ninguém. Mudamos no encontro.

    Quais as minhas heranças familiares que quero alimentar e as que quero rever?


   A todos os clientes que me deram a oportunidade de tão rica reflexão, o meu agradecimento.


            Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal
    
 
  

quarta-feira, 12 de março de 2014

Vivendo Uma Função Materna Saudável





Winnicotti, psicanalista inglês traz na sua teoria um termo curioso sobre à maternagem: "Mãe Suficientemente Boa", o qual pode ser compreendido como aquela mãe que  desenvolve suas funções maternas dentro de um equilíbrio de ações mentais, afetivas ,psicológica, emocionais..
.
Quais seriam essas condições?

O relacionamento mãe e filho requer diversos fatores, papéis e funções da mãe, que tanto poderão trazer conforto emocional para ambos, como também serem vivenciadas experiências que reforcem comportamentos doentios.

Sabemos que as famílias tem suas singularidades, seus contextos específicos, valores, crenças etc.
Todavia, entendemos que alguns fatores  são básicos em relação ao provimento saudável das condições de relacionamento entre mãe e filho.

Destacamos abaixo algumas condições para que essa "mãe suficientemente boa"desenvolva  um sadio crescimento do seu filho e do relacionamento mãe e filho.

Quais as estradas que essa mãe precisa seguir?

Apresentamos, abaixo, alguns passos essenciais  que a mãe necessita  caminhar para o sadio desempenho da função da sua maternagem:

- Prover seu filho de forma afetiva e efetiva  das suas necessidades físicas, psicológicas,mentais, e afetivas;
- Possibilitar um colo e uma presença adequados, ou seja:" emprestar o seu corpo", temporariamente, pelo "encaixe" dos corpos de ambos, reforçando esses cuidados quando segura o filho no colo, o amamenta,    embala-o, troca as suas roupas, dá banho...
- Procurar decodificar a linguagem corporal do seu filho, através da qual o filho se comunica com ela.Ex: O choro pode ser fome, sono, dor, birra...
-  Integrar a sua  vivência com a do filho, mas também experienciar a necessidade de estar ausente, trabalhando essas condições gradativa e adequadamente;
- Exercitar o aprendizado de saber quando e como frustrar e quando como gratificar o filho corretamente, vez que ensinar ao filho a lidar com as frustrações, de forma sadia, é uma condição essencial ao crescimento global do ser humano;
Nesse item é importante observar que o aprendizado com as frustrações requer entender que a mãe não deve nem gratificar demais nem frustrar de forma excessiva;
- Favorecer ao filho condições à externalização e compreensão das suas angústias, desejos, necessidades, ataques agressivos, medos, alegrias, teimosias, decodificá-los e ajudar ao filho a ir entendendo suas emoções, comportamentos, focando suas possibilidades e limites;
- Observar que a mãe é para o filho como um espelho, como diz Winnicott(1967)"O primeiro espelho da criatura é o rosto da mãe, seu olhar, seu sorriso, expressões faciais".
- Ficar atenta  a imagem que ela faz do seu filho: das suas capacidades e dificuldades, seus potenciais e limites, pois essa compreensão torna-se -á conteúdo significativo da imagem que seu filho terá de si mesmo;
- E essencial que a mãe compreenda que a valorização que ela dá ao pai do seu filho, será a valorização que seu filho repassará à figura paterna.

Uma saudável maternagem exige que a mãe invista, sabiamente, em seus passos de aproximação e distanciamento, mediante comportamento de abertura aos caminhos do seu filho, para a entrada do pai, através do trabalho da valorização e respeito das figuras parentais.

"Assim sendo a criança adquire a capacidade de reconhecimento da existência de terceiros, o que propicia a importante transição de um estado de narcisismo,( olhar e amor só para si) para o de socialismo( aprender a interagir e valorizar o outro)".

               Lígia Oliveira- Terapeuta de casal, família e psicanalista.
Obs: Base de leitura:
Zimerman, David- Fundamentos Psicanalíticos- Teoria, técnica e clínica-- Capítulo 7- O Grupo Familiar: Normalidade e Patologia da Função Materna.