segunda-feira, 29 de setembro de 2014

FAMÍLIAS COM ADOLESCENTE





COMO A TERAPIA SISTÊMICA PODE INTERVIR NO CONJUNTO FAMILIAR PREPARANDO--O PARA O ADVENTO DA MORATÓRIA ADOLESCENTE DE UM DOS SEUS MEMBROS?

( Pergunta encaminhada a mim por Isabellle Marins, graduanda em Psicologia pela Faculdade Pitágoras de Divinópolis, para a realização de um trabalho sobre adolescentes e a teoria sistêmica)


A teoria sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada  pelas suas interações tanto com seus familiares como através dos contatos e contextos nos quais estão inseridos.

 A terapia sistêmica tem como pilar os paradigmas da ciência pós- moderna, os quais citamos abaixo:

A complexidade- Não existe uma só realidade; uma só realidade poderá ter múltiplos olhares e significados e tem como base o multiverso.

A imprevisibilidade- É necessária a compreensão  de que não detemos o controle de todos os fatos. Em muitas situações encontramos surpresas, mudanças...

A intersubjetividade- A importância do entendimento da existência das influências recíprocas entre o observador e a realidade e observada, negando assim a neutralidade, porque compreende que nossos olhares são autorreferentes.

Para uma melhor compreensão da terapia sistêmica familiar faz-se necessário  que observemos em que bases estão sendo vivenciados os seguintes pontos:

Contexto Relacional;
Padrão de comportamento do sistema como um todo e dos seus diversos subsistemas;
Estrutura e dinâmica familiar;
Heranças familiares;
Processos de comunicação;
Sistema de crenças;
Ciclo de vida familiar;
Nível sociocultural e econômico

O olhar sistêmico é, continuadamente, circular sabendo-se que o todo é formado por várias partes e as suas influências recíprocas. Dessa forma, investe na busca da compreensão dos atos e sentimentos, como esses se entrelaçam  e contribuem para o desenvolvimento do sentido de autoria de cada família.

Em relação às famílias com adolescentes a terapia sistêmica trabalha no sentido de facilitar a ampliação à família, como um todo,a um olhar  do funcionamento da sua rede relacional diante dos pontos acima citados.

A atenção precisa abranger a relação familiar ao longo do tempo desde os seus estágios infantis até o adolescer, trazendo aos membros familiares a compreensão de que os recursos e as  dificuldade foram co construídas nas várias experiências passadas e do presente  que  se organizam agora no “todo atual coerente”.

Um fator essencial que a terapia sistêmica familiar voltada ao tema do advento da moratória psicossocial do adolescente, ( espaço dilatado no qual o jovem atual muitas vezes vivencia, período mais longo de transição entre a infância e a idade adulta)  é, como já falado anteriormente, a experiência em desenvolver junto aos familiares uma postura de maior abertura à compreensão do como, quando, porque e para que  as suas ações  auxiliam ou não ao encorajamento saudável das condições de autonomia dos seus filhos e como essas vivencias poderão estar a influenciar o adolescente de agora.

Entendemos que o período da adolescência se caracteriza por ser uma fase de significativas transformações bio- pisco-emocional e afetiva no qual um dos principais objetivos do adolescente é libertar-se da sua identidade infantil e da autoridade dos pais, partindo para a criação e o desenvolvimento de uma subjetividade própria.

Esse processo de transição traz movimentos ao jovem como também à família, de sentimentos de pertencimento, separação, diferenciação, individualização, processos psicológicos básicos para o amadurecimento de cada pessoa e também da família como um todo.

Na atualidade observa-se que o período da adolescência foi acrescido de mais anos, pois são muitos os jovens de 20 a mais de 25 anos que ainda estão sob a dependência paterna e se alternam em passos ambivalentes de dependência e autonomia à procura de experiências que lhes tragam o papel de adulto.

Perguntamos: O que pode estar a faltar? Elaborações internas? Por que não querem ou não se decidem por uma vida individual mais independente na qual necessitam se adaptarem às responsabilidades da vida adulta? Em relação aos pais, o que poderá ter contribuído a essa postura tão acomodada desses filhos? Em que situação se encontra o contexto social econômico e afetivo familiar?  É visível que algumas famílias desejam a  independência dos seus jovens, todavia precisam entender como agiram para uma educação que favorecessem aos comportamentos desejados.

Nesse momento  a terapia sistêmica precisa olhar para pais e filhos como dissemos no início desse texto: de forma CIRCULAR

Abordando de forma breve a ação da terapia familiar sistêmica podemos dizer  que o processo ajuda quando junto ao sistema familiar vai buscar os padrões de comportamento que precisam ser compreendidos, modificados e aceitos para a  melhoria do clima familiar, sendo observados, estrutura e dinâmica familiar,figuras parentais, ciclos de vida,limites, autonomia, dependência, perdas , ganhos, ações e ressignificações possíveis.

Nesses encontros é realizado o acolhimento das dificuldades, mas também reorganizados possibilidades, papéis e responsabilidades familiares.

No decorrer desse percurso haverá várias situações de se fazer, juntos, novos ajustes relativos às funções, papéis, dando abertura para que surjam novas regras, acordos de convivência a serem discutidas e ressignificadas

A  terapia sistêmica familiar recombina  todos esses fatores aliados a um trabalho preventivo e  funciona como um fio condutor que  facilitará ao sistema familiar uma postura focada das ações que trarão alimentos mais saudáveis ao relacionamento do sistema e subsistemas familiares.


Lígia Oliveira- Terapeuta familiar e de casal e formanda em Psicanálise.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O Moço dos Olhos Brilhantes e a Linda Mulher










Era uma vez uma menina que virou uma linda mulher cheia de sonhos e vontade de descobrir a vida. Andou por muitas estradas, encontrou muitos caminhos, alguns repletos de luz, outros cobertos de sombras, mas ela continuou andando, às vezes correndo. Teve momentos em  que levou quedas. Mas ela levantava e seguia.

A linda mulher, no seu reino encantado percebeu que seu reino poderia ficar mais colorido e prazeroso, se pudesse passear e dividir a vida com o moço dos olhos brilhantes.O moço dos olhos brilhantes e a  linda mulher deram-se as mãos e foram passear pela Floresta Encantada .Começaram então a plantar naquela terra , mas, talvez, sem muita atenção.

Perceberam então que havia algo estranho: algumas flores logo murchavam, e não davam os frutos esperados. E a floresta começava a perder sua cor, o seu brilho, o seu encanto.
Então o coração da linda mulher começou a ficar dolorido, o do moço dos olhos brilhantes a bater descompassado e a conversa deles também, aos poucos, foi descolorindo.

Foi quando a fada da Floresta Encantada apareceu para lhes fazer uma visita e disse :
- "Queridos, quando cuidamos do nosso jardim é importante que prestemos atenção ao que cada semente precisa para germinar e dá suas flores, seus frutos e  suas sementes. Algumas plantas precisam de sol,outras de sombra outras de muita água, outras... Também é importante conhecer os diversos tipos de vento, quais as plantas que precisam de proteção e aquelas com  raízes mais fortes que  suportam ventania maior. Talvez essa terra precise de um tempo para descansar para sabermos o que queremos dela e o que nela pode ser germinado".

O moço dos olhos brilhantes e a linda mulher nada responderam. A fada saiu voando feliz em saber que que poderia ter feito brotar no casal, a compreensão de que precisamos desenvolver, antes de tudo, um jardineiro em nós, quando queremos manter um jardim.

Reflexão:
Olhando para o que a fada disse ao casal e fazendo uma associação com a sua relação afetiva, o que voce avalia que se adapta ao relacionamento conjugal de voces?

          Lígia Oliveira - Terapeuta de família e Casal

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Relacionamento com Dinheiro - O Que Esse Comportamento Pode Revelar ?









A socióloga especializada em economia e marketing Glória Maria Pereira, de São Paulo, fez a seguinte afirmação em entrevista  à revista Bons Fluidos ( fevereiro, 2003) :"A saúde nem sempre está em nossas mãos, mas a felicidade e o sucesso financeiro sim. Esse último depende apenas de planejamento, não da sorte. Além disso, saber lidar com o dinheiro é saber lidar com as pessoas". Ok, vamos lá... Que tal observar como voce lida com as pessoas e fazer essa ponte   com  a forma como voce administra sua vida  financeira?
De acordo com os dados da socióloga apenas 20% das pessoas tem uma relação positiva de administração financeira, ou seja, utilizam o gastar e o poupar em momentos adequados, não ficando dependentes de dívidas constantes, mas também usando o dinheiro como forma de prazer, afeto, cooperação, ajuda etc... Os 80% restantes apresentam problemas em lidar com as finanças: exageram no gastar ou no poupar e utilizam o dinheiro com forma de poder, dominação, humilhação, mania...
Podemos parar agora e refletirmos sobre o significado desse tema tão instigante: O uso do dinheiro.

 Talvez seja bom nos perguntarmos: O que aprendi com minha família sobre o significado do dinheiro para a vida ?Quando esses significados traduziam para mim ansiedade, prazer, medo, possibilidade, controle, prazer, ajuda, crescimento, presente e futuro? O que é saudável continuar alimentando e o que me reforça o sofrimento?
Dizem os estudiosos em comportamento que o gasto excessivo pode denunciar carência afetiva. Enquanto a preocupação muito direcionada ao ato de poupar traduz um comportamento voltado ao constante adiamento da felicidade.
Quando focamos a  atenção no casal observamos como a questão financeira conjugal é um valioso termômetro da vida íntima a dois. É necessário compreender que o comportamento dos parceiros em relação à administração financeira, vai depender  também dos significados vivenciados na família de origem.
Na maioria dos casos, os novos casais iniciam sua vida, como par, com posturas baseadas no individualismo, tão presente na cultura atual. Percebemos como a construção do nós conjugal demanda tempo, passos e olhares voltados para uma conversa clara  que revele o que cada um pode  fazer, mudar ou aceitar para a melhoria da dinâmica afetiva.  É um cenário onde os parceiros se alternam nos papéis de diretor e ator ao mesmo tempo. E, em determinados casos essa disponibilidade ainda está sendo, vagarosamente, gestada e parece ser um "gestação" de alto risco.
O amadurecimento relacional terá condições de ser desenvolvido, aos poucos, a partir do querer pensar de forma cooperativa,  por parte de cada um dos cônjuges. Poderão, dessa forma, vivenciar postura de negociação conjugal, dentre as quais a questão financeira.
Podemos dizer que a construção conjugal de um compromisso financeiro positivo requer acordos possíveis, monitoramento desses e a firmeza de cumpri-los. É um aprendizado de idas e vindas, que exige disciplina, paciência e motivação para construir e seguir um plano de ação conjunto.Sem isso não avança.
Avalio que é também fundamental, nesse processo, ver o quanto de energia amorosa, respeito, razão, entrega e reciprocidade vem junto nessa caminhada. Afinal, a relação financeira do casal é apenas  um segmento da dinâmica conjugal que está respaldada, como outros segmentos, nos pilares acima descritos. A vontade de evoluir em negociações alternando a adequação entre mudanças e aceitação dos significados de cada um, possibilitará ao casal maior chance de  sucesso de um plano a dois.
Na Terapia Familiar e de Casal fazemos uso de um instrumento  técnico  chamado de Genograma
que através de perguntas sobre as famílias de origem dos parceiros ( valores, crenças, comportamentos, mitos, limites, relacionamentos, conflitos, alianças ...), auxiliam na compreensão das influências dos familiares na vida de cada cônjuge. Muitos significados, dentre esses a  maneira de lidar com o dinheiro, são relacionados à vivência atual do casamento, possibilitando mediante trabalho com esses fatores ajudar o casal a aprofundar seus conhecimentos familiares e poder escolher, para sua vida, tanto pessoal como conjugal e familiar, caminhos geradores de  uma vida mais funcional.
    Reflexão:

   Olhando para o seu relacionamento financeiro  casal/ família o que precisa ser melhor
   construído? Qual a sua parte? A parte do outro?

                   Lígia Oliveira - Terapeuta de Casal e Família

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Terapia de Casal e Família




Faz  nove anos que dedico a minha vivência profissional ao atendimento à famílias e casais.

Agradeço ao Grande Pai, a possibilidade de encontrar todos os dias com pessoas que se entregam e acreditam no poder da palavra, da escuta, da interação como forma de compreender a si, ao outro e aquilo que o "mundo"os oferece.

Paro para refletir, estudar os casos, e me pego pensando nas palavras significativas que em momentos de dor, de lampejos de sabedoria, foram faladas trazendo reflexões e posturas de maior aproximação e encontro para todos que estão no processo.

Faz parte da minha rotina anotar falas significativas dos casais e famílias atendidos por mim.Muitas dessas falas são verdadeiras senhas para a compreensão mais ampla do momento vivido, como também pérolas preciosas para  esse tesouro que é a dinâmica relacional  saudável das famílias e casais.

Registro,agora, algumas dessas falas do processo terapêutico, pois, muitas delas funcionaram como pontos de reflexão e abertura para momentos de desconstrução de afetos negativos, como ainda caminhos de aceitação, mudanças e compreensão dos limites e possibilidades de cada um.

Quem sabe, alguma dessas frases não bata à sua porta e faça você refletir mais acerca do seu momento atual... 

Vamos lá:

-" Muitas vezes nossas mágoas e raivas são como moradas que não queremos abandonar, E a gente passa uma vida inteira morando lá"..

"Hoje percebo que esse sonho era meu, e, eu coloquei você como responsável para consegui-lo". 

"Observei que durante muito tempo dediquei meu melhor humor para fora da família."

"Como diz Herbert Viana: Vamos melhorar o mundo. Vamos começar lavando os pratos em casa."

" Tenho esquecido acerca do que você diz sobre a fala"solução". Parece que parei muito tempo na fala"problema".

" Precisamos, juntos, buscar aquilo que ajuda, mas também não esconder a parte que boicota nossa relação".

"Momentos de prazer, gratificação,leveza...Realmente, não saberia te dizer como estamos investindo nisso".

" Antes de falar sobre o comportamento do outro dê três voltas ao redor da sua casa".

"Tenho refletido naquilo que as pessoas mais próximas sentem quando eu me aproximo. Muitas vezes penso que trago tensão e peso"
...

 E nesse caminho vamos aprendendo com as trocas, como também buscando alternativas de colocar mais vida nas nossas vidas.

   Ligia Oliveira- Terapeuta de casal e família