sexta-feira, 14 de abril de 2017

O Jogo do Contente na Nossa Vida





Poliana, personagem central do livro de Eleanor H. Potter, do livro do mesmo nome,apresenta como comportamento constante, um otimismo exagerado, ensinado pelo seu pai.
Poliana queria como presente de natal uma boneca e recebeu um par de muletas, presente encaminhado para ela, erroneamente, por uma instituição de caridade, pois seu pai não tinha condições financeiras para presenteá-la. Seu pai, diante da situação, para não vê-la triste, falou que a filha deveria ficar feliz, uma vez que não precisava usar aquele presente. Essa fala do pai  fez Poliana calar a sua frustração, negando a dor e sua decepção. Aprende desde de criança, a mascarar seus sentimentos.
Depois que Poliana fica órfã vai morar com uma tia, que a trata muito mal, e mais uma vez Poliana, para "viver bem",  encobre essa frieza da tia e procura os pontos cor-de-rosa rosa daquela situação, ou seja, se aprisiona mais uma vez no Jogo do Contente.
Sabemos o quanto as frustrações, decepções, sentimentos de raiva, medo... são estruturantes na nossa vida, pois nos coloca de frente com nossas possibilidades e limites, e nos capacita a compreendermos nossos processos de reatividade positivos e negativos,  e as condições de construção de vida mediante a aceitação,  e  transformação da realidade.
Quando não olhamos para nossas perdas, dores,  e, temos a necessidade de pintá-las com cores suaves, estamos adubando o caminho de um mecanismo de defesa, a negação, o qual muito alimentado vai "exigir" de nós, cada vez mais, a necessidade de encobrir a dor, negando também a  aprendizagem em lidar, saudavelmente, com nossas atitudes de enfrentamento. Nesse processo, nos recusamos ao movimento de diante das dificuldades aprender, primeiramente a  "conversar" com elas, aceitá-las e ou transformá-las.
Avalio como essencial fazermos uma diferenciação do otimismo exagerado, cego, com a resiliência. Essa, muito necessária à nossa vida, se caracteriza por ser um investimento consciente no otimismo real, possível que nos auxilia nos embates do dia a dia, nos dando força e perseverança em nossos desafios, ou seja: nos reforça as possibilidades, mediante um olhar concreto dos recursos que podemos acessar, alimentar e construir.
O Jogo do Contente é um padrão de comportamento de defesa que denuncia falta de amadurecimento da mente, e que tem por objetivo uma blindagem emocional  ao sofrimento.
Reflitamos:
Como anda na sua vida, pessoal, conjugal, familiar, profissional, social, espiritual, o Jogo do Contente?
Em qual dessas vida o  alimenta ?
Para  que?
É essencial observarmos como compreendemos a vida, pois esse olhar nos transforma naquilo que somos.
Nosso conceito de vida segue aquilo que se estabelece depois que  a imagem e a vivência acontecem, dependendo, antes de tudo, daquilo que vamos deixando que cresça e se instale em nós.

                              Lígia Oliveira- Terapeuta de casal, família. e psicanalista