quarta-feira, 31 de maio de 2017

O Processo de Luto e a Terapia Familiar






Quando uma família começa um processo terapêutico, grande parte  dos familiares chega com sua "caixa de ferramenta" trancada. No início da terapia a fala dominante familiar é baseada em sentimentos subjetivos de culpa,medo, raiva, ressentimentos, saudades, dúvidas...
O trabalho terapêutico tem como objetivo a facilitação da comunicação entre os familiares, para a melhoria do compartilhamento das idéias, emoções, criando-se, aos poucos, um espaço relacional mais oxigenado. Espaço esse de aprendizado oa manejos dos afetos, na busca de recursos que poderão facilitar condições de superação.
A Terapia de Família entra nesse contexto de luto, mediante acolhimento do sofrimento familiar e trabalha com objetivos voltados aos reservatórios de esperança, investindo na vivência dos recursos familiares/individuais que facilitem o processo de seguir em frente na vida. Ou seja,  aos poucos, vai validando o sofrimento dos entes familiares em função da grande perda, ao mesmo tempo, que favorece uma transformação do contexto de sofrimento em contexto de aceitação.
Fases do Luto:

 A maioria dos estudiosos apresentam como "tempo" da elaboração do luto um período que tem como duração de um a dois anos; vai depender do motivo da morte e da estrutura familiar.Nesse período, vai o enlutado tendo uma redução dos sintomas físicos e psicológicos.
 
Fase 1-
Recebimento da notícia, negação da morte, entorpecimento, muita dor, negação, dor psiquica aguda, sintomas psicossomáticos, choro,culpa,raiva, isolamento social;

Fase 2-

Fase de anseio e da procura, na qual os enlutados desejam de volta o ente falecido. Visitas ao túmulos frequentes e visões,  sonhos com o ente que se foi.
Dificuldade de concentração, dor psiquíca, choro, raiva, comportamentos hostis...


Fase 3-

Sentimento de desorganização e vivência de mudanças drásticas. Poderá ocorrer despreparo emocional, financeiro. Período que novos papéis precisam ser assumidos, em função da morte do familiar;
Fase 4-
Fase que a família vai aprendendo, mais constantemente, a conciliar um"sentido" para a perda, a fim de compreende-la em um contexto de crenças, descobertas de novos funções, adaptação gradativa à vida sem o ente querido: andamento  do processo de continuidade da vida.

Distorções do luto:

Alguns familiares não "respondem" de uma forma usual à perda de um ente querido. Seu comportamento se carcteriza por experiências que favorecerão consquências futuras não saudáveis ao processo do luto

Essas ações mais frequentes são:

Atraso das reações "normais", ou seja, o enlutado que resolve tudo no velório, fica como suporte familiar, é  o"forte" . É como se ele tivesse o dever de não sentir, não sofrer; o pensamento é voltado para o outro que tem que apoiar. 

Envolvimento em excessos de atividades profissionais, mascarando, protegendo a dor do sentimento de perda;

Ausência das reações de luto, choro, tristeza solidão, como uma forma de repressão da demonstração de dor;

Apresentar sintomas que o morto tinha.

Obs- Caso essa reações se apresentem, constantes, por mais de seis meses poderá ter como consequência a vivência do que chamamos de luto patológico.

A família tem necessidade de, conjuntamente, conversar sobre suas emoções, de forma clara, para o progresso da aceitação da morte.
As tristezas, dúvidas, mágoas, culpas precisam ser reconhecidas e validadas, pois sentimentos e ações de negação, muita mágoa, culpa,  poderão fazer surgir na família reações nocivas aos relacionamentos atuais, ou futuros, como distanciamentos afetivos, substituições, projeções.

Desta forma, a Terapia Familiar trabalha alguns fatores familiares que servirão de força e apoio à família enlutada, investindo em ações conjuntas de enfrentamento e encorajamento da vivência do luto e reforço à rede familiar, social e espiritual.
           
Muito importante que o processo terapêutico potencialize forças  para uma ajuda genuína aos familiares "sobreviventes" para que esses,durante e após o período do luto, possam "extrair significado" da perda, consigam ressignificar suas dores e seguir em frente mais fortalecidos.

Obs-  Esse resumo utilizou vários textos dos sites abaixo:
www.redeapi.org.br
www.grupocasulo.org                 

                                  Lígia Oliveira- Terapeuta de famílai e casal

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Mudança- Ginástica dos Pensamentos e Sentimentos





    

O livro Do Desejo ao Prazer de Mudar de Françoise Kourilsky-Belliard, doutora em psicologia ( 2.ed.), 2004, nos traz reflexões sobre uma vivência muito presente nas nossas vidas: a mudança. A autora contextualiza, de forma cuidadosa e profunda, a mudança nas suas múltiplas faces: social, tecnológica, física, material, cultural, psicológica e emocional.

Em relação à mudança íntima, pessoal e comportamental o livro nos leva a ampliar nosso pensamento para entendermos essa mudança como um caminhar para um percurso de vida diferente, consigo, com o outro e com o ambiente. Nesse movimento, a visão interna não nos faz rejeitar o nosso  jeito anterior de ser e estar no mundo, mas, antes de tudo, busca  um olhar curioso, crítico e amoroso para acolher as nossas condições possíveis do presente.

O processo de mudança mobiliza a reflexão da vontade de ampliarmos  a nossa interpretação de mundo diante das situações da vida, e, nos direciona a uma parada gradativa de ressignificação de formas de pensar, sentir e agir. Querer mudar significa ver não só  o que pensamos, mas também perceber como esse pensamento modela  o nosso comportamento.

Avalio que em alguns momentos quando estivermos meio parados em leituras que nos impossibilitem avançar em direção a uma vida melhor, precisemos  nos fazer algumas perguntas, entre as quais seleciono as seguintes:

Em que proporção as minhas leituras da vida estão contribuindo para uma vida mais feliz? O que sinto que posso flexibilizar ou não com o outro? Comigo mesmo? Que resultados voltados à qualidade de vida conseguiria? O que avalio que na minha forma de viver o mundo é um movimento que me aprisiona ?Aprisiona o outro?O que quero manter com essa atitude? O que posso soltar? O que o outro também precisa acolher em mim? O que preciso e quero mudar? O que preciso e quero manter?

O exercício de questionamento acima, ou um outro que atenda as peculiaridades de cada caso, mas que invista na reflexão, pode ter a função de uma ginástica de pensamentos e sentimentos que sendo realizada no momento e dose adequados, melhorará nossa "musculatura" emocional, mental e social, reforçando condições para nos tornarmos mais sujeitos da nossa vida e enriquecermos nossas possibilidade de interação com o outro e com a gente mesmo.

É  preciso que andemos passo a passo, devagar e firme, porque no processo de mudança  na maioria das vezes, a direção é mais importante que a velocidade.

Obs- Postagem reeditada.

              Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e família- www.terapiacasalefamilia.blogspot.com