O processo analítico é vivenciado mediante
a interação do analista com o analisando através da linguagem falada,
narrativas,linguagem corporal, expressões, gestos, atos...
A inter-relação desses fatores vai, ao longo do
tratamento, reunindo condições à uma ampla leitura do paciente que passa
a se perceber, aos poucos, como o sujeito das suas histórias,através do
reconhecimento, interpretação e elaboração dos seus sentimentos, pensamentos
comportamentos e das suas ações.
O Acting Out representa uma forma de
comunicação do paciente, que pela falta de "capacidade" de se fazer
compreender pela linguagem falada utiliza o ato em vez da palavra.
Esse comportamento do analisando acontece, na
maioria das situações, de forma impulsiva, e caracteriza-se por ser uma
repetição de padrões e vivências infantis, que ao invés de serem recordadas
pela fala, são repetidas através de atos.
Em seu trabalho" Recordar, Repetir e
Elaborar" Freud explica que em situações nas quais o paciente não
recorda lembranças, as quais foram esquecidas e recalcadas, poderá manifestar
esse conteúdo inconsciente como uma ação que repete inúmeras vezes sem se dá
conta. Assim sendo, o analisando traz ao tratamento uma gama de ações
repetitivas, às quais está preso, em função de ser naquele momento, a sua
possível maneira de recordar.
Podemos entender o acting out como
repetições de experiências recalcadas do passado, as quais não encontrando
representação verbal, como também não tendo força para conter a pulsão da sua
manifestação, descarrega, tardiamente, mediante atos, impulsos reprimidos tais
como medos, culpas, raivas, atitudes inúteis, traços patológicos... do
período da infância. Esses então são experienciados, no presente, onde são
reeditados e atualizados.
O aparecimento do acting out, tanto na
sessão, como fora dela, pode ser compreendido como uma resistência do
analisando no decorrer do processo transferencial, do paciente com o analista.
Desta forma podemos dizer que, o acting out é o resultado da vivência da
neurose de transferência.
São entendidos como acting out alguns
comportamentos dos pacientes tais como: faltas às sessões, frequentes atrasos,
esquecimentos, silêncios, dificuldades em pagar as sessões...Padrões
comportamentais que precisam ser ampla e cuidadosamente escutados, observados e
trabalhados conjuntamente pelo par analítico.
A Psicanálise compreende essas atuações do
analisando como uma representação da posição do analisando em relação ao seu
gozo. Todavia, observa que o acting out reforça ao analista a
necessidade de contextualizar essa ação do paciente como um pedido de
interpretação que tem como direção o próprio analista.
Cabe ao psicanalista, diante da sua
responsabilidade em relação ao manejo clínico transferencial observar e
trabalhar atenciosamente,(profissional e paciente) adequando, reciprocamente,as
pontuações, dúvidas, interpretações, silêncios e descobertas.
No processo psicanalítico, o
profissional segue no sabendo que dirige o tratamento( não o
analisando) em um caminho que propicia a esse uma reconstrução
gradativa dos seus conteúdos mentais, psicológicos e ações para um padrão de
comportamento mais saudável; facilita dessa forma, ao paciente, o
surgimento da sua verdade dentro do conhecimento e da compreensão do seu desejo
enquanto sujeito singular no contexto da sua historicidade.
Lígia Maria Bezerra de Oliveira- terapeuta de
casal,família e psicanalista.