quarta-feira, 28 de março de 2012

Terapia Familiar com Crianças








Pai e mãe chegam ao consultório trazendo como principal queixa as dificuldades do filho João de oito anos. É João que complica, não obedece, frustra, magoa... No pedido de ajuda o olhar se fixa em um único ponto: o problema do filho. O que mais precisa ser olhado?
 
No início da terapia o terapeuta familiar procura acolher e explorar a fala dos  pais indo passo a passo ampliando a visão dos mesmos sobre  o contexto,  perguntando sobre  sentimentos, significados, pensamentos, comportamentos e fatos mais concretos, voltados nesse momento, um pouco mais para o filho. Investe-se em uma exploração minuciosa sobre o filho "problemático". É necessário ouvir e respeitar a postura dos pais, e com habilidade ir os fazendo avançar na compreensão que o sintoma da criança é a forma que ela encontra para denunciar seu sofrimento e também os tramas familiares.
 
É fundamental um acolhimento das condições de sofrimento desses pais e do filho, mediante o estudo de fatores tais como: início dos sintomas, frequência, intensidade, relacionamento familiar, social, afetivo, escolar, etc..
 
A Terapia Familiar com crianças procura dimensionar a mesma atenção  à fala dos pais e a do filho. Uma função terapêutica essencial é trazer essas falas para serem entendidas mediante relação com a estrutura e dinâmica familiar e conjugal ( como se encontra o relacionamento do casal?). É importante trabalhar junto à família os conflitos familiares  que estão "invisíveis" ou não falados e que sustentam o conflito explícito.
 
Na Terapia familiar o processo é encaminhado para o olhar de todos os familiares ir sendo construído dentro de uma perspectiva  de conjunto, e não mais como  se somente um membro familiar fosse o único responsável pelos problemas familiares.
Com a participação das crianças o terapeuta necessita aprimorar suas habilidades e linguagem ( falar bem o criancês), e entender  as características de cada idade infantil.
A inclusão da criança "sintomática" na terapia permite transformar a criança falada em criança falante, dando a portunidade a todos, inclusive a própria criança, de poder expor seus sentimentos e comportamento.
 
Nessa fase o terapeuta investe em recursos lúdicos, com o objetivo de transformar o local em um espaço acolhedor onde a criança se perceba como apenas mais um membro familiar e que todos estão ali juntos procurando se unir para melhorar o relacionamento.
 
Os recursos terapêuticos utilizados são: jogos, livros de história, fantoches, revistas, recortes, colagens, desenhos, gravuras, expostos e escolhidos pelos familiares.  Trabalha-se em algumas ocasiões de forma espontânea e em outras obedecendo a um certo direcionamento, possibilitando a todos uma maior interação dentro de um clima de prazer possível.
 
Através desses recursos podemos observar, identificar e trabalhar dentro da dinâmica familiar fatores tais como: competição, rivalidade, afetividade, distanciamento, ousadia, medo, passividade , liderança, submissão, hierarquia, regras , limites, possibilidades, alianças, aberturas, fechamentos...
Mediante o trabalho lúdico, a família terá oportunidade de vivenciar  e falar, conjuntamente, sobre suas   necessidade e  seus desejos ainda não falados, tanto de forma individual como familiar.

 Esse caminho ainda reune condições para um processo tão importante na terapia familiar que é o desenvolvimento do conversar familiar, o qual permite à família a construção de novas leituras, compreensão das diferenças e criação de novos limites e possibilidades.

                         Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal

Obs- Esse texto teve como base o artigo: A Importância da Participação de Crianças na Terapia Familiar- Maria Aparecida Crepaldi- Professora Adjunto do Depto. de Psicologia da UFSC.

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