Supervisão Psicanalítica I
Reverso vol.34 número, Belo Horizonte, dezembro de 2012
Sobre a supervisão- On supervision
Eliane Rodrigues Pereira Mendes
Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.
Resumo do artigo- Observações Importantes.
O artigo Sobre a Supervisão de
Eliane Rodrigues pontua acerca do olhar à prática da Supervisão dentro da
Psicanálise.
Ao mesmo tempo em que o texto
registra a Supervisão como tema polêmico, reforça a necessidade de um maior
estudo e fundamentação teórica sobre o assunto mediante movimentos que ampliem
suas abordagens e campo de ação.
É necessário compreender o grande
valor da Supervisão que junto aos seminários clínicos (pressupostos teóricos) e
a análise pessoal formam a base do tripé da transmissão, teoria e prática da
Psicanálise.
O artigo demonstra que é essencial que sejam
desenvolvidas mais pesquisas acerca do tema Supervisão em Psicanálise e que os
psicanalistas procurem ter como postura profissional o conhecimento de pontos
importantes tais como:
O que vem a ser a Supervisão.
Em que bases aconteceram a sua
origem e seu desenvolvimento.
Quais seriam as necessidades do
analista ir à busca do olhar de outro profissional para melhorar a sua prática.
Resultados teóricos e concretos
da Supervisão.
Relevância da Supervisão ao
processo psicanalítico como um todo.
A origem da Supervisão, em um
modelo mais formal e organizado aconteceu por volta de 1920, em Berlim, através
do trabalho dos psicanalistas Karl Abrahan e Max Eitingon diante da observação
da fragilidade que alguns novos analistas apresentavam ao término da sua
análise pessoal, na ocasião em que começavam o atendimento como psicanalista.
Alguns desses novos apresentavam
um visível sentimento de desamparo.
Anterior a esse período já
acontecia alguns movimentos, menos formais, de analistas no sentido desses irem
buscar conversas e trocas com outros psicanalistas sobre seus atendimentos no
viés mais direcionado à forma do fazer psicanalítico.
Podemos citar como exemplo o
próprio Freud e a sua grandiosa correspondência endereçada a Fliess, as quais
tratavam em seus relatos trabalhos desenvolvidos com clientes de Freud como
também escritos sobre a autoanálise desse último.
No ano de 1920, em Berlim, foi
criado o Centro de Formação Psicanalítica, clínica referência em Psicanálise.
Nessa instituição a Supervisão tem sua
presença dentro de uma organização de ensino e prática, mais voltada ao
objetivo de controle aos analistas menos experientes, no sentido de agir mais
diretamente como forma de evitar e diminuir os riscos que os novos
psicanalistas poderiam correr na sua prática inicial. Essa postura sofreu
múltiplas críticas até mesmo dos próprios analistas responsáveis pela Supervisão.
A IPA, International
Psjchoanalytic Associaton, apresentava uma regra à prática clínica do psicanalista:
necessidade do profissional ser supervisionado como também precisar receber uma
autorização expressa dada por uma comissão, para poder clinicar, posição que
causou muitas dúvidas e questionamentos a muitos psicanalistas naquela época.
Diante desses impasses a Clínica
Psicanalítica da Hungria ( Sandor Ferenzi) apresenta o exercício da Supervisão
como “um instrumento para analisar a contratransferência do candidato a
psicanalista... A contratransferência se define como um conjunto de
manifestações do analista relacionados comas transferências do seu paciente”(
ROUDENESCO,1988,p.133).
Na segunda década do século XX,
Lacan faz nascer a Escola Freudiana de Paris, EFP aprofunda seu olhar sobre a
Psicanálise e dentro dessa, a Supervisão. Rompe com o IPA e procede as
transformações significativas nas regras psicanalíticas, como ainda explora
diversas formas de tratamentos, seminário, supervisões. Tal postura lacaniana
denuncia o seu desejo de criar uma instituição “verdadeiramente freudiana que
preservasse a liberdade e a política do inconsciente”.
Os membros da referida Escola
poderiam escolher livremente os seus analistas, não teriam como imposição o
divã, e não precisariam ser autorizados por uma instituição para o seu
exercício da clínica.
É essencial salientar que Lacan
defendeu a importância de se resguardar o sentido de autonomia do psicanalista
“para autorizar-se por sua formação e, ainda registra sobre a importante e a
fecunda passagem do analisando para analista.
Os múltiplos questionamentos
direcionados ao modelo de Supervisão lacaniano trouxeram rompimentos no cerne
da própria EFP, o que ocasionou a fundação de novas associações, regras e
formatos de Supervisão psicanalítica.
Diante desse momento surge o
modelo de Análise Quarta, proposto por Valabrega composto quatro seguintes
elementos, daí o nome Análise Quarta:
O analista- o próprio
supervisionando;
Seu paciente;
O analista do analista;
O supervisor.
Segundo Valabrega existe uma
“zona surda” que acontece desde o início da análise entre analista e analisando,
a qual poderá trazer influências à contratransferência do analisando quando em
posição de analista.
A Análise Quarta teria como
direção a prevenção dessa surdez em relação a si própria, como ainda poder
explorar o não conhecimento dos conteúdos latentes que atuam diretamente na
relação do analista com seu paciente.
Percebe-se assim o papel
relevante que a Supervisão tem à vivência psicanalítica dentro de uma ótica
mais ampla e não apenas compreende-la como formas de monitoramento e controle.
Quinet (2009, p, 125) compreende
a Supervisão como uma “superaudição” do caso do analisando e do analista na
qual acontece uma “ouvidoria psicanalítica” onde o supervisor amplia a sua
escuta e visão para facilitar a leitura e a compreensão das estruturas e
dinâmicas do paciente, auxiliando ao supervisionando os conhecimentos
necessários ao encaminhamento do processo psicanalítico.
O artigo salienta a Supervisão
como um caminho que favorece ao supervisionando
uma melhor leitura das suas contratransferências e os passos que
precisam ser dados para a compreensão dos sentimentos que são do paciente, do
analista, aprendendo a realizar a aproximação e o distanciamento necessários a
vivência terapêutica como um todo.
A Supervisão pode ser
compreendida como um caminho voltado à formação, (essa entendida como contínua)
do analista, dentro de um viés didático, mas também singular, de acordo com a
subjetividade de cada caso.
Concluindo entendo que a
Supervisão Psicanalítica é uma prática na qual os profissionais aprendem a
aprender, como bem fala Coutinho Jorge: “Um lugar de articular o saber, pelo
qual se revitaliza a experiência clínica e reabre-se o seu campo particular de ação”.
2015
Lígia
Maria Bezerra de Oliveira- julho