sábado, 13 de agosto de 2016

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                                                               Supervisão Psicanalítica I


Reverso vol.34 número, Belo Horizonte, dezembro de 2012

Sobre a supervisão- On supervision

Eliane Rodrigues Pereira Mendes

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.


Resumo do artigo-             Observações Importantes.


O artigo Sobre a Supervisão de Eliane Rodrigues pontua acerca do olhar à prática da Supervisão dentro da Psicanálise.

Ao mesmo tempo em que o texto registra a Supervisão como tema polêmico, reforça a necessidade de um maior estudo e fundamentação teórica sobre o assunto mediante movimentos que ampliem suas abordagens e campo de ação.

É necessário compreender o grande valor da Supervisão que junto aos seminários clínicos (pressupostos teóricos) e a análise pessoal formam a base do tripé da transmissão, teoria e prática da Psicanálise.


 O artigo demonstra que é essencial que sejam desenvolvidas mais pesquisas acerca do tema Supervisão em Psicanálise e que os psicanalistas procurem ter como postura profissional o conhecimento de pontos importantes tais como:


O que vem a ser a Supervisão.

Em que bases aconteceram a sua origem e seu desenvolvimento.

Quais seriam as necessidades do analista ir à busca do olhar de outro profissional para melhorar a sua prática.

Resultados teóricos e concretos da Supervisão.

Relevância da Supervisão ao processo psicanalítico como um todo.


A origem da Supervisão, em um modelo mais formal e organizado aconteceu por volta de 1920, em Berlim, através do trabalho dos psicanalistas Karl Abrahan e Max Eitingon diante da observação da fragilidade que alguns novos analistas apresentavam ao término da sua análise pessoal, na ocasião em que começavam o atendimento como psicanalista.

Alguns desses novos apresentavam um visível sentimento de desamparo.

Anterior a esse período já acontecia alguns movimentos, menos formais, de analistas no sentido desses irem buscar conversas e trocas com outros psicanalistas sobre seus atendimentos no viés mais direcionado à forma do fazer psicanalítico.

Podemos citar como exemplo o próprio Freud e a sua grandiosa correspondência endereçada a Fliess, as quais tratavam em seus relatos trabalhos desenvolvidos com clientes de Freud como também escritos sobre a autoanálise desse último.

No ano de 1920, em Berlim, foi criado o Centro de Formação Psicanalítica, clínica referência em Psicanálise.

 Nessa instituição a Supervisão tem sua presença dentro de uma organização de ensino e prática, mais voltada ao objetivo de controle aos analistas menos experientes, no sentido de agir mais diretamente como forma de evitar e diminuir os riscos que os novos psicanalistas poderiam correr na sua prática inicial. Essa postura sofreu múltiplas críticas até mesmo dos próprios analistas responsáveis pela Supervisão.

A IPA, International Psjchoanalytic Associaton, apresentava uma regra à prática clínica do psicanalista: necessidade do profissional ser supervisionado como também precisar receber uma autorização expressa dada por uma comissão, para poder clinicar, posição que causou muitas dúvidas e questionamentos a muitos psicanalistas naquela época.

Diante desses impasses a Clínica Psicanalítica da Hungria ( Sandor Ferenzi) apresenta o exercício da Supervisão como “um instrumento para analisar a contratransferência do candidato a psicanalista... A contratransferência se define como um conjunto de manifestações do analista relacionados comas transferências do seu paciente”( ROUDENESCO,1988,p.133).

Na segunda década do século XX, Lacan faz nascer a Escola Freudiana de Paris, EFP aprofunda seu olhar sobre a Psicanálise e dentro dessa, a Supervisão. Rompe com o IPA e procede as transformações significativas nas regras psicanalíticas, como ainda explora diversas formas de tratamentos, seminário, supervisões. Tal postura lacaniana denuncia o seu desejo de criar uma instituição “verdadeiramente freudiana que preservasse a liberdade e a política do inconsciente”.

Os membros da referida Escola poderiam escolher livremente os seus analistas, não teriam como imposição o divã, e não precisariam ser autorizados por uma instituição para o seu exercício da clínica.

É essencial salientar que Lacan defendeu a importância de se resguardar o sentido de autonomia do psicanalista “para autorizar-se por sua formação e, ainda registra sobre a importante e a fecunda passagem do analisando para analista.

Os múltiplos questionamentos direcionados ao modelo de Supervisão lacaniano trouxeram rompimentos no cerne da própria EFP, o que ocasionou a fundação de novas associações, regras e formatos de Supervisão psicanalítica.

Diante desse momento surge o modelo de Análise Quarta, proposto por Valabrega composto quatro seguintes elementos, daí o nome Análise Quarta:

O analista- o próprio supervisionando;

Seu paciente;

O analista do analista;

O supervisor.

Segundo Valabrega existe uma “zona surda” que acontece desde o início da análise entre analista e analisando, a qual poderá trazer influências à contratransferência do analisando quando em posição de analista.

A Análise Quarta teria como direção a prevenção dessa surdez em relação a si própria, como ainda poder explorar o não conhecimento dos conteúdos latentes que atuam diretamente na relação do analista com seu paciente.

Percebe-se assim o papel relevante que a Supervisão tem à vivência psicanalítica dentro de uma ótica mais ampla e não apenas compreende-la como formas de monitoramento e controle.

Quinet (2009, p, 125) compreende a Supervisão como uma “superaudição” do caso do analisando e do analista na qual acontece uma “ouvidoria psicanalítica” onde o supervisor amplia a sua escuta e visão para facilitar a leitura e a compreensão das estruturas e dinâmicas do paciente, auxiliando ao supervisionando os conhecimentos necessários ao encaminhamento do processo psicanalítico.

O artigo salienta a Supervisão como um caminho que favorece ao supervisionando  uma melhor leitura das suas contratransferências e os passos que precisam ser dados para a compreensão dos sentimentos que são do paciente, do analista, aprendendo a realizar a aproximação e o distanciamento necessários a vivência terapêutica como um todo.

A Supervisão pode ser compreendida como um caminho voltado à formação, (essa entendida como contínua) do analista, dentro de um viés didático, mas também singular, de acordo com a subjetividade de cada caso.

Concluindo entendo que a Supervisão Psicanalítica é uma prática na qual os profissionais aprendem a aprender, como bem fala Coutinho Jorge: “Um lugar de articular o saber, pelo qual se revitaliza a experiência clínica e reabre-se o seu campo particular de ação”.

2015
Lígia Maria Bezerra de Oliveira-     julho

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Terapia de Casal- Quando Terminar ou Seguir com o Relacionamento






O livro Terapia Cognitiva com Casais de Datillio e Padesky, em seu sexto capítulo, traz a seguinte pergunta: "Como um terapeuta sabe que um relaciona deve terminar"?

Explica o texto, adiante, que a decisão da separação ou da união conjugal, apenas, tem como autores os cônjuges.

A leitura nos faz refletir acerca da necessidade dos terapeutas, quando em atendimento com casais em conflito, desenvolver um olhar curioso e atento junto ao par, no sentido de aprofundarmos o conhecimento sobre a construção da relação disfuncional, como ainda, à postura metodológica e epistemológica do terapeuta.

Dentro do processo, o profissional não deve se apoiar  nas questões, somente, trazidas no início da terapia e  na pressa do casal, ou de um parceiro mais imediatista, em querer resolver o futuro do relacionamento. 

Os casais,na maioria da situações, chegam ao consultório carregados de conflitos, culpas, acusações, falta de esperança, frustrações pelas alternativas já tentadas...E não são raras as ocasiões nas quais  o casal, ou apenas um dos parceiros, traz a vontade para que esses sofrimentos acabem logo; para tal vislumbram uma separação sem momentos de reflexão mais calmos. O mesmo argumento também é pertinente aos casais que desejam a continuidade da relação sem a reflexão necessária. Tal atitude do par pode estar a serviço de conclusões pouco aprofundadas, tanto para seguir o casamento quanto para a separação.

Torna-se essencial que o terapeuta trabalhe junto aos parceiros na visualização dos seus pontos cegos, mediante a leitura mútua dos impasses, como também dos seus recursos.

É importante que a atitude terapêutica desperte nos cônjuges a motivação para avançar no entendimento que um passo imprescindível  na   identificação e compreensão do seu relacionamento,  é a definição cooperativa dos seus principais problemas, sentimentos atitudes, crenças... descobertas básicas para o seguimento da terapia.

Segue o processo em uma linha de trabalho voltada à busca do entendimento ao casal das suas principais crenças, as quais atuam negativamente e positivamente na relação conjugal.  

Um vez identificadas e explorados os significados dessas crenças, o terapeuta junto aos clientes irão  seguir na criação de um plano de ação de tratamento, para ajudar ao par  a rever na prática as crenças e as evidências que estão segurando comportamentos não saudáveis ao relacionamento.

Outro momento valioso na terapia se traduz na construção pelo casal dos fatores prós e contras da decisão a ser tomada, levando o casal a refletir acerca da sua vida dentro e fora do casamento.

Após a análise de várias situações vivenciadas na história  de vida a dois, a decisão da continuidade ou ruptura do casamento é escolha que diz respeito ao casal.

Ao terapeuta cabe a postura de acolhimento do sofrimento conjugal, facilitar a busca das razões e sentimentos envolvidos nesse caminho, e  auxiliar, cooperativamente, na busca das alternativas mais saudáveis do caminho a seguir, seja esse com o casal andando de mãos dadas ou separadas.

        Ligia Oliveira- Terapeuta de casal,  família e psicanalista.

Base de leitura para o texto.
Terapia Cognitiva Com Casais- Frank M. Dattilio, Christine A. Padesky, 1995,Artemed