HOMOAFETIVIDADE E FAMILIAR FAMILIAR
Esse texto é fruto de reflexões acerca da homoafetividade baseada em referências teóricas e
casos clínicos,os quais trabalhei em
consultório. Deixo claro a necessidade de nós terapeutas familiares
sistêmicos investirmos mais em estudo e trocas de experiências com
outros profissionais e famílias, com objetivos voltados a um melhor
aprofundamento do nosso entendimento e do entendimento do outro, em
relação aos significados do comportamento afetivo, cognitivo, emocional
e social, individuais e familiares.
Compreendo que
também é significativo a leitura da homoafetividade dentro de uma
abordagem histórico cultural na qual possamos ampliar o conhecimento das
diversas fases de interpretação que essa orientação sexual recebeu ao
longo do tempo e suas diversas consequências no contexto individual,
familiar e comunitário.
No
livro Novas Abordagens da Terapia Familiar de Mcgoldrick, 2003, no
capítulo 24 o qual fala sobre a homoafetividade, a autora faz a seguinte
afirmação:
"É
a família que transmite valores, crenças, e um sentido de ação, assim
como um modelo, para o relacionamento. A família também é o principal
transmissor das atitudes culturais, habituais, assim como das atitudes
em relação a essas atitudes. Dentro dessa família os homens gays e as
mulheres lésbicas lutam para estabelecer uma identidade pessoal que vai
contra a identidade da família".
É
essencial que nós terapeutas familiares possamos ampliar nosso foco
mediante o entendimento das múltiplas visões, tanto da família que
sofre, naquele estágio, por não compreender a homoafetividade de um dos
seus membros, como da ansiedade do familiar homoafetivo que busca uma
melhor compreensão da sua orientação sexual.
Uma função
significativa aos terapeutas que desenvolvem trabalho com cliente
homoafetivo é investir na abertura de um clima que facilite o complexo
caminho de diferenciação da sua identificação gay e lésbica.
Em
relação aos pais observamos que precisamos trabalhar,
gradualmente, o execício voltado ao autoreconhecimento da
homoafetividade do seu filho (a).Essa dinâmica deve se basear, antes de
tudo, no respeito e acolhimento dos sentimentos de todos os envolvidos,
todavia também, em um olhar abrangente que procura junto à família rever
crenças culturais, religiosas e culturais cristalizadas, e juntos
caminhar na desconstrução da idéia que a homoafetividade é patológica.
Assim
sendo, avaliamos que um papel básico incial da terapia é ver a crise
presente, naquele ciclo, como uma resposta familiar possível, olhá-la de
frente, explorar os seus múltiplos significados e instrumentalizar a
família como um todo, identificando suas possibilidade e limitações.
Entendemos
que reforçar a prática sistêmica na direção da compreensão da
reciprocidade das partes envolvidas no trabalho terapêutico envolve,
entre outros, a atenção aos seguintes pontos:
. A
família necessita de um tempo cronológico e emocional relativo ao
sentimento da perda dos sonhos e projetos voltados ao filho homoafetivo;
. A vivência do homoafetivo passa por fase de negação, ambivalência,
tentativas sofridas de experiências heterossexuais, períodos de raiva,
medo, ódio, depressão, até assumir seu self homoafetivo. Muitos, mesmo
após a revelação, ainda vivem dentro de uma conspiração própria de
segredo;
. Sofrimento emocional e psicológico do
sistema familiar por muito tempo e a percepção que o processo de
autoconhecimento que antecede a revelação é muito complexo;
.
A revelação traz junto uma grande insegurança ao homoafetivo pelo medo
da perda do apoio familiar; na maioria das vezes a revelação tem um alto
preço.
. Revelação como meio de favorecer, por parte
do homoafetivo, a autonomia da sua vida, investir na autoestima, como
ainda facilitar condições para a melhoria do isolamento social;
.
O membro homoafetivo deverá ser encorajado ao entendimento das
possibilidade e limites dos pais, sendo explicado a necessidade do
cultivo da paciência e empatia pelo sistema parental;
.
Acolhimento aos pais a exporem suas lamentações, seus conflitos pelas
expectativas perdidas e não compreendidas em relação aos filhos e ao
mito da família"normal";
. Muita vezes a revelação da
homoafetividade de um dos filhos pode vivenciar um processo carregado de
culpa, rejeição, vergonha. Alguns pais alimentam um movimento de
racionalização, "acreditando" ser só uma fase do filho e tentam, ao
máximo, mudar a orientação sexual do filho(a).
. Após a
revelação da homoafetividade o relacionamento familiar poderá
desenvolver os seguintes comportamentos em relação ao familiar
homoafetivo:
Distanciamento afetivo, físico e emocional;
Invisibilidade;
Não aceitação e conflitos constantes;
Aceitação restrita e contrato de silêncio para os não familiares;
Aceitação e aproximação gradual da homoafetividade.
A
Terapia Familiar trabalha no sentido de junto com a família rever e
transformar suas interações em formas mais claras e positivas de
comunicação. Procuramos investir na família mais voltados aos processos
familiares, ajudando-os na ressignificação dos seus significados.
Empreendemos
esforço para que a família fortaleça uma maneira mais efetiva e
afetiva de compreender suas diferenças e semelhanças, revendo que
algumas mudanças são frutos de caminhadas lentas e que há situações nas
quais não conseguimos mudar...Muito bom se ao darmos voltas juntos,
terapeutas e clientes possamos, passo a passo ir desconstruindo escutas
fechadas e esses novos significados facilitem construções de vida mais
plena.
OBS- Leia também, Terapia de casal com casais homoafetivos,-Recife, editado em julho de 2015
Lígia Oliveira - Terapeuta familiar, de casal e psicanalista
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