quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Terapia de Casal- Dificuldades/ Possibilidades


ilustração:tianinablogspot.com

Alguns estudiosos do comportamento humano defendem que a escolha do parceiro afetivo responde a anseios inconscientes, mais precisamente, na fase em que a criança  se "apaixona"pela mãe ou pelo pai.

Na conjugalidade, cada um dos parceiros leva para o interior  da relação suas heranças familiares, crenças, mitos, valores,  vitórias ,frustrações familiares...

Muitas dessas atitudes podem conter expectativas demasiadas como também crenças que aprisionam comportamentos negativos repetitivos, o que pode reforçar sérias dificuldades no relacionamento amoroso.

Assim sendo, surgem conflitos que, se não mais observados, colocarão em risco  a saúde afetiva do par.

É importante que haja a compreensão que muitos dos comportamentos desenvolvidos na relação conjugal, foram apreendidos e exercitados em vivências anteriores, sendo resultado dos seus construtos relacionais passados.

Quando o casal se esforça na compreensão dessas diferenças e investe em possíveis negociações,favorece a construção de uma conjugalidade baseada no olhar de três partes: o eu, o tu e o nós.

É importante reforçar que a atenção voltada, apenas, para as dificuldades sem possibilidade de compreensão e diálogo acerca dos motivos e posturas de cada um,  tem por base experiências respaldadas em comportamentos infantis e  egocentrados.

Sendo assim, as diferenças não olhadas trarão como consequências o distanciamento afetivo e a cristalização do sofrimento. Nesse caminho, a tônica presente é cada parceiro tentar convencer o outro das suas razões mais "certas", atribuindo ao outro a culpa pelos conflitos.

Facilita-se dessa forma, um ciclo ascendente de acusações onde o que importa é um vencer do outro e "provar" que tem a razão.

Quando esses casais procuram a terapia trazem uma grande carga  de ansiedade e mágoas pelas tentativas frustradas da melhoria do relacionamento.

A terapia de casal procura, primeiramente, acolher o sofrimento conjugal, como também o que cada parceiro reforça individualmente.

É essencial que o casal compreenda a necessidade da desconstrução das suas "disputas verbais",  e percorram, gradualmente,  estradas menos competitivas e mais cooperativas.

Mediante o aprendizado do exercício da fala e do ouvir, os parceiros terão condições de reverem suas motivações, emoções, crenças, padrões de comportamentos; processo lento e que pede paciência, inteireza dentro dos limites e possibilidades do casal.

O caminho seguinte trabalhará na clareza da influência do casal sobre os problemas compreendidos, favorecendo condições à mudança do comportamento, o que  dará chance a cada parceiro e ao sistema casal de vivenciar  suas conexões afetivas consigo mesmo e com os outros de forma mais saudável,

Lígia Oliveira- Terapeuta de casal / família e psicanalista

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Investir no Vínculo Conjugal



Tenho um livro que faço de "travesseiro" da autora Judith Viorstt: Perdas Necessárias. Com ele, sinto, choro, me alegro, questiono, sorrio, reflito, aprendo, transformo...E, principalmente, me sinto mais inteira com as lembranças que as mensagens do livro  acordam em mim.
No capítulo Amor e Ódio no Casamento parei inúmeras vezes para grifar, selecionar e reavaliar as emoções que o texto me despertavam, tanto como pessoa, como mulher, esposa e terapeuta de casal e familiar.

Reflete o texto que grande parte dos vínculos conjugais está sujeito à fortes pressões emocionais, as quais podem trazer  consequências nocivas( explícitas e ou silenciosas) à dinâmica relacional.

Observo no caminhar conjugal, tanto como terapeuta familiar, como dentro do casamento por mim vivenciado, que as dificuldades afetivas terão mais chance de acontecer e se manter, em função da criação e alimentação de um clima de cobranças, mediante expectativas muito romanceadas, projeções de sonhos infantis, e, da vivência, por parte do par, ou de um dos parceiros, da noção da complementaridade do casal, ainda hoje compreendida com uma leitura baseada na metáfora da "metade da laranja".

Como bagagem pesada e porta de entrada   para a criação de uma coleção de ressentimentos, aparece a ditadura conjugal, em relação ao outro do famoso "tem de ser".

Avalio que é necessário a redefinição conjugal dessas imposições,e, falo imposições, vez que na sua grande maioria são conceitos não conversados e pouco aprofundados, para que possam ser melhor trabalhadas as vivências individuais, semelhanças e diferenças, como ainda  a construção do nós conjugal.

Essencial a parada no sentido de se compreender, após o período de paixão, qual o clima de aproximação entre o casamento desejado e o conseguido; o sonhado e o possível. E não entendam essa minha fala como se o casamento fosse um lugar estéril de encantamento. Reflito que os encantamentos conjugais, ao longo dos anos, são fruto de sementes de conversas, desenvolvimento de respeito a conceitos,  diferenças e o trabalho direcionado a uma vivência afetiva, possível, mediante a experiência do enriquecimento de um viver de pertencimento do par ao mesmo tempo que valoriza a sua diferenciação.

Essencial aos parceiros as reflexões:  O que foi de sonho meu que coloquei como responsabilidade do  outro? O que posso rever para chegar um pouco mais próximo do desejo do outro e do meu? Onde eu e o outro trabalhamos dentro de uma postura amadurecida de complementaridade? O que posso e preciso mudar, manter, aceitar? Quais as repetições que insisto em fazer, que me aprisionam em um caminho de dor?  Ou que me liberam em um percurso mais voltado à coerência?Amadurecimento? Afetividade? Quais as repetições do outro? Em que pé anda o meu diálogo progressivo ou regressivo comigo mesmo e com o casamento?Como olho e ajo hoje, para o meu afeto, entrega, humor e o do nosso relacionamento conjugal?

Para tal, o processo de reflexão e reavaliação conjugal requer coragem para olhar de frente os desapontamentos,expectativas frustradas e idealizadas, avanços, recuos, paralisações, metas individuais e conjugais....

Quando o casal tem como motivação a continuidade do vínculo afetivo, tornar-se importante seguirem em um caminho voltado à criação de formas adultas de amor,( nessas também presente os sonhos) estrada essa que facilita a diminuição, gradativa de sentimentos narcisistas, egocentrados, tendo esses como  principais objetivos  "provar" que o eu tem razão, que estar certo...Esse "vício"comportamental precisa ser, aos poucos, desarmado, pois impede ao casal a se colocar no lugar do outro, como ainda cega os parceiros de enxergar formas complementares, diferentes de viver a vida, individual, familiar, conjugal...

Outro fator significativo ao caminho a dois, é reconhecer que um casamento amadurecido requer saber viver lado a lado com uma certa dose de ambivalência, imprevistos, limitações e possibilidades, e a postura diária da conscientização que a vida conjugal tem como dinâmica a mudança e a continuidade. Essencial a inclusão, das duas na vida como um todo.


Crescer com o casamento necessita um olhar atencioso individual e relacional , e o investimento na habilidade  de conseguir, dar e receber o que desejamos dentro dos limites das possibilidades, sem perder a vontade de seguir e ousar.


                           Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e familia