- Os texto sobre o tema da Infidelidade teve como
base de leitura o livro: As Múltiplas Faces da Infidelidade Conjugal, Luiz
Carlos Prado,pág,69 a 96,Porto Alegre, 2012.
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David Baucon (2009), terapeuta de casal e pesquisador do
tema Infidelidade, reforça a necessidade de compreensão aos clientes,
quando em Terapia de Casal, trazendo como demanda a traição afetiva, que o
processo terapêutico poderá acontecer dentro de um período mais amplo, vez
que as diversas fases do tratamento precisam ser bem exploradas e
compreendidas.
Segundo Baucon a terapia voltada à compreensão da
infidelidade conjugal pode ser dividida em tres momentos:
1- Fase na qual o casal precisa absorver o impacto da
descoberta. 2- Fase onde se trabalha a elaboração da vivência
traumática: Nesse ciclo o casal vai em busca de sentido para a infidelidade,
estabelecendo novas responsabilidades e propósitos de vida. 3- Fase
da vivência com o casal sobre o significado de levar a vida em frente,
seja pela continuidade da vida conjugal, ou a separação.
Observamos, tanto na teoria quanto na prática clínica, que a
fase da descoberta, caracteriza-se por ser de uma crise intensa, na qual estão
presentes sentimentos e comportamentos que se alternam como: mágoa, raiva,
culpa, surpresa, medo, desejo de vingança...
As emoções são muito fortes como também ambivalentes. Ao
mesmo tempo que se sente raiva, mágoa, pode vir o medo da separação, da
destruição do vínculo afetivo.
Torna-se difícil ao terapeuta caminhar buscando menos
reatividade, defesas, vez que as visões dos cônjuges estão tumultuadas pela
intensa carga afetivo- emocional, pela qual essa primeira fase está
passando.
Prado no seu livro As Múltiplas Faces da Infidelidade
Conjugal (2012), diz o seguinte:
" Em um primeiro momento o terapeuta deve
funcionar como um bombeiro que precisa apagar um incêndio...
Tirar de perto as pessoas que não estão ajudando e trabalhar
para apagar o fogo rapidamente".
É importante que o terapeuta fique atento e administre bem
as sessões, entendendo que muitas delas poderão ser mais longas e
frequentes, por se tratar de um período crítico.
Assim sendo, investe para que as conversas sejam
objetivas e claras como por exemplo: se os parceiro poderão ficar ou não
morando juntos, trabalhar para que o terceiro participante fique fora da
relação afetiva enquanto o processo terapêutico acontecer, serem acordadas
regras de convivência possíveis, objetivando a recriação do clima de confiança
relacional..
Outro fator essencial nessa primeira fase é a compreensão do
desenvolvimento de uma escuta e de um falar respeitoso, atuando o
terapeuta nesse estágio, de forma mais diretiva, fazendo intervenções para que
o casal saia do padrão de falas e atitudes destrutivas, da reatividade e
defensividade.
Poderá haver a necessidade de encaminhamento dos cônjuges,
ou de algum deles, para especialista, quando é avaliada a necessidade de
estratégia medicamentosa.
Existem casos( menos comuns) nos quais o cônjuge infiel não
opta por abandonar a terceira pessoa. Pouquíssimos são os casais que aceitam
essa situação. O terapeuta precisa trabalhar com o parceiro infiel no sentido
de que esse resolva a situação, em um tempo mais breve possível, pois a
situação do segredo será danosa e poderá comprometer a confiança do processo...
Na grande maioria do processo terapêutico, essa
primeira fase da terapia é permeada por ondas de descontrole, que exigem do
profissional postura acolhedora, mas também mais firme, um olhar mais
atento para aprender a administrar atitudes de agressividade,
silêncios, revolta... Após a vivência dos momentos mais conflituosos, quando da
descoberta da infidelidade, e, parte das emoções mais fortes terem sido
exploradas, reconhecidas e compartilhadas, as ações terapêuticas caminham
para um ciclo mais focado na elaboração da situação conjugal.
Nesse período, terapeuta e casal, procuram falar sobre
o contexto conjugal antes da infidelidade acontecer, explorando os
múltiplos fatores e suas interrelações, como ainda reavaliando a compreensão de
cada um acerca da sua contribuição em relação à infidelidade.
É essencial o desenvolvimento de um olhar mais profundo ao
clima relacional, mediante a compreensão de indicadores como conversa
entre os parceiros, intimidade, proximidade afetiva, projetos comuns, vida
individual, companheirismo, respeito...
É necessário a abordagem terapêutica levar os parceiros
a ampliarem o entendimento do sentido da infidelidade, mediante a
compreensão de que a mesma aconteceu na relação. Assim sendo, o
olhar conjugal deverá entender que a infidelidade não é
responsabilidade apenas do parceiro participante.
Dentro dessa ótica, o companheiro magoado
poderá estudar também seus momentos e atitudes que tenham contribuído ao
afastamento conjugal
Em relação ao parceiro infiel, esse deverá falar com clareza
acerca da sua participação, mediante avaliação das suas experiências, valores,
heranças familiares, modelos relacionais.... Esse trajeto poderá trazer à tona,
sentimentos e falas nunca antes revelados tais como: abusos, sentimentos
de abandono, desvalia... os quais poderão auxiliar à leitura do quadro
relacional.
"Quanto ao terceiro parceiro participante, é
importante que o casal tenha uma atitude firme e decidida de procedimento e
estabeleça limites claros em relação a ele, para manter o parceiro afastado...
Quando se mostrar muito insistente pode ser que precise de atitudes mais
drásticas como buscar medidas judiciais, exigir o afastamento, mudar de
bairro..."( Prado, 2012)
Trabalhados os diversos aspectos da infidelidade, a terapia
deverá se encaminhar para a fase do processo de escolha e decisão dos cônjuges:
Se a decisão é separar ou continuar o vínculo conjugal.
Caso a escolha recáia sobre continuarem juntos, deverão
ser conversadas e acordadas as principais mudanças que irão beneficiar o
contexto e vivência da vida a dois.
Sendo a decisão voltada à separação, é função do
terapeuta ajudar aos ex-cônjuges na compreensão
de que também podem andar por esse caminho, de uma forma mais
construtiva.
Lígia Oliveira-
Terapeuta de Casal, Família, Sexual e
Psicanalista.
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