terça-feira, 23 de abril de 2013

Diálogo- Exercício de Afeto e Aproximação




No seu livro, E Foram Felizes Para Sempre, McMilliam (2001) reforça a importância à vivência ao diálogo para a funcionalidade da relação conjugal.
Dialogar,conversar, implica tanto falar como escutar e o gestual, dando esse último, a um observador atento, a dimensão do que se pode entender além das palavras.

Dialogar não pressupõe que os participantes concordem, pois aprender a conviver com a diversidade de pensamentos e crenças é uma das maiores e difíceis funções do conversar.
Um fator indispensável ao dialogo é o ouvir. Ser ouvido favorece uma postura de respeito, acolhimento, abertura e reflexão às pessoas envolvidas. Aprender a ouvir é um execício árduo com raízes no afeto e na disciplina  do cotidiano.

Na prática clínica com os casais, observamos que o diálogo não avança, na sua essência, entre os cônjuges, pois na maioria das vezes, os casais em conflito , tem como postura a  de enquanto um fala o outro apenas espera o momento do revide alimentanto, repetitivamente, esse padrão. E não existindo comunicação saudável haverá um contínuo distanciamento gerador de mágoas, ressentimentos que adoecerá a relação.

O vínculo amoroso requer que o casal invista em uma conversa íntima e clara, vez que estarão, constantemente, tendo que negociar novos padrões, relacionamentos com o par e outros subsistemas: pais, irmãos, amigos ...Além disso, o diálogo facilita a expressividade emocional do casal.

A conjugalidade exige que duas pessoas renegociem, cooperativamente, uma infinidade de situações que definiram para si antes, mediante a aprendizagem de modelos familiares e do contexto social tais como: espaço, individualidade, uso do dinheiro, lazer, tempo, papéis, responsabilidades...
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É também pelo exercício de uma comunicação saudável que os parceiros compreendem suas possibilidades, limitações, desconfortos, tensões, alterantivas de solução, sentimentos, movimentos esses  que fazem parte do processo de diferenciação daquilo que é do casal e de base individual.
É no diálogo que os cônjuges percebem e desenvolvem oportunidades de trocar, interagir e formar uma terceira dimensão.
O conversar é a matriz da célula da boa comunicação. Assim sendo, para uma mais ampla compreensão sobre o diálogo conjugal, transcrevo algumas observações que Ricota, no seu livro O  Vínculo  Amoroso (2002) escreveu acerca dos cuidados na forma de se comunicar entre os cônjuges:

" Prestar atenção na forma de se comunicar ( entonação,expressão, gestos ); pois se voce tem queixas de ser mal compreendido depois de comunicar-se, talvez algo esteja confuso, um tipo de ruído na comunicação de voces, " na forma de comunicar-se", "na foma do outro receber o que voce comunica", "na forma do companheiro falar consigo", e também  "na forma de voce receber e entender o que o outro realmente quer dizer".

Importante realçar o diálogo como um processo tangível, não idealizado, contudo como uma motivação amadurecida de  aprender a conversar consigo e com o outro sobre o que se sente, o que se quer, não quer, o que se pensa, o que se precisa, o que se pode e as suas respectivas negociações possíveis.
 

Reflexão:
Qual a dificuldade e a facilidade que voce considera mais significativa na sua comunicação conjugal?
Onde voce colabora nessa dificuldade? Onde facilita o diàlogo?
O que voce precisa mudar para dialogar de forma mais saudável?

                                  Lígia Oliveira - Terapeuta de casal e família

          

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Processo do Divórcio- Parte Tres- Participação da Terapia Conjugal




Continuação da Parte Dois

Na terapia de casal quando um dos parceiros procura por ajuda em função de querer tomar uma decisão de separação é essencial que o terapeuta explique para ele a necessidade e importância da participação dos dois nesse processo.
O objetivo da terapia, nesse início, é proporcionar aos dois, uma melhor clarificação da situação conjugal, mediante a exploração das causas dessa tomada de decisão.
É importante salientar que a intenção terapêutica tem como foco tornar mais lenta e cuidadosa essa etapa, para que os parceiros tenham condições de aprofundar seus motivos, sabendo todos, que a responsabilidade das decisões compete apenas ao casal, uma vez que o papel da Terapia Conjugal é facilitar o diálogo, vez que não casa nem descasa ninguém
Assuntos como a participação de cada um, nas dificuldades que levaram aos conflitos, são bem conversados, nessa etapa da terapia, como ainda diálogos que tenham como objetivo perguntas que explorem o futuro. Esses quetionamentos visam ampliar a compreensão do casal no que concerne às consequências de uma separação e também da continuidade do vínculo.
Os casais são singulares. É dentro dessa singularidade que a terapia conjugal trabalha, construindo junto aos clientes suas alternativas de solução.
Em alguns casos,o o terapeuta poderá orientar uma "separação experimental"(MacGoldrick,316), sem implicação legal, visando acalmar os conflitos, e favorecer um olhar menos reativo. Para tal, é preciso que seja acordado com o casal um tempo determinado para esse distanciamento, como também no final do período, seja realizada uma conversa clara e avaliativa a respeito do caminho a seguir.
Uma outra postura terapêutica, que poderá ajudar a melhor compreender os passos a serem dados pelo casal em crise, é o encaminhamento a um mediador conjugal.
A mediação requer que o casal se encontre com uma terceira parte, o mediador, para discutir e negociar alguns ou todos os temas pertinentes à separação, podendo os dois ex-cônjuges participarem na criação dessas alternativas, em vez de repassarem essa etapa para um advogado.
Quando o casal procura a terapia, com a decisão já acertada, o principal norte terapêutico é priorizar assuntos pertinentes a essa etapa tais como: prática da educação dos filhos, arranjos financeiros, relacionamentos com outros familiares da família ampliada, formato da guarda dos filhos, e, essencialmente, investir em formas de comunicação que facilitem as novas realidades que vêm com o divórcio.
Para tal, é necessário que o terapeuta acompanhe as etapas, desse sofrido processo, ajudando os ex- parceiros na facilitação e compreensão das suas escolhas, decisões e consequências,  como ainda lembrando aos pais a necessidade de manter a colaboração e o desenvolvimento dos seus papéis parentais, como pais que priorizam a saúde emocional e afetiva dos seus filhos.
Nós terapeuta familiares sabemos como esse caminho requer habilidades em relação à vivência terapêutica de uma "neutralidade possível," na qual o profissional não se alie a nenhum dos parceiros, ao mesmo tempo que, tecnicamente,se vincule, em alguns momentos, a cada um dos sus membros.
De forma prática e geral avalio que um dos principais objetivos  terapêuticos do processo do divórcio é a exploração compartilhada e efetiva da maneira pela qual o ex-casal vai administrar suas necessidades emocionais, individuais, grupais, parentais, conjugais, financeiras e reorganizar seus múltiplos papéis, funções e relacionamentos...
Esse percurso tem como estrada maior favorecer aos exparceiros a visão e o entendimento das várias etapas desse ciclo, motivando condições possíveis do ex casal, seus filhos e familiares se tornarem participantes mais ativos na criação de uma forma de viver mais saudável.
                            Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e família

Base para o texto: As mudanças no ciclo da vida familiar- Uma estrutura para a terapia familiar- Monica MacGoldrick, Porto Alegre, Artmed, 1995

terça-feira, 16 de abril de 2013

O Processo do Divórcio- Parte Dois




Continuação da Parte Um

No decorrer do processo do divórcio, independente de quem pediu a separação, cada ex- cônjuge passa por situações de crise emocional, vivenciando uma espiral temporária de altos e baixos.
Um momento significativo acontece quando a separação é compartilhada para toda a sociedade e quando  os ajustes da Justiça são iniciados. É comum, nessas situações, um aumento dos conflitos.
Na  fase que McGoldrick denomina de Reorganização do Sistema o foco é na clarificação das novas fronteiras para todo o sistema familiar, podendo  ser vivenciadas novas dificuldades, em função da necessidade de diversas negociações até se chegar a um novo perfil familiar.
"Os papéis, as fronteiras, a associação e estrutura hierárquica mudam...Todos os subsistemas da família são afetados: marido/mulher, pais/filhos; irmãos/irmãs, avós/netos, conjugalidade
/família,(amigos,trabalho,comunidade". (McGoldrick,1995)
Na prática clínica observamos como todas essas transformações, no  início, reforçam o aumento do nível de tensão, como ainda em algumas famílias trazem posturas de resistências as quais necessitam, habilmente, serem trabalhadas.
Estudiosos das diversas fases do divórcio afirmam que em 95% dos casos o primeiro ano é observado como o período mais difícil. Nessa etapa, as conversas mais recorrentes apresentam como tema a educação dos filhos e os arranjos financeiros da família.
Um ponto essencial para uma elaboração mais saudável do processo do divórcio refere-se ao apego emocional dos cônjuges à relação amorosa. É indispensável se compreender como está sendo experenciado, nos dois ex-parceiros, o divórcio emocional. Explicando melhor: como eles  elaboram seus lutos, suas expectativas idealizadas,observando como essas vivências estão auxiliando ou não a libertação gradual da dependência afetiva do ex- parceiro.
" Elaborar o divórcio emocional é um processo triplo: fazer o luto pelo casamento e pela família perdida, examinar o próprio papel na deterioração do casamento e planejar uma maneira  de seguir em frente sem distorções ou rompimento com o passado"( McGoldricK 1995).
                                  Continua no próximo texto
                                                                      Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e família
Obs: Base de leitura para  o texto: As mudanças no cilclo familiar- Uma estrutura para a terapia familiar, Mônica MacGoldrick-Porto Alegre; Artes Médicas, 1995

O Processo do Divórcio-Parte Um




O divórcio traz no seu percurso vários fatores emocionais, psicológicos, afetivos, cognitivos, sociais, religiosos...repercutindo de forma complexa na dinâmica do casal e da família.
Podemos dizer que as separações conjugais dão origem a uma extensa rede de dificuldades familiares. 
Peck e Manocherian( 1995- 1989) apresentam como estágios do divórcio as seguintes etapas:
-"Cognição individual"- A decisão de cada membro do casal em divorciar-se;
-"Meta cognição familiar"- O planejamento da separação e a comunicação às famílias;
-" A separação do sistema"- O divórcio propriamente dito, quando há o rompimento da família e rede social;
-"Reorganização do sistema"-O pós- divórcio em que novas fronteiras têm de ser definidas entre o casal, os pais, os filhos e suas respectivas famílias de origem;
- "Redefinição do sistema"- A família resolve as tarefas desenvolvimentais do momento do ciclo da vida.
Os assuntos que se relacionam com a parentalidade, questões financeiras, relacionamento com a família extensa, e, também novos relacionamentos afetivos por parte de um dos ex- cônjuges, são, no início do processo, na grande maioria das vezes, permeados por um clima conflituoso, o qual alimenta culpa, acusações, violência, retaliações...
A crise durante o o processo de separação tende a se agravar dependendo de mùltiplos fatores tais como: tempo de casamento, idade,sexo, ciclo de vida, motivos da separação, formas de abordagens, e principalmente, quando esse percurso é alimentado por mágoas, acusações, mentiras, provocações, mentiras,provocações, agressividade...

Um ponto significativo da dinâmica do divórcio é a forma pela qual os ex- cônjuges e os familiares elaboram suas perdas.
A separação faz surgir um sentimento de fracasso, perda  da família e do casamento sonhado, ansiedade e tristeza pela ruptura da rede afetiva e social.
Todos sofrem as consequências e precisam de apoio emocional para a realização das suas adaptações individuais, grupais, emocionais, financeiras, sociais, exigindo dos envolvidos  a ressignificação de modelos, valores e formas de viver. 

A vivência das etapas do divórcio, nas fases pré e pós, poderá ser mais difícil quando um dos ex- cônjuges não quer e/ou não consegue desenvolver condições psicológicas para administrar o "divórcio emocional"( soltar-se emocional e  afetivamente do ex- parceiro), ou seja, "trabalha contra", reforçando posturas de alimentação de ressentimento, vinganças...

Nesse casos presenciamos o agravamento da situação emocional dos ex-cônjuges e filhos, podendo acontecer o que chamamos de triângulos familiares entre pais, filhos, avós, netos, trazendo sofrimento, na maioria das vezes, aos filhos.. Esses desenvolvem conflitos de lealdade com os seus pais e familiares mais próximos afetivamente  envolvidos com a separação. Percebemos em muitos desses filhos  sentimentos de ansiedade, ambivalência em função de não querer ser contra nenhum dos seus pais, nem de seus familiares queridos..


     Continua no próximo texto

                                           Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e família

Obs- Base para o texto: As mudanças no ciclo da vida familiar- Uma estrutura para a terapia familiar:
Monica MacGoldrick, Porto  Alegre, Artes Médicas, 1995

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Feliz Caminhada




 
O comportamento humano, suas possibilidades e limitações são para mim fatores de motivação na minha feliz vida.

Sou pessoa, mulher, filha, mãe, avó, terapeuta familiar e de casal, amiga, alma, emoção, afeto, razão...

Muito me instiga o olhar às histórias de relacionamentos conjugais e familiares das quais faço parte como terapeuta, nesse processo mútuo de crescimento que é nossa vida individual, relacional e profissional.

Há algum tempo venho desenvolvendo uma parceria comigo mesma. Aos poucos a vida, sentimentos e  emoções dos clientes que atendo, têm me motivado a escrever acerca de temas familiares, conjugais e comportamentais. Experiência essa que ajuda a ampliar a minha visão de sentido de vida e ressignificar sentimentos e experiências.

Faço parte do Serviço de Terapia Familiar e de Casal do Grupo de Psicologia Integrada do Recife e também atuo no Espaço Família, onde além de terapeuta familiar também realizo mediação de conflitos familiares.

Em 2012 familiares e amigos me incentivaram a socializar meus textos, só então compartilhados nesses grupos. Criei coragem e criei o blog terapiacasalefamilia, no qual escrevo, troco e vivo. Essa experiência me enriquece e aumenta a vontade de continuar.

Em fevereiro de 2013 recebi o convite da revista Mon Quartier para participar como colunista.

Fiquei grata e feliz em participar de tão importante revista.

Vamos lá para mais uma feliz caminhada.
Obs- O texto acima faz parte da apresentação do meu perfil na revista recifense Mon Quartier,  edição de abril de 2013, quando no início da minha participação como colunista.
Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal
 

sábado, 6 de abril de 2013

Expectativas Demasiadas: Quando Paramos No Futuro

 












Lendo uma entrevista da psicóloga Lúcia Rosemberg sobre excesso de expectativas, parei na seguinte reflexão: "A antecipação constante do futuro esvazia o presente".
Pensando acerca do tema faço a seguinte pergunta: Quem de nós não já se enroscou nas teias do excesso das expectativas? Essa pergunta nos coloca de frente com nossa vida pessoal,  familiar, profissional, conjugal...  E a psicóloga entrevistada seguia nos fazendo refletir que a vivência de expectativas demasiadas pode minar nossas energias do presente e favorecer  a criação de uma sombra no  momento atual, não nos preparando para celebrar o tempo vivido no presente, como também nos trazer dificuldade em lidar com a imprevisibilidade da vida.
Importante que tenhamos um olhar voltado ao planejamento com desejos e metas a serem alcançados,o que nos mobiliza  à realização dos nossos sonhos. Todavia, a concentração  nas expectativas, nos joga em um cotidiano de controle, na ansiedade antecipatória de se viver no futuro, acreditando-se que a felicidade só será "encontrada" quando estivermos lá. Momento esse, continuadamente, adiado para aqueles que tem como companhia constante uma maneira de se ver e esperar os acontecimentos da vida muito dependente dos seus projetos e estratégias próprias de ação .

Esse caminho, avalio que pode nos fazer prisioneiros e fechar possibilidades de aprender com o outro e com  a gente mesmo, formas e cores diferentes que precisamos enxergar para que a vida fique mais dinâmica e ao mesmo tempo mais leve.
É saudável que trabalhemos os nossos sentimentos de esperança em dias melhores e queiramos vislumbrar nosso amanhã com perspectivas de avanços pessoais, materiais, profissionais, relacionais...Tentarmos novamente, sermos persistentes,  faz parte de uma programação de vida daqueles que seguem em frente na busca saudável dos fatores nos quais acreditam poder realizar.

 Entretanto, quando estamos conscientes de termos feito a nossa parte e, mesmo assim não conseguimos a realização do amanhã sonhado, é necessário reavaliarmos nosso caminho, olharmos para nós mesmos e para os nossos relacionamentos, e, avaliarmos o momento mais adequado  de nos soltar do controle, mediante a aprendizagem sábia, passo a passo,  do movimento de ir se doando na entrega de aceitarmos, primeiro, com o coração, o presente da nossa vida.

Reflexão:
Lembre um momento da sua vida onde ficou refém de uma expectativa demasiada
Como trabalhou esse momento?
Como diferenciar um grande sonho e o foco para alcançá-lo, de um  período da sua vida no qual o excesso de expectativa lhe atrapalhou?

                                          Lígia Oliveira - Terapeuta de casal e família