PARALELO ENTRE A PSICOTERAPIA BREVE PSICANALÍTICA E A PSICANÁLISE CLÁSSICA
Na
busca da compreensão da Psicoterapia Breve Psicanalítica (PB) com o objetivo de
estabelecer onde a PB dialoga ou se distancia da Psicanálise Clássica
precisamos saber que a Matriz desse entendimento passa, inicialmente, pelo
estudo da Psicanálise Clássica: seus pressupostos, fundamentação teórica,
metodológica e prática, conhecimento básico para o profissional que trabalha o
ser na sua dimensão psicológica, afetiva, emocional e comportamental.
Para
a realização desse trabalho utilizei como fonte o seminário apresentado pelo
professor Dr. Fabiano Costa sobre o tema, e o livro de Haydée C. Kahtuni, que
tem como título Psicoterapia Breve Psicanalítica, compreensão e cuidados da
alma humana, 1996.
“A
psicanálise freudiana tem como objetivo maior “fazer consciente o material
inconsciente reprimido ou recalcado.” (Primeira Tópica, pag. 63). A partir da
Segunda Tópica o olhar de Freud ao paciente desenvolve como meta norteadora a “ampliação
dos limites do ego” (pag.63). Para o desenvolvimento desse caminho de
exploração do ser humano será necessária uma busca atenta e minuciosa dos
conteúdos, sentimentos e comportamentos para o qual não são eleitos temas
principais nem período determinado de tempo. O trabalho terapêutico na
psicanálise clássica vai sendo experenciado e desenvolvido mediante o ritmo do
paciente, aos poucos.
O
principal objetivo da PB tem como pilar o esclarecimento ao paciente da
“natureza dos seus conflitos atuais”. (pag.63)
Observamos
que na PB também “se busca a ampliação e a organização do ego”. Entretanto, uma
das características mais importantes é a delimitação de um foco, segundo o qual
serão estabelecidos os objetivos terapêuticos dentro de um planejamento da duração
de um prazo determinado para acontecer.
Na
PB os objetivos são atingidos quando os sintomas representativos dos conflitos
atuais são solucionados. Ou seja, a PB procura capacitar o paciente a resolver
seus conflitos atuais da melhor forma possível.
De
maneira geral, para uma maior compreensão, vejamos os principais itens
relacionados à Psicoterapia Breve Psicanalítica e a Psicanálise Clássica:
- Quanto ao foco:
A
PB determina junto ao paciente um foco, um mapeamento urgente dos sintomas
gerados pelos conflitos vivenciados naquele momento. Explora o material a ser
trabalhado, temas advindos do polo emergencial do paciente, das suas situações
de crise, realidades presentes.
Em
relação à duração a PB pode durar horas, dias, semanas, meses e poucos anos.
A
Psicanálise Clássica não trabalha com uma postura terapêutica junto ao paciente
com limites em relação à duração do tratamento, podendo esse se prolongar por
anos a fio.
O tratamento é vivenciado dentro de uma
abordagem ampla sendo o material terapêutico todos os assuntos trazidos pelo
paciente. Assim sendo não delimita tempo ao tratamento.
- Postura do terapeuta e abstinência do
analista:
Na
PB o terapeuta é mais comunicativo, ativo, diretivo podendo fazer uso de
sugestões e ordens tais como: vá por esse caminho, faça dessa forma...
Diante
de tal comportamento profissional, observamos uma quebra na postura da
abstinência do analista.
Na
Psicanálise Clássica o analista traz como postura atitude baseada na regra da
abstinência terapêutica liberando o paciente para falar o que ele quer, sem
sugestões ou comandos.
O
profissional tem como preocupação a ampliação das demandas do paciente,
intervindo pouco, mas favorecendo bem a busca dos conteúdos e sentimentos, dos
seus conflitos primitivos, procurando explorar como esses podem está reverberando
no presente e poderão influenciar o futuro.
- Atenção do profissional e associação
livre:
Na
PB a atenção do terapeuta é direcionada, focal, aos temas eleitos como principais,
havendo um corte seletivo aos temas não escolhidos, pertinentes à crise.
Esses outros temas são deixados de lado no
início do processo. Desta forma percebe-se que a PB não faz uso da regra
fundamental da Psicanálise Clássica Que é a associação livre de ideias.
Na
Psicanálise Clássica o analista desenvolve a atenção flutuante (não focal), levando
o paciente ao desenvolvimento da associação livre de ideias (método básico da
Psicanálise Freudiana) mediante uma escuta não seletiva, atenta a todas as
falas, silêncios, gestos e sentimentos expostos pelos pacientes.
- Transferência e flexibilidade:
A
PB trabalha com a transferência do paciente de forma mais flexível mediante
pontuações e leituras desses processos transferenciais. O profissional, muitas
vezes se coloca no lugar do paciente, o qual poderá sentir o terapeuta como um
amigo. Havendo necessidade a PB poderá se utilizar de outras
técnicas e abordagens terapêuticas.
A
Psicanálise Clássica observa a transferência do analisando e vai trabalhando
internamente, até que o paciente no seu ritmo vá explorando e quebrando essa
transferência. A postura do analista também não é muito próxima, é mais
distante.
- Uso do divã:
A
PB se utiliza da conversa olho no olho entre o analista e o analisando, vez que
não tem como objetivo acessar conteúdos regressivos primitivos, como ainda o
olho no olho auxilia ao profissional na leitura mais direta: dos gestos,
expressões faciais, de conforto, constrangimento, alegria, dor...
A
Psicanálise Clássica utiliza o divã como um recurso que irá facilitar o relaxamento
maior do paciente, a estar ele com ele mesmo, sem a interferência do olhar face
a face com o analista.
O
uso do divã também traz como recurso a não visão de algum gesto do analista que
possa influenciar o processo do paciente nos seus processos inconscientes.
- Momentos de crise aguda do paciente:
Na
ocasião de uma crise aguda, muitas pessoas têm suas defesas rebaixadas em função
de se encontrarem necessitando de uma ajuda mais rápida. Dentro dessa
perspectiva, o paciente tem uma maior chance de vivenciar um vínculo positivo com
o profissional e conseguir a melhora da crise dentro de um menor espaço de
tempo.
Freud não orientava a Psicanálise Clássica aos
pacientes em crise aguda, trazendo a explicação de que o paciente nesse momento ficava refém das
suas “realidades penosas”; por consequência o paciente iria se retrair em vez
de se soltar.
- Observações importantes:
-
O principal sujeito do processo terapêutico é o paciente o qual é o responsável
pela “permissão para que o analista junto com ele prossiga ou não no estudo do
seu terreno psíquico”.
-
Braier( 1986)nos traz estudos onde observou profundas modificações nos
pacientes advindos da PB “ sem que esses tivessem elaborado as raízes dos seus
problemas”. Diante desses estudos pode-se dizer que a PB “poderá atuar como
agente sensibilizador para a base de um tratamento analítico posterior”. Sabendo-se
que essa “passagem” deverá ser cuidadosamente vivenciada pelo par analítico.
A
PC reforça o entendimento do efeito “carambola”, vez que ao resolver um
problema central, agudo, favorecerá condições e repercussões positivas em
outros comportamentos, por ter diminuído a ansiedade maior naquele momento do
paciente.
Finalizando,
é essencial que entendamos que o olhar do analista deverá ser aprofundado em
relação à forma como esse deverá proceder quanto ao estudo e a escolha da
abordagem terapêutica direcionada ao seu paciente.
Para
tal o psicanalista, deverá investir em
uma leitura criteriosa levando em conta
a singularidade, a história de vida, e o
contexto no qual seu paciente se
encontra.
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