terça-feira, 21 de abril de 2015





PARALELO ENTRE A PSICOTERAPIA BREVE PSICANALÍTICA E A PSICANÁLISE CLÁSSICA

Na busca da compreensão da Psicoterapia Breve Psicanalítica (PB) com o objetivo de estabelecer onde a PB dialoga ou se distancia da Psicanálise Clássica precisamos saber que a Matriz desse entendimento passa, inicialmente, pelo estudo da Psicanálise Clássica: seus pressupostos, fundamentação teórica, metodológica e prática, conhecimento básico para o profissional que trabalha o ser na sua dimensão psicológica, afetiva, emocional e  comportamental.

Para a realização desse trabalho utilizei como fonte o seminário apresentado pelo professor Dr. Fabiano Costa sobre o tema, e o livro de Haydée C. Kahtuni, que tem como título Psicoterapia Breve Psicanalítica, compreensão e cuidados da alma humana, 1996.

“A psicanálise freudiana tem como objetivo maior “fazer consciente o material inconsciente reprimido ou recalcado.” (Primeira Tópica, pag. 63). A partir da Segunda Tópica o olhar de Freud ao paciente desenvolve como meta norteadora a “ampliação dos limites do ego” (pag.63). Para o desenvolvimento desse caminho de exploração do ser humano será necessária uma busca atenta e minuciosa dos conteúdos, sentimentos e comportamentos para o qual não são eleitos temas principais nem período determinado de tempo. O trabalho terapêutico na psicanálise clássica vai sendo experenciado e desenvolvido mediante o ritmo do paciente, aos poucos.

O principal objetivo da PB tem como pilar o esclarecimento ao paciente da “natureza dos seus conflitos atuais”. (pag.63)
Observamos que na PB também “se busca a ampliação e a organização do ego”. Entretanto, uma das características mais importantes é a delimitação de um foco, segundo o qual serão estabelecidos os objetivos terapêuticos dentro de um planejamento da duração de um prazo determinado para acontecer.
Na PB os objetivos são atingidos quando os sintomas representativos dos conflitos atuais são solucionados. Ou seja, a PB procura capacitar o paciente a resolver seus conflitos atuais da melhor forma possível.

De maneira geral, para uma maior compreensão, vejamos os principais itens relacionados à Psicoterapia Breve Psicanalítica e a Psicanálise Clássica:

- Quanto ao foco:

A PB determina junto ao paciente um foco, um mapeamento urgente dos sintomas gerados pelos conflitos vivenciados naquele momento. Explora o material a ser trabalhado, temas advindos do polo emergencial do paciente, das suas situações de crise, realidades presentes.
Em relação à duração a PB pode durar horas, dias, semanas, meses e poucos anos.

A Psicanálise Clássica não trabalha com uma postura terapêutica junto ao paciente com limites em relação à duração do tratamento, podendo esse se prolongar por anos a fio.
 O tratamento é vivenciado dentro de uma abordagem ampla sendo o material terapêutico todos os assuntos trazidos pelo paciente. Assim sendo não delimita tempo ao tratamento.

- Postura do terapeuta e abstinência do analista:

Na PB o terapeuta é mais comunicativo, ativo, diretivo podendo fazer uso de sugestões e ordens tais como: vá por esse caminho, faça dessa forma...
Diante de tal comportamento profissional, observamos uma quebra na postura da abstinência do analista.

Na Psicanálise Clássica o analista traz como postura atitude baseada na regra da abstinência terapêutica liberando o paciente para falar o que ele quer, sem sugestões ou comandos.
O profissional tem como preocupação a ampliação das demandas do paciente, intervindo pouco, mas favorecendo bem a busca dos conteúdos e sentimentos, dos seus conflitos primitivos, procurando explorar como esses podem está reverberando no presente e poderão influenciar o futuro.

- Atenção do profissional e associação livre:

Na PB a atenção do terapeuta é direcionada, focal, aos temas eleitos como principais, havendo um corte seletivo aos temas não escolhidos, pertinentes à crise.
 Esses outros temas são deixados de lado no início do processo. Desta forma percebe-se que a PB não faz uso da regra fundamental da Psicanálise Clássica Que é a associação livre de ideias.


Na Psicanálise Clássica o analista desenvolve a atenção flutuante (não focal), levando o paciente ao desenvolvimento da associação livre de ideias (método básico da Psicanálise Freudiana) mediante uma escuta não seletiva, atenta a todas as falas, silêncios, gestos e sentimentos expostos pelos pacientes.

- Transferência e flexibilidade:

A PB trabalha com a transferência do paciente de forma mais flexível mediante pontuações e leituras desses processos transferenciais. O profissional, muitas vezes se coloca no lugar do paciente, o qual poderá sentir o terapeuta como um amigo. Havendo necessidade a PB poderá se utilizar de  outras  técnicas e abordagens terapêuticas.

A Psicanálise Clássica observa a transferência do analisando e vai trabalhando internamente, até que o paciente no seu ritmo vá explorando e quebrando essa transferência. A postura do analista também não é muito próxima, é mais distante.

- Uso do divã:

A PB se utiliza da conversa olho no olho entre o analista e o analisando, vez que não tem como objetivo acessar conteúdos regressivos primitivos, como ainda o olho no olho auxilia ao profissional na leitura mais direta: dos gestos, expressões faciais, de conforto, constrangimento, alegria, dor...

A Psicanálise Clássica utiliza o divã como um recurso que irá facilitar o relaxamento maior do paciente, a estar ele com ele mesmo, sem a interferência do olhar face a face com o analista.
O uso do divã também traz como recurso a não visão de algum gesto do analista que possa influenciar o processo do paciente nos seus processos inconscientes.

- Momentos de crise aguda do paciente:

Na ocasião de uma crise aguda, muitas pessoas têm suas defesas rebaixadas em função de se encontrarem necessitando de uma ajuda mais rápida. Dentro dessa perspectiva, o paciente tem uma maior chance de vivenciar um vínculo positivo com o profissional e conseguir a melhora da crise dentro de um menor espaço de tempo.

 Freud não orientava a Psicanálise Clássica aos pacientes em crise aguda, trazendo a explicação de  que o paciente nesse momento ficava refém das suas “realidades penosas”; por consequência o paciente iria se retrair em vez de se soltar.

- Observações importantes:

- O principal sujeito do processo terapêutico é o paciente o qual é o responsável pela “permissão para que o analista junto com ele prossiga ou não no estudo do seu terreno psíquico”.

- Braier( 1986)nos traz estudos onde observou profundas modificações nos pacientes advindos da PB “ sem que esses tivessem elaborado as raízes dos seus problemas”. Diante desses estudos pode-se dizer que a PB “poderá atuar como agente sensibilizador para a base de um tratamento analítico posterior”. Sabendo-se que essa “passagem” deverá ser cuidadosamente vivenciada pelo par analítico.

A PC reforça o entendimento do efeito “carambola”, vez que ao resolver um problema central, agudo, favorecerá condições e repercussões positivas em outros comportamentos, por ter diminuído a ansiedade maior naquele momento do paciente.

Finalizando, é essencial que entendamos que o olhar do analista deverá ser aprofundado em relação à forma como esse deverá proceder quanto ao estudo e a escolha da abordagem terapêutica direcionada ao seu paciente.
Para tal  o psicanalista, deverá investir em uma leitura  criteriosa levando em conta a singularidade, a história de vida, e  o contexto no qual seu paciente  se encontra.


   Lígia Oliveira - terapeuta de casa, família e psicanalista                   

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