quinta-feira, 23 de junho de 2016





 PSICANÁLISE E ADOLESCÊNCIA:POSSIBILIDADES DE UM DIÁLOGO CRIATIVO( Recorte da conclusão de um artigo cientifico)  Ligia Oliveira

A fase do adolescer é um período do ciclo vital que traz como característica principal complexas demandas que exigem e oportunizam ao adolescente investimento no processo de formação da pessoa, enquanto sujeito, dos seus pensamentos, sentimentos, escolhas, decisões, ações...
Percebe-se desta forma, que durante a adolescência o jovem desenvolve um trabalho psíquico singular na ressignificação da sua identidade.

Trabalhar o tema Psicanálise e Adolescência é adentrar na compreensão da complexa dinâmica, mental, psíquica e comportamental pela qual passa o adolescente e no conhecimento e na vivência da psicanálise, seus princípios, fundamentação teórica e prática clínica, elementos essenciais que o psicanalista precisa aprofundar para a criação e manutenção de um clima propício ao desenvolvimento de uma prática clínica que favoreça aos seus pacientes adolescentes condições a um processo terapêutico criativo e saudável.

O processo da adolescência vai oportunizando, aos poucos e ao mesmo tempo, intensamente, ao adolescente, à procura da sua autonomia, e, para tal, o jovem precisa sentir, refletir e viver os seus múltiplos eus os fluxos afetivos, que em várias ocasiões lhe trazem perturbações físicas, emocionais, psíquicas, afetivas influenciando, significativamente, seu comportamento como um todo.
Passo a passo, segue o jovem em um caminho de descobertas onde se percebe preso a processos identificatórios que não mais o complementam.

O adolescente sente que necessita descobrir e exercitar formas novas de relacionamento consigo mesmo, mediante a realização de escolhas que sejam criadas a partir da forma pela qual ele começa a compreender a si, as pessoas a sociedade.
Nesse momento, tem início o difícil processo de diferenciação do seu até então principal modelo de identificação: seus pais.

O adolescente passa a questionar suas figuras parentais como modelos onipotentes, experenciando nesse percurso pais e filhos complexa  elaboração de significativos e recíprocos lutos presentes no ciclo do adolescer.

É natural que o adolescente percorra nessa fase de instabilidade emocional, ao mesmo tempo em que envolve energia para poder se sentir bem sem a protetora influência direcionadora dos seus pais. Essa postura traz ao jovem o imperativo de desenvolver posicionamentos próprios que vão além da paisagem familiar.

É importante observar que a forma pela qual os pais investem na qualidade do relacionamento com o seu filho, é fator essencial ao processo de estruturação da sua subjetividade, como ainda pelas condições desse filho se tornar pessoa diante de si dos outros e do mundo que o cerca.
Muitas são as situações nas quais o adolescente se percebe querendo “voltar” ao seu mundo infantil, e concomitantemente, deseja se ver menos dependente do seu seguro colo familiar.

A vida sexual do jovem é rica em sentimentos e redescobertas. O complexo de Édipo vivido no período infantil traz significativas influências ao seu comportamento adolescente e surge como o grande responsável pela sexualidade no adolescer.

A reedição do complexo de Édipo infantil na adolescência produz importantes efeitos à criação e ao desenvolvimento do seu EU.
Atualmente, tanto os pais dos adolescentes como também o próprio jovem tem investido na busca de profissionais que possam ajudá-los a compreender e a solucionar os conflitos pertinentes a essa fase.
Torna-se imprescindível saber que a adolescência como um todo, acontece como um processo no qual tanto os jovens, como pais e a sociedade passam por situações de enfrentamentos conflituosos, mas também criativos voltados a novos modelos de comportamentos.

O processo psicanalítico trabalha o ser em movimento e possibilita ao seu paciente aprender a se escutar, buscando o entendimento do que ele é e as suas principais demandas internas e externas. Para tal, propicia ao analisando condições de refletir acerca das suas possibilidades e limites e do como trabalhar no sentido de mudanças para uma vida mais saudável.

O formato do setting desenvolvido por Freud foi, aos poucos, necessitando de algumas adequações, de acordo com o contexto histórico cultural de cada época, mas manteve como princípio essencial ao relacionamento analítico, o setting como um local no qual seja reforçado ao paciente o acolhimento, a confiança, o amparo, o respeito a sua dor, e a facilitação da sua fala, silêncios e escuta.

 Nesse processo, torna-se imperativo que o psicanalista amplie sua compreensão e prática no que se refere aos elementos indispensáveis da psicanálise, sua metodologia, seu fundamentação teórica, seu instrumental técnico e a sua própria pessoa enquanto ser, como também aos progressos e questionamentos da Psicanálise naquilo que se refere ao todo e a área específica na qual o analista se dedica no caso desse artigo à psicanálise com adolescentes.

É através da palavra na psicanálise que a compreensão do paciente se expande para além do seu discurso. Seu papel junto ao paciente é investir no olhar e no aprofundamento desse ser, na sua historicidade, escolhas, decisões e na leitura dessa pessoa de acordo com a sua singularidade..
O presente trabalho não se reporta aos adolescentes que  apresentam distúrbios mais específicos. Portanto é necessário compreender o período do adolescer como uma  fase de vivência de rebeldia, conflitos e desafios, naturais a esse ciclo para “não tentar curar  uma coisa que é essencialmente sadia.”( Winnicott,2011)

Com o adolescente o processo analítico objetiva atribuir um sentido ao seu sofrimento e segue trabalhando seus conceitos e sentimentos, como esses foram moldados na sua psicodinâmica mental e afetiva, seus processos inconscientes,focando o eu infantil para melhor compreender  e  trabalhar condições à criação do eu adulto dentro de um contexto mais saudável.

Bibliografia:

Aberastury,Arminda-
Adolescencia Normal, por Aberastury e Maurício Knobel. Tradução de Suzana Maria Garogory Balve. Porto Alegre, Artes Médicas, 1981-             92 páginas- 22 cm.


Kahn, Michael
Freud Básico: pensamentos psicanalíticos para o século XXI. Tradução de Luiz Paulo. Guanabara- 2 edição- Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2005.

Winnicott, Donald W, 1896-1971
A família e o desenvolvimento individual D.W.
Winnicottt, tradução Marcelo Brandão Cipolla. 4 edição-São Paulo: Martins Fontes, 2011. – ( textos de psicologia)


WWW.marcoedianacorso.com  anotações-sobre a clínica com adolescente


Nasio, Juan-David, 1942
Como agir com um adolescente difícil ( ponto de interrogação): Um manual para pais e profissionais J Násio;tradução André Telles- - Rio de Janeiro: Zahar, 2011


Pulsional- Revista de Psicanálise- artigos, ano. XVII, N. 181, MARÇO, 2005.
Coutinho, Gageiro Luciana
A adolescência na contemporaneidade: Ideal cultural ou sintoma social (interrogação)

Revista Científica Eletrônica de Psicologia- ISSN: 1806-0625
Ano VII- número 12-maio- 2005- periódicos semestral-
Uma leitura psicanalítica da adolescência: mudança e definição
Domingues, Mariana Rosa, Domingues, Taciano Luiz Coimbra
Baracat,Juliana

Zimerman, David E.
Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão
David E Zimerman- Porto Alegre: Artmed, 2004

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