segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Solidão a Dois







Quando nos relacionamos como par, trazemos na nossa bagagem muitas expectativas repletas de sonhos,  desejos, medos, valores...
De todas as relações humanas percebemos que é na relação de casal que as pessoas colocam seus maiores anseios, esperanças e idealizações.
Quem sabe, seja essa forma de olhar, um dos motivos de se sentir solidão a dois.

Muitas vezes é preciso evoluir na compreensão do quanto esse sentimento de ausência no casamento, tem relação com o nível de individualidade de cada cônjuge,  comportamentos individualistas ou falta  de se perceber  a  conjugalidade como uma vivência que envolve um eu, um tu e um nós .

Cotidianamente, pelo curso normal do casamento vão acontecendo fatos que magoam.Um dos parceiros se fecha, se afasta, se torna agressivo, crítico, indiferente... Caso esse comportamento seja repetitivo poderá trazer como uma das consequências o isolamento, a raiva e o ressentimento do outro cônjuge, e como efeito maior, a circularidade desse distanciamento afetivo.

Quando o casal procura, de uma forma mais saudável, desenvolver um clima de abertura para conversar sobre sentimentos, favorecerá momentos de compartilhamento das dúvidas, mágoas, frustrações, dos medos, planos, pedidos, comportamento esse que reforça  o sentimento  de se estar caminhando juntos.
Contudo, é necessário  os parceiros entenderem os momentos de solidão como inevitáveis e sadios,  podendo se planejarem para aprender com esses momentos de maneira amadurecida e ainda criarem algumas vacinas à solidão destrutiva que os faz reféns da dor.

 Assim sendo, atitudes simples serão fundamentais, como exercitar uma escuta e uma fala mais atentas, praticar pequenas gentilezas, estimularem trocas justas, ( hoje eu posso, amanha é sua vez ) e  aceitar que existem ocasiões onde a discussão, a raiva e o silêncio são, também, respostas necessárias na vida  de todo casal funcional. Importante nessas situações é o par, não ficar parado na dor e investir no momento oportuno de voltar a compartilhar suas dificuldades e alternativas de melhoria do relacionamento.

Outro antídoto à solidão a dois é valorizar os progressos individuais um do outro, trabalhando juntos para que as metas comuns do casal não impossibilitem as conjugais e vice versa.
Entender que também existem coisas as quais não podem ser compartilhadas, trará como resultado o fortalecimento  à privacidade de cada um, como ao respeito mútuo da relação. Nesse caminho cada parceiro terá naturalidade em viver seus momentos de solidão não trazendo à relação o peso e o vazio de uma solidão a dois.

Refletindo sobre a relação:

Que atitudes práticas voces desenvolvem para se sentirem companheiros?
Como compreendem e vivenciam  a mensagem do último parágrafo?

                                                Lígia Oliveira -Terapeuta de casal e familiar


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Recasando Também com os Filhos do Casamento Anterior: Estratégias Para a Melhoria da Convivência.







Estudando sobre recasamento percebemos que o tema traz no seu processo emocional de construção um misto de desafio e esperança.
Quando o novo casamento acontece com a presença de filhos de casamentos anteriores, esses filhos exercem um lugar significativo na nova dinâmica familiar,  tornando-se o relacionamento entre eles e o novo cônjuge um importante termômetro das possibilidades do casal .
A Terapia Familiar nesse processo, visa trabalhar para que os cônjuges, padrasto, madrasta, filhos, e demais familiares possam refletir sobre a compreensão de  que participam da construção de uma estrutura familiar com suas singularidades.

No recasamento,via de regra, vivenciam-se múltiplos conflitos relacionais em seus diversos subsistemas familiares. Nas famílias recasadas com filhos anteriores, é comum o desenvolvimento de um clima permeado por críticas, mágoas, silêncios, palavras mal colocadas, ou mal compreendidas...
Uma situação recorrente aos casais recasados diz respeito às fronteiras da autoridade entre o novo cônjuge e os filhos do par. Ou seja: o novo cônjuge reclamando da reduzida autoridade perante aos enteados e o progenitor considerando o novo parceiro pouco flexível,  implicante com ele, em relação ao item autoridade.

 É importante que façamos uma diferenciação entre autoridade e autoritarismo. Enquanto o primeiro tem como base o compartilhamento e a identificação de direitos e deveres, o segundo alimenta a imposição como pilar.


No trabalho com  famílias recasadas, percebemos uma insegurança quanto à delimitação das fronteiras, vivenciando-se  dificuldades em se estabelecer, quem, como e quando representa a autoridade. Essa incapacidade de solução poderá resultar no término do vínculo afetivo do novo casal.

É essencial compreendermos que o vínculo afetivo no recasamento acontece primeiro entre os novos parceiros e não entre padrasto, madrasta e enteados.  O clima do respeito a esse ponto é fundamental. Essa relação respeitosa passa primeiro, pelo  intermédio do progenitor,  o qual fica com a função inicial de canal entre os filhos e o novo parceiro. Caso essa função não seja desenvolvida, facilitará condições à ocorrência  de conflitos de autoridade.


O relacionamento entre padrasto/madrasta e enteados terá condições de sucesso se forem observados e bem compreendidos os seguintes fatores: residência principal dos enteados, contexto das separações, contexto do recasamento, papéis dos envolvidos, quais os espaços de cada um, quem no momento está no comando, hierarquia, ciclo de vida familiar, separação amadurecida dos papéis parentais e conjugais, regras acordadas e monitoradas.

A Terapia Familiar, dentro do ritmo e condições familiares, vai trabalhando cada um desses ítens , investindo na compreensão das suas influências na dinâmica do casal e familiar. Para tal é imprescindível uma cooperação compartilhada, onde o casal possa após o desabafo das mágoas e razões, explorar de forma aberta e menos reativa os fatores acima.


Destacamos ainda como significativo  ao novo par, um olhar mais efetivo às possíveis reações negativas e de resistência de muito dos envolvidos, havendo a necessidade do exercício da paciência, habilidade que facilitará o caminho para que não se entre no jogo improdutivo da insistência, da culpa e de acusações.

Construir estratégias de abertura e enfrentamento aos conflitos passa, fundamentalmente, pela postura  verdadeira do querer afetiva e efetivamente compartilhar alternativas conjuntas de convivência mais sadia e compreender que essa é uma estrada repleta de pontes, desvios , e cores.


                   Lígia Oliveira - Terapeuta familiar e de casal

obs- O texto acima teve como base o livro Terapia Familiar no Brasil na Última Década, Rosa Maria Macedo, 2008, capítulo 52.

               


               .

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A SEXUALIDADE INFANTIL-II- UM POUCO DA VISÃO PSICANALÍTICA







SEGUNDA PARTE

No início do  trabalho nos reportamos às fases oral e anal do desenvolvimento da infância, ou seja, as fases pré -genitais.
 A fase da latência é um período que traz uma retração do olhar infantil voltado à sexualidade, mediante a domesticação das pulsões, através do desenvolvimento, dos padrões e regras de conduta ditada pelos padrões sociais, cultura, dando lugar ao crescimento das experiências cognitivas e de socialização.
 No transcorrer do período de latência a criança aprende a exercitar o amor pelos seus cuidadores primários, (mãe, pai e substitutos). Nessa relação está presente uma carga de excitação sexual, em função da vivência da criança com seus cuidadores através de afetos, carinhos... O estudo reforça que desde os primeiros anos, o comportamento infantil, diante dessa dependência tem teor sexual.
Em contrapartida, essa proximidade desperta na criança o temor da separação do objeto amado e pode a desenvolver a ansiedade de perdê-lo. Muitas vezes, a criança tenderá a transformar sua libido em ansiedade e agir de forma adulta. O adulto que se tornou neurótico por conta da sua insatisfação com a libido, tende a se comportar de maneira infantil.
Desta forma, vemos que o amor dos pais pelos filhos poderá despertar, precocemente, seu instinto sexual. É essencial o olhar atento ao desenvolvimento sadio dessa relação para que o caminho da afeição do filho/pais possa cumprir a tarefa de orientar o filho em sua escolha de um objeto sexual quando atingir a maturidade. É necessário que nessa estrada aconteça a interdição do incesto para que a criança possa compreender e se apropriar dos limites morais e sociais voltados à vivência sexual.
O não desligamento pelos filhos das figuras parentais, dessas fantasias incestuosas trarão profundas perturbações psicológicas, afetivas, emocionais...
Estudos mostram que mesmo as pessoas que fizeram o desligamento do desejo incestuoso voltado às figuras parentais, ainda sofrem influências desse período.
Entendemos que a afeição do filho pelos pais é um fator infantil primordial na vida emocional do filho, o qual é revivido na puberdade, vez que sinaliza o trajeto percorrido à escolha de um objeto.
Dentro desse viés, complementa a citação abaixo:
“Outros pontos de partida com a mesma origem primitiva possibilitam ao homem desenvolver mais de uma linha sexual, baseadas não menos na sua infância, e a estruturar condições muito variáveis para a sua escolha do objeto”( pag.235/236)

A fase genital se inicia na puberdade e apresenta como elemento principal a atenção direcionada para fora, para uma pessoa na qual se busca a realização dos seus objetivos emocionais, afetivos, sexuais... Tem como primazia as sensações dos órgãos sexuais, o que irá trazer como consequência a culminância da vida sexual, sendo vivenciada também a função reprodutiva.

É interessante atentar acerca das múltiplas fontes da sexualidade infantil e os seus diversos significados específicos para cada pessoa: o prazer experenciado mediante a integração dos processos orgânicos, somáticos, pela estimulação das zonas erógenas, pelo desenvolvimento dos diversos instintos voltados à curiosidade, movimentos musculares, estimulação de sentimentos de medo, masoquismo, crueldade, tensão, imaginação...

O estudo ainda apresenta a vivência e a influências de múltiplos fatores ( muito bem explicados na obra) ao desenvolvimento da sexualidade humana, dentre os quais podemos citar:
  Condições hereditárias, modificações ulteri
ores, repressão, sublimação, experiências acidentais, precocidade, fatores temporais, persistência das primeiras impressões, fixação.

A pesquisa científica de Freud direcionada à sexualidade  humana, nesse trabalho mais direcionada à infância, nos alerta e aprofunda o olhar sobre a construção da vivência sexual, mediante o estudo  das suas várias  fases e dos seus diversos fatores, os quais agem dentro de uma perspectiva complementar e cooperativa, nos levando a uma atenção curiosa da compreensão dos comportamentos que favorecerão à saúde afetiva e emocional, como ainda nos amplia o entendimento das condições que trazem a criação e a manutenção de comportamentos doentios.
Reforçando:
É essencial refletirmos na visão sistêmica, observando que “os caminhos que ligam outras funções da sexualidade humana, também são cruzados no sentido inverso”.  ( 1905)
Assim sendo, nos fortalece condições à compreensão  dos comportamento humanos, sejam esses saudáveis ou patológicos, base  que nos levará a um melhor conhecimento desse grande círculo que é a  nossa vivência sexual.

Bibliografia:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume VII- A Sexualidade Infantil- Páginas: 177-212.
A Concepção Freudiana da Sexualidade Infantil e as Implicações da Cultura e Educação- Veridiana Guimarães, site educativa, Goiana, 2012.
A Sexualidade Segundo a Teoria Psicanalítica Freudiana e o Papel dos Pais Nesse Processo- Elis Regina da Costa- Universidade Federal de Goiás.
                                  
 Lígia Oliveira- psicanalista em formação e terapeuta de casa e familiar.

Recife,janeiro,2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A SEXUALIDADE INFANTIL- I- UM POUCO DA VISÃO PSICANALÍTICA





A SEXUALIDADE INFANTIL- TRES ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE- FREUD-1905


PRIMEIRA PARTE

O Pai da Psicanálise, Freud, foi o pioneiro em lançar um olhar mais aprofundado na pesquisa sobre a sexualidade infantil, assunto tabu na sociedade da época.
O tema fez surgir múltiplas polêmicas, vez que os estudiosos negavam, ou não queriam ver, a existência da sexualidade infantil.
Como atencioso pesquisador, Freud investiu no conhecimento da sexualidade humana, quando em atendimento clínico, nos seus tratamentos dos transtornos mentais dos seus pacientes adultos.
Na obra, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, 1905, Freud apresenta um minucioso estudo, situando a sexualidade humana dentro de um contexto amplo, que vai desde o nascimento até a morte.
De acordo com Freud a sexualidade vai sendo construída mediante as primeiras experiências afetivas, emocionais, físicas, psicológicas do bebe. Os vínculos vão sendo formados dentro de uma parceria do bebe com seus cuidadores primários, na maioria dos casos seus pais, e, o resultado dessa interação vai contribuir, significativamente, à vivência da sexualidade do ser.
O estudo explica como um dos motivos do não aprofundamento pelos pesquisadores  acerca de sexualidade infantil um fator psicológico que naquela época era inexplicável: a amnésia infantil, ou seja: Grande grupo de pessoas oculta fatos e lembranças mais precoces da sua infância até o sétimo e oitavo ano. Indaga o estudo sobre o porquê desses “esquecimentos” e, pontua que um trabalho analítico favorecerá condições ao acesso dessas lembranças, como ainda ao significado das mesmas na vida da pessoa. Importante também o entendimento acerca das “forças” e das “fraquezas” que provocaram as repressões dessas lembranças, que repercussões trouxeram como ainda, a compreensão das relações dessa amnésia com os casos de histeria, uma vez que fala a literatura científica que sem a amnésia infantil não haveria a amnésia histérica.
Freud explica que a sexualidade infantil possui características essenciais: Originariamente, ela responde a funções vitais, somáticas, se transformando adiante em autoerótica, elegendo uma parte do corpo como zona erógena.
Quanto ao objetivo sexual da sexualidade infantil Freud deixa claro (pag. 189) que:
“O objetivo sexual do instinto infantil consiste em obter satisfação por meio do estímulo apropriado da zona erógena que foi selecionada de uma maneira ou de outra. Essa satisfação precisa ser experimentada anteriormente, a fim de ter deixado atrás de si a necessidade de repetição, e podemos esperar que a natureza tenha providenciado no sentido de que  a experiência de satisfação não seja deixada ao acaso”.
Na criança a boca aparece como primeira zona erógena (fase oral) e atende, inicialmente, a necessidade de alimentação.
Observa-se assim que a sexualidade humana se origina apoiada em uma necessidade de sobrevivência, e é experenciada mediante o que está fora do corpo da criança: o seio materno. Através da sua satisfação pulsional, instintiva, o bebe tem como primeiro objeto sexual o seio da mãe.
Em seguida com a perda do seio que amamenta, a pulsão sexual se volta para si, tendo a criança como fonte de prazer seu próprio corpo. Desta forma, a criança descobre e explora o auto erotismo.
Podemos citar como exemplo o ato do bebe chupar o próprio dedo, ação através da qual ele tem satisfação auto erógena.
Durante as diversas fases do seu desenvolvimento a criança vivencia seu instinto sexual elegendo partes do seu corpo direcionadas ao seu prazer da energia sexual.
O caráter de erogeneidade infantil tende a se mover às zonas corporais, especificamente, predestinadas. Todavia as pesquisas nos mostram que “outras partes da pele e mucosas poderão ser transformadas em locais de prazer trazendo o entendimento que a qualidade do estímulo tem mais a ver com a sensação de prazer do que com a natureza do corpo em questão” (FREUD, 1905). Esses movimentos de deslocamentos infantis precisam ser explorados em suas conexões com os deslocamentos presentes em casos de histeria.
Na fase seguinte à oral, a zona eleita pela criança é a região anal, período no qual os pequenos apresentam comportamentos direcionados à exploração da sua pulsão sexual tais como: retenção de fezes, que ao passar pelo ânus produz uma excitação e satisfação da membrana da mucosa anal.
Freud nos explica que as fezes tem um significado para a criança, olhadas como parte do seu corpo, vez que saíram dele, e ainda como presente dela para o mundo. Suprimir o bolo fecal, intencionalmente, poderá ter como motivação a estimulação masturbatória da zona anal, tornando-se uma forma de poder da criança em relação aos seus cuidadores. Mais adiante, esses comportamentos infantis poderão auxiliar no estudo e tratamento das raízes da constipação vivida pelos neuropatas.
As zonas genitais não são para crianças, inicialmente, objetos de satisfação sexual. O clitóris e a glande estão associados à ação de urinar. A localização dessas zonas, as secreções e o manuseio das partes direcionadas à higienização, favorecem oportunidades à experiência de sensações de prazer.
Freud nos mostra sobre a importância do olhar atento para a masturbação infantil, fase na qual a criança traz a erotização aos seus órgãos genitais como o desejo e a ação de tocá-los. Nos fala também que as experiências nessa zona erógena são o início da vida sexual normal.
As experiências voltadas à masturbação estão divididas em três fases: A inicial logo nos primeiros anos, a segunda por volta dos quatro anos e a terceira no período da puberdade.
Os dois primeiros ciclos tendem a ser mais breves. Contudo há casos que se estendem até a puberdade.
Essas fases vão sendo vividas, e, de acordo com as experiências e os vínculos afetivos, poderão favorecer condições saudáveis ou patológicas, sendo causadoras de consequências profundas (inconscientes).
Existem pessoas em que as lembranças desse período foram “esquecidas” e as lembranças conscientes que encobrem os fatos foram deslocadas. O trabalho psicanalítico, nesses casos, irá favorecer a descoberta do que foi encoberto, auxiliando ao desenvolvimento da saúde mental e emocional da pessoa.
Freud observa que a criança sob a influencia da sedução adulta poderá apresentar-se perversa polimorfa, sentindo e desenvolvendo formas e múltiplas zonas corporais de prazer sexual.
A criança, por não ter ainda, as fronteiras mentais da censura contra os excessos sexuais e não ter desenvolvido até certa idade, suas noções de vergonha, moralidade, poderá ser explorada por um sedutor hábil vindo a aprender e fazer crescer em si satisfação para todas as perversões, característica humana fundamental.
Como falado anteriormente, por não apresentarem ainda atitudes de vergonha e censura, as crianças demonstram satisfação na exposição dos seus corpos e em especial dos seus órgãos sexuais.
No que se refere à escopofilia (pulsão do olhar com curiosidade), os estudos nos mostram que o comportamento é apresentado tanto nas pessoas normais como nos pacientes neuróticos.
Algumas crianças que tiveram a atenção desperta pela masturbação passam a desenvolver uma forte curiosidade pelos órgãos sexuais dos seus colegas, muitas vezes nos seus momentos de excreção, o que poderá favorecer condições para que se tornem adultos voyeres dessas situações.
O olhar infantil voltado à aprendizagem tem como principal pilar a prática. A chegada de outro bebe lhe desperta uma insegurança à sua estrutura afetiva, por conta desse novo ser que ameaça roubar sua atenção e amor. À pergunta “clássica” de onde vem os bebes”, as crianças elaboram suas próprias teorias: Tendem a pensar que saem do seio da mãe, do umbigo, como as fezes...
Observa-se que em relação à diferença entre os sexos, não se caracteriza como a curiosidade inicial da criança. No início a criança aceita, naturalmente, a existência dos dois sexos. Os meninos pensam que os órgãos sexuais são todos iguais aos dele, pensamento que será modificado adiante.
As meninas ao perceberem que sua genitália é diferente a dos meninos vivenciam um sentimento de inferioridade e inveja, tendo a percepção que foram castradas entendendo essa castração, como algum tipo de castigo, punição...
Nos casos nos quais a criança presencia relações sexuais dos adultos, tenderão a compreender esse ato como violento- sádico. Segundo a psicanálise, uma percepção dentro desses moldes na infância, contribuirá, significativamente, para uma predisposição ao deslocamento sádico subsequente do objeto sexual.

     Continua na segunda parte.


                                              Lígia Oliveira- Psicanalista em formação, terapeuta de casal e familiar.