segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A SEXUALIDADE INFANTIL- I- UM POUCO DA VISÃO PSICANALÍTICA





A SEXUALIDADE INFANTIL- TRES ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE- FREUD-1905


PRIMEIRA PARTE

O Pai da Psicanálise, Freud, foi o pioneiro em lançar um olhar mais aprofundado na pesquisa sobre a sexualidade infantil, assunto tabu na sociedade da época.
O tema fez surgir múltiplas polêmicas, vez que os estudiosos negavam, ou não queriam ver, a existência da sexualidade infantil.
Como atencioso pesquisador, Freud investiu no conhecimento da sexualidade humana, quando em atendimento clínico, nos seus tratamentos dos transtornos mentais dos seus pacientes adultos.
Na obra, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, 1905, Freud apresenta um minucioso estudo, situando a sexualidade humana dentro de um contexto amplo, que vai desde o nascimento até a morte.
De acordo com Freud a sexualidade vai sendo construída mediante as primeiras experiências afetivas, emocionais, físicas, psicológicas do bebe. Os vínculos vão sendo formados dentro de uma parceria do bebe com seus cuidadores primários, na maioria dos casos seus pais, e, o resultado dessa interação vai contribuir, significativamente, à vivência da sexualidade do ser.
O estudo explica como um dos motivos do não aprofundamento pelos pesquisadores  acerca de sexualidade infantil um fator psicológico que naquela época era inexplicável: a amnésia infantil, ou seja: Grande grupo de pessoas oculta fatos e lembranças mais precoces da sua infância até o sétimo e oitavo ano. Indaga o estudo sobre o porquê desses “esquecimentos” e, pontua que um trabalho analítico favorecerá condições ao acesso dessas lembranças, como ainda ao significado das mesmas na vida da pessoa. Importante também o entendimento acerca das “forças” e das “fraquezas” que provocaram as repressões dessas lembranças, que repercussões trouxeram como ainda, a compreensão das relações dessa amnésia com os casos de histeria, uma vez que fala a literatura científica que sem a amnésia infantil não haveria a amnésia histérica.
Freud explica que a sexualidade infantil possui características essenciais: Originariamente, ela responde a funções vitais, somáticas, se transformando adiante em autoerótica, elegendo uma parte do corpo como zona erógena.
Quanto ao objetivo sexual da sexualidade infantil Freud deixa claro (pag. 189) que:
“O objetivo sexual do instinto infantil consiste em obter satisfação por meio do estímulo apropriado da zona erógena que foi selecionada de uma maneira ou de outra. Essa satisfação precisa ser experimentada anteriormente, a fim de ter deixado atrás de si a necessidade de repetição, e podemos esperar que a natureza tenha providenciado no sentido de que  a experiência de satisfação não seja deixada ao acaso”.
Na criança a boca aparece como primeira zona erógena (fase oral) e atende, inicialmente, a necessidade de alimentação.
Observa-se assim que a sexualidade humana se origina apoiada em uma necessidade de sobrevivência, e é experenciada mediante o que está fora do corpo da criança: o seio materno. Através da sua satisfação pulsional, instintiva, o bebe tem como primeiro objeto sexual o seio da mãe.
Em seguida com a perda do seio que amamenta, a pulsão sexual se volta para si, tendo a criança como fonte de prazer seu próprio corpo. Desta forma, a criança descobre e explora o auto erotismo.
Podemos citar como exemplo o ato do bebe chupar o próprio dedo, ação através da qual ele tem satisfação auto erógena.
Durante as diversas fases do seu desenvolvimento a criança vivencia seu instinto sexual elegendo partes do seu corpo direcionadas ao seu prazer da energia sexual.
O caráter de erogeneidade infantil tende a se mover às zonas corporais, especificamente, predestinadas. Todavia as pesquisas nos mostram que “outras partes da pele e mucosas poderão ser transformadas em locais de prazer trazendo o entendimento que a qualidade do estímulo tem mais a ver com a sensação de prazer do que com a natureza do corpo em questão” (FREUD, 1905). Esses movimentos de deslocamentos infantis precisam ser explorados em suas conexões com os deslocamentos presentes em casos de histeria.
Na fase seguinte à oral, a zona eleita pela criança é a região anal, período no qual os pequenos apresentam comportamentos direcionados à exploração da sua pulsão sexual tais como: retenção de fezes, que ao passar pelo ânus produz uma excitação e satisfação da membrana da mucosa anal.
Freud nos explica que as fezes tem um significado para a criança, olhadas como parte do seu corpo, vez que saíram dele, e ainda como presente dela para o mundo. Suprimir o bolo fecal, intencionalmente, poderá ter como motivação a estimulação masturbatória da zona anal, tornando-se uma forma de poder da criança em relação aos seus cuidadores. Mais adiante, esses comportamentos infantis poderão auxiliar no estudo e tratamento das raízes da constipação vivida pelos neuropatas.
As zonas genitais não são para crianças, inicialmente, objetos de satisfação sexual. O clitóris e a glande estão associados à ação de urinar. A localização dessas zonas, as secreções e o manuseio das partes direcionadas à higienização, favorecem oportunidades à experiência de sensações de prazer.
Freud nos mostra sobre a importância do olhar atento para a masturbação infantil, fase na qual a criança traz a erotização aos seus órgãos genitais como o desejo e a ação de tocá-los. Nos fala também que as experiências nessa zona erógena são o início da vida sexual normal.
As experiências voltadas à masturbação estão divididas em três fases: A inicial logo nos primeiros anos, a segunda por volta dos quatro anos e a terceira no período da puberdade.
Os dois primeiros ciclos tendem a ser mais breves. Contudo há casos que se estendem até a puberdade.
Essas fases vão sendo vividas, e, de acordo com as experiências e os vínculos afetivos, poderão favorecer condições saudáveis ou patológicas, sendo causadoras de consequências profundas (inconscientes).
Existem pessoas em que as lembranças desse período foram “esquecidas” e as lembranças conscientes que encobrem os fatos foram deslocadas. O trabalho psicanalítico, nesses casos, irá favorecer a descoberta do que foi encoberto, auxiliando ao desenvolvimento da saúde mental e emocional da pessoa.
Freud observa que a criança sob a influencia da sedução adulta poderá apresentar-se perversa polimorfa, sentindo e desenvolvendo formas e múltiplas zonas corporais de prazer sexual.
A criança, por não ter ainda, as fronteiras mentais da censura contra os excessos sexuais e não ter desenvolvido até certa idade, suas noções de vergonha, moralidade, poderá ser explorada por um sedutor hábil vindo a aprender e fazer crescer em si satisfação para todas as perversões, característica humana fundamental.
Como falado anteriormente, por não apresentarem ainda atitudes de vergonha e censura, as crianças demonstram satisfação na exposição dos seus corpos e em especial dos seus órgãos sexuais.
No que se refere à escopofilia (pulsão do olhar com curiosidade), os estudos nos mostram que o comportamento é apresentado tanto nas pessoas normais como nos pacientes neuróticos.
Algumas crianças que tiveram a atenção desperta pela masturbação passam a desenvolver uma forte curiosidade pelos órgãos sexuais dos seus colegas, muitas vezes nos seus momentos de excreção, o que poderá favorecer condições para que se tornem adultos voyeres dessas situações.
O olhar infantil voltado à aprendizagem tem como principal pilar a prática. A chegada de outro bebe lhe desperta uma insegurança à sua estrutura afetiva, por conta desse novo ser que ameaça roubar sua atenção e amor. À pergunta “clássica” de onde vem os bebes”, as crianças elaboram suas próprias teorias: Tendem a pensar que saem do seio da mãe, do umbigo, como as fezes...
Observa-se que em relação à diferença entre os sexos, não se caracteriza como a curiosidade inicial da criança. No início a criança aceita, naturalmente, a existência dos dois sexos. Os meninos pensam que os órgãos sexuais são todos iguais aos dele, pensamento que será modificado adiante.
As meninas ao perceberem que sua genitália é diferente a dos meninos vivenciam um sentimento de inferioridade e inveja, tendo a percepção que foram castradas entendendo essa castração, como algum tipo de castigo, punição...
Nos casos nos quais a criança presencia relações sexuais dos adultos, tenderão a compreender esse ato como violento- sádico. Segundo a psicanálise, uma percepção dentro desses moldes na infância, contribuirá, significativamente, para uma predisposição ao deslocamento sádico subsequente do objeto sexual.

     Continua na segunda parte.


                                              Lígia Oliveira- Psicanalista em formação, terapeuta de casal e familiar.

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