O presente trabalho tem como objetivo o estudo das teorias freudianas sobre as neuroses.
O material do estudo foi baseado
no Volume III, Primeiras Publicações Psicanalíticas, Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud e, livros de psicanalistas mais
contemporâneos, citados ao término do trabalho.
A psicanálise tem o seu foco
voltado à compreensão da dinâmica da mente, sendo essa entendida de forma ampla:
psique, afeto, emoção... e, como esses
movimentos mentais podem contribuir aos distúrbios evolutivos do comportamento.
A atuação da psicanálise busca a raiz das
dificuldades e os caminhos que irão proporcionar o equilíbrio emocional, afetivo,
mental...
Para tal, paciente e analista
precisam juntos, buscar os conteúdos submersos da mente do paciente, seus
significados e como esses podem estar trazendo sofrimento ao ser.
Para iniciar nosso estudo podemos
dizer que as neuroses surgem de uma não
compreensão dos sentimentos e dos conflitos intrapsiquicos não resolvidos pela
pessoa. E sabendo-se que todos os seres humanos convivem com conflitos, podemos
dizer também, que todos somos neuróticos, uns com mais intensidade e outro com
menos.
Para entender melhor acerca de
como se originam as neuroses vejamos:
A pessoa sente um impulso do ID,
tido por ela como proibido por ser de conteúdo erótico, agressivo, vingativo, incestuoso...
O EGO entende que se alguns desses desejos se realizarem o SUPEREGO trará como
resultado a culpa, a acusação, a vergonha... Assim sendo o EGO recalca o desejo
e o leva para longe da consciência, protegendo-se da ansiedade mediante a
utilização dos mecanismos de defesa.
Quando a pessoa se defronta, mais
adiante, com situações semelhantes às passadas que foram recalcadas, mas,
afetivamente guardadas no inconsciente, ocorre uma estimulação dos antigos,
sentimentos, e perdas.
O EGO trabalha para que os
impulsos e desejos proibidos não se realizem. Esses conteúdos reprimidos
empreendem uma luta contra esse caminho, através de movimentos que o EGO não
tem o controle. Desta forma cria uma representação substituta: o SINTOMA- NEUROSE-
O CONTEÚDO LATENTE DO SUJEITO.
No livro III, Primeiras
Publicações Psicanalíticas, quando Freud aborda acerca do Mecanismo Psíquico dos
Fenômenos Histéricos, seu olhar se volta mais para o aprofundamento da Histeria
( psiconeurose de defesa) chamada por Chacort de “ Neurose Maior”
Reflito sobre o sofrimento
daqueles que desenvolveram, naquela época, sintomas histéricos, em função da forma
pela qual eram olhados dentro de uma lente de loucura, preconceitos,
julgamentos...
O aprofundamento das teorias
freudianas veio auxiliar aquela pessoa que além de não entender as suas dores, ainda é vista como
dissimulada, vez que não apresentava lesão aparente, doença “exposta”, visivelmente.
Encontramos nas páginas 42 e 43 do
Volume III,a seguinte explicação:
“... Aprendemos
desse modo, para dizê-lo em termos grosseiros, que há uma experiência
afetivamente marcante por trás da maioria dos fenômenos histéricos, se não de
todos”
Observamos que na histeria é
reforçada a vivência do desejo, da emoção, do afeto, que mesmo reprimidos continuam
circulando na pessoa. A pessoa arquiva o
desejo, mas a vontade continua viva e pode ser revivida a qualquer momento na
forma de uma neurose histérica.
O exemplo registrado na página 44 explica de forma
prática a compreensão da neurose histérica.
O caso
fala sobre uma mulher que apresentava quadro de histeria de conversão
apresentando quadro forte de anorexia...
O evento
significativo anterior afetivo se deu pela leitura, dessa paciente, de uma
carta contendo conteúdo de humilhações bem antes de uma refeição. A atitude
doentia da repulsa à comida persistiu
por grande período, caracterizando dessa forma em uma histeria de conversão.
Observamos então que a relação
histérica do exemplo acima foi uma resposta do sistema nervoso que não teve
poder para administrar a lembrança afetiva, se utilizando assim de
somatizações, ataques histéricos e a cronificação desses sintomas.
O processo analítico irá
favorecer ao paciente neurótico, a vivência da repetição dos seus sintomas com
o objetivo de liberar o afeto que está estrangulado, na busca da cura do
sintoma.
Freud fala sobre a importância da
análise reforçando que a mesma é uma “tentativa de
converter as forças mais importantes de inimigas em aliadas” (FREUD BÁSICO,
pag.261).
O processo analítico investiga
junto ao paciente as causas das suas enfermidades psicológicas, na sua grande
maioria vindas da infância, ansiedades iniciais do nascimento, Édipo, Complexo
de Castração, eventos que ocorreram há muito tempo, mas continuam exercendo
poder e influências significativas ao paciente.
Obsessões e Fobias (Psiconeuroses)
Obsessões:
“As
obsessões e fobias são neuroses distintas com mecanismos e etiologias específicos.
Na maioria dos casos (não sendo uma obsessão intensa) são imagens inalteradas
de eventos importantes.” (pag.89)
“Dois
fatores são presentes em toda obsessão:
a- Uma ideia que se impõe ao paciente.
b- Um estado emocional associado.” .
O fato relevante no paciente
obsessivo é o estado emocional inalterado, enquanto a ideia pode variar.
É essencial se fazer uma
diferenciação entre pacientes que apresentam pequenos traços de obsessão, como
organização e limpeza, daqueles que se comportam de forma significativamente
obsessiva que podem vir acompanhados de neurose mista, perversão, psicose.
Percebemos que os pacientes
obsessivos reforçam em si elevado grau de sofrimento, aos outros e a sua dinâmica de vida como um todo, uma
vez que vivenciam uma rotina de repetição, atos motores, os quais são
realizados e desfeitos uma quantidade de vezes, pois esse não feitos trarão
maior ansiedade ao paciente.
Para exemplificar observemos o
exemplo dado por Freud nas páginas 69/70:
“Uma
jovem esposa que tivera apenas um filho em cinco anos de casamento,
queixou-se a mim que sentia um impulso
obsessivo de atirar-se pela janela, ou de uma sacada, e queixou-se também do
temor de apunhalar seu filho, temor que a acometia quando ela via uma faca
afiada. Admitiu que raramente acontecia o intercurso sexual, sempre sujeito a
precaução contra a concepção, mas afirmou que não sentia falta disso por não
ser de natureza sensual”.
“Nesse
ponto aventurei-me a dizer-lhe que à vista de um homem ela tinha idéias
eróticas e que, portanto perdera a confiança em si própria e que se considerava
uma pessoa depravada capaz de qualquer coisa.”
Na maioria dos casos as obsessões
têm como base de origem sentimentos sexuais reprimidos. A obsessão representa
então o substituto da ideia sexual recalcada, pois sabemos bem como aquilo que é recalcado tenta se expressar.
Os sintomas mais frequentes da
pessoa obsessiva são; pensamentos ruminativos, repetições motoras, rituais,
controle onipotente... Seu principal mecanismo é a substituição do desejo anterior
(proibido) por outro.
Fobias:
“O
mecanismo das fobias é em tudo diferente da obsessão. A substituição não é o
traço mais dominante... nada se encontra além do estado emocional da ansiedade.
( Freud,pag. 96)
A origem das fobias tem como pilar
três fatores: temor de encontrar com aspectos da sexualidade reprimida, medo de
se confrontar com os aspectos agressivos e o discurso terrorífico dos pais.
Exemplificando acerca do discurso
de terror dos pais aos filhos podemos citar um exemplo dado, registrados por Zimerman,
2005, pag.174:
“Mãe apavorada que manda os filhos cobrirem
janelas e espelhos e terem atitudes medrosas em relação a trovões e relâmpagos
e se contam histórias amedontradoras, é bem possível que esteja fabricando um
filho fóbico a dias chuvosos”,( Zimerman, 2005)
É necessário um conhecimento
amplo acerca dos tipos de fobia, aquelas que observamos ser mais comuns, como
medo da morte, doença, escuridão... das fobias contingentes que se caracterizam
pelo temor e atitudes de evitação de situações
e objeto os quais não despertam medo nas pessoas em geral.
É essencial observarmos que tanto
nos quadros fóbicos como nos obsessivos não está presente a somatização, desta
forma também não encontramos a conversão.
Todavia Freud fala sobre a
existência de fobias puramente histéricas. São os casos onde o paciente rejeita
a ideia incompatível juntamente com o afeto, e apresenta um comportamento como se essa ideia nunca
tivesse existido. Nesses casos observamos que o paciente desenvolve uma
“confusão alucinatória”.
O ego pratica a fuga para se
defender da ideia incompatível.
Ex: “Mãe que se perde pela
perda do seu bebe, e agora embala nos seus braços um pedaço de madeira”
Freud aborda volta sua atenção
também à Neurose de Angústia- (neuroses atuais)
A investigação acerca da etiologia
da neurose de angústia aponta para causas originadas na vida sexual, sendo de
maneira geral, o resultado de todos aqueles fatores que impedem a excitação
sexual somática de ser exercida psiquicamente.
O quadro principal é a presença
de uma expectativa ansiosa e nesse capítulo do volume III, Freud fala da
neurastenia e da hipocondria.
O paciente com neurose de
angústia apresenta sintomas de irritabilidade em geral, expectativa
angustiante, pânico, medos exagerados, mania de duvidar, ataques de angústia
respiratória, dores cardíacas, tremores, diarreias, vertigens...
É necessário ao entendimento da
neurose de angústia, se fazer uma diferenciação da manifestação da neurose em
relação ao homem e a mulher, pontos bem explicados no Volume III, Freud.
Os sintomas da Neurose de
Angústia comuns ao homem e a mulher são: a vivência da prática de se masturbar,
e quando não mais utilizam essa prática podem ficar reféns da neurastenia, vez
que, muitas vezes, não desenvolvem a tolerância para aguentar a resistência.
Outra causa comum ao homem e a
mulher em relação à neurose de angústia tem como fator a exaustão física e
psicológica em função de grande carga de trabalho, cuidados com familiares
adoentados...
A neurose de angústia pode
oscilar em duração e intensidade, e, pode acontecer, em alguns casos, a
neurastenia ser uma resposta da fadiga física ou mental.
A anamnese dos pacientes revela
que os sintomas da neurose de angústia, em algum período definido, sucederam
aos sintomas de alguma outra neurose- talvez da neurastenia e tomaram o seu
lugar.
“... onde
quer que ocorra uma neurose mista, será possível descobrir uma
mistura de várias etiologias” (Freud, 132).
Os quadros de ansiedade podem
acontecer mediante a combinação de vários sintomas e podemos entender que o
analista deverá ter um olhar aprofundado e sistêmico no que se refere a busca
da origem dos comportamentos do seu paciente.
Ex: Uma mulher que já tinha um
quadro de histeria, por estar no casamento praticando o coito interrompido,
estará predisposta a desenvolver uma neurose de angústia e trazer
comportamentos respectivos dos dois quadros.
Todavia é importante que saibamos
que a histeria e a neurose de angústia não se combinam uma com a outra:
“... a
diferença é simplesmente que na neurose de angústia a excitação se expressa é
puramente somática (excitação sexual somática) enquanto que na histeria é psíquica
(provocada por um conflito).” (pag.134)
Conclusão:
Reflitamos sobre o poder curativo
da psicanálise, trabalhado, conjuntamente pelo analista e o paciente.
Esse relacionamento vai
possibilitando ao paciente trazer à tona forças inconscientes, muito ocultas e
também muito poderosas, ao mesmo tempo em que busca se identificar e se compreender
as dificuldades e recursos,
Diante do estudo das neuroses,
pilar da estrutura do comportamento humano, pode-se ir compreendendo a
relevância das vivências da infância e das suas duradouras consequências à vida
como um todo, podendo daí resultar em neuroses que se fixam em sentimentos os
quais poderão trazer à vida do ser humano o seu adoecimento.
Pode-se também ir-se à busca da
compreensão sobre em que condições as pessoas aprenderam a amar e se preciso
for, elaborar condições para que esse caminho aconteça de forma mais inteira.
O processo psicanalítico possibilita olhar
para o ser humano e entender o quanto da sua vida interior pode trazer
sentimentos de medo, culpa, vergonha, acusação, punição, ansiedade, sabendo que
essa formação para ser melhor compreendida será preciso uma automergulho nas
profundezas da mente que possa trazer a esse ser condições de, também, acordar para
vivências mais saudáveis.
Concluindo, trago um pensamento que
avalio ser pertinente tanto ao psicanalista como ao paciente dentro do viés do
olhar para as suas/nossas neuroses:
“SE NÃO
CONHEÇO A MINHA PRÓPRIA CASA FICA DIFÍCIL RECEBER VISITAS” ROGERS, 1961.
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Psicanalista em formação:
Lígia Maria Bezerra de Oliveira/ 2013
Bibliografia:
Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas de Sigmund Freud-VolumeIII- Traduzido do Alemão e do Inglês
sob a Direção Geral e Revisão Técnica de Jayme Salomão- Rio de Janeiro, IMAGO EDITORA,
1976.
ZIMERMAN, David E.
Fundamentos Psicanalíticos:
teoria, técnica e clínica- uma abordagem didática/David E. Zimerman- Porto
Alegre, Artmed, 1999.
Zimerman, David E.
Psicanálise em perguntas e
respostas- verdades, mitos e tabus/ David E. Zimerman/ Porto Alegre: Artmed, 2005
Kahn, Michael
Freud básico: Pensamentos
psicanalíticos para o século xxi- Michael Kahn, tradução de Luiz Paulo
Guanabara- 2 ed.- Rio de Janeiro,Civilização Brasileira, 2005.