sábado, 3 de janeiro de 2015

Psicanálise- Psiconeuroses e Neuroses Atuais






O presente trabalho tem como objetivo o estudo das teorias freudianas sobre as neuroses.

O material do estudo foi baseado no Volume III, Primeiras Publicações Psicanalíticas, Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud e, livros de psicanalistas mais contemporâneos, citados ao término do trabalho.
A psicanálise tem o seu foco voltado à compreensão da dinâmica da mente, sendo essa entendida de forma ampla: psique, afeto, emoção... e,  como esses movimentos mentais podem contribuir aos distúrbios evolutivos do comportamento.
 A atuação da psicanálise busca a raiz das dificuldades e os caminhos que irão proporcionar o equilíbrio emocional, afetivo, mental...
Para tal, paciente e analista precisam juntos, buscar os conteúdos submersos da mente do paciente, seus significados e como esses podem estar trazendo sofrimento ao ser.
Para iniciar nosso estudo podemos dizer que  as neuroses surgem de uma não compreensão dos sentimentos e dos conflitos intrapsiquicos não resolvidos pela pessoa. E sabendo-se que todos os seres humanos convivem com conflitos, podemos dizer também, que todos somos neuróticos, uns com mais intensidade e outro com menos.
Para entender melhor acerca de como se originam as neuroses vejamos:

A pessoa sente um impulso do ID, tido por ela como proibido por ser de conteúdo erótico, agressivo, vingativo, incestuoso... O EGO entende que se alguns desses desejos se realizarem o SUPEREGO trará como resultado a culpa, a acusação, a vergonha... Assim sendo o EGO recalca o desejo e o leva para longe da consciência, protegendo-se da ansiedade mediante a utilização dos mecanismos de defesa.

Quando a pessoa se defronta, mais adiante, com situações semelhantes às passadas que foram recalcadas, mas, afetivamente guardadas no inconsciente, ocorre uma estimulação dos antigos, sentimentos, e perdas.
O EGO trabalha para que os impulsos e desejos proibidos não se realizem. Esses conteúdos reprimidos empreendem uma luta contra esse caminho, através de movimentos que o EGO não tem o controle. Desta forma cria uma representação substituta: o SINTOMA- NEUROSE- O CONTEÚDO LATENTE DO SUJEITO.

No livro III, Primeiras Publicações Psicanalíticas, quando Freud aborda acerca do Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos, seu olhar se volta mais para o aprofundamento da Histeria ( psiconeurose de defesa) chamada por Chacort de “  Neurose Maior”
Reflito sobre o sofrimento daqueles que desenvolveram, naquela época, sintomas histéricos, em função da forma pela qual eram olhados dentro de uma lente de loucura, preconceitos, julgamentos...
O aprofundamento das teorias freudianas veio auxiliar aquela pessoa que além de não  entender as suas dores, ainda é vista como dissimulada, vez que não apresentava lesão aparente, doença “exposta”, visivelmente.
Encontramos nas páginas 42 e 43 do Volume III,a seguinte explicação:
“... Aprendemos desse modo, para dizê-lo em termos grosseiros, que há uma experiência afetivamente marcante por trás da maioria dos fenômenos histéricos, se não de todos”
Observamos que na histeria é reforçada a vivência do desejo, da emoção, do afeto, que mesmo reprimidos continuam  circulando na pessoa. A pessoa arquiva o desejo, mas a vontade continua viva e pode ser revivida a qualquer momento na forma de uma neurose histérica.
O exemplo registrado na página 44 explica de forma prática a compreensão da neurose histérica.
O caso fala sobre uma mulher que apresentava quadro de histeria de conversão apresentando quadro forte de anorexia...
O evento significativo anterior afetivo se deu pela leitura, dessa paciente, de uma carta contendo conteúdo de humilhações bem antes de uma refeição. A atitude doentia  da repulsa à comida persistiu por grande período, caracterizando dessa forma em uma histeria de conversão.

Observamos então que a relação histérica do exemplo acima foi uma resposta do sistema nervoso que não teve poder para administrar a lembrança afetiva, se utilizando assim de somatizações, ataques histéricos e a cronificação desses sintomas.
O processo analítico irá favorecer ao paciente neurótico, a vivência da repetição dos seus sintomas com o objetivo de liberar o afeto que está estrangulado, na busca da cura do sintoma.
Freud fala sobre a importância da análise reforçando que a mesma é uma “tentativa de converter as forças mais importantes de inimigas em aliadas” (FREUD BÁSICO, pag.261).
O processo analítico investiga junto ao paciente as causas das suas enfermidades psicológicas, na sua grande maioria vindas da infância, ansiedades iniciais do nascimento, Édipo, Complexo de Castração, eventos que ocorreram há muito tempo, mas continuam exercendo poder e influências significativas ao paciente.
Obsessões e Fobias (Psiconeuroses)
Obsessões:
As obsessões e fobias são neuroses distintas com mecanismos e etiologias específicos. Na maioria dos casos (não sendo uma obsessão intensa) são imagens inalteradas de eventos importantes.” (pag.89)
“Dois fatores são presentes em toda obsessão:
  a- Uma ideia que se impõe ao paciente.
  b- Um estado emocional associado.”                  .
O fato relevante no paciente obsessivo é o estado emocional inalterado, enquanto a ideia pode variar.
É essencial se fazer uma diferenciação entre pacientes que apresentam pequenos traços de obsessão, como organização e limpeza, daqueles que se comportam de forma significativamente obsessiva que podem vir acompanhados de neurose mista, perversão, psicose.
Percebemos que os pacientes obsessivos reforçam em si  elevado  grau de sofrimento, aos outros  e a sua dinâmica de vida como um todo, uma vez que vivenciam uma rotina de repetição, atos motores, os quais são realizados e desfeitos uma quantidade de vezes, pois esse não feitos trarão maior ansiedade ao paciente.
Para exemplificar observemos o exemplo dado por Freud nas páginas 69/70:
Uma jovem esposa que tivera apenas um filho em cinco anos de casamento, queixou-se  a mim que sentia um impulso obsessivo de atirar-se pela janela, ou de uma sacada, e queixou-se também do temor de apunhalar seu filho, temor que a acometia quando ela via uma faca afiada. Admitiu que raramente acontecia o intercurso sexual, sempre sujeito a precaução contra a concepção, mas afirmou que não sentia falta disso por não ser de natureza sensual”.
“Nesse ponto aventurei-me a dizer-lhe que à vista de um homem ela tinha idéias eróticas e que, portanto perdera a confiança em si própria e que se considerava uma pessoa depravada capaz de qualquer coisa.”
Na maioria dos casos as obsessões têm como base de origem sentimentos sexuais reprimidos. A obsessão representa então o substituto da ideia sexual recalcada, pois sabemos bem como  aquilo que é recalcado tenta se expressar.
Os sintomas mais frequentes da pessoa obsessiva são; pensamentos ruminativos, repetições motoras, rituais, controle onipotente... Seu principal mecanismo é a substituição do desejo anterior (proibido) por outro.

Fobias:
O mecanismo das fobias é em tudo diferente da obsessão. A substituição não é o traço mais dominante... nada se encontra além do estado emocional da ansiedade. ( Freud,pag. 96)
A origem das fobias tem como pilar três fatores: temor de encontrar com aspectos da sexualidade reprimida, medo de se confrontar com os aspectos agressivos e o discurso terrorífico dos pais.
Exemplificando acerca do discurso de terror dos pais aos filhos podemos citar um exemplo dado, registrados por Zimerman, 2005, pag.174:
 “Mãe apavorada que manda os filhos cobrirem janelas e espelhos e terem atitudes medrosas em relação a trovões e relâmpagos e se contam histórias amedontradoras, é bem possível que esteja fabricando um filho fóbico a dias chuvosos”,( Zimerman, 2005)
É necessário um conhecimento amplo acerca dos tipos de fobia, aquelas que observamos ser mais comuns, como medo da morte, doença, escuridão... das fobias contingentes que se caracterizam pelo temor e atitudes de evitação de situações  e objeto os quais não despertam medo nas pessoas em geral.
É essencial observarmos que tanto nos quadros fóbicos como nos obsessivos não está presente a somatização, desta forma também não encontramos a conversão.
Todavia Freud fala sobre a existência de fobias puramente histéricas. São os casos onde o paciente rejeita a ideia incompatível juntamente com o afeto, e apresenta um  comportamento como se essa ideia nunca tivesse existido. Nesses casos observamos que o paciente desenvolve uma “confusão alucinatória”.
O ego pratica a fuga para se defender da ideia incompatível.
Ex: “Mãe que se perde pela perda do seu bebe, e agora embala nos seus braços um pedaço de madeira”
Freud aborda volta sua atenção também à Neurose de Angústia- (neuroses atuais)
A investigação acerca da etiologia da neurose de angústia aponta para causas originadas na vida sexual, sendo de maneira geral, o resultado de todos aqueles fatores que impedem a excitação sexual somática de ser exercida psiquicamente.
O quadro principal é a presença de uma expectativa ansiosa e nesse capítulo do volume III, Freud fala da neurastenia e da hipocondria.
O paciente com neurose de angústia apresenta sintomas de irritabilidade em geral, expectativa angustiante, pânico, medos exagerados, mania de duvidar, ataques de angústia respiratória, dores cardíacas, tremores, diarreias, vertigens...
É necessário ao entendimento da neurose de angústia, se fazer uma diferenciação da manifestação da neurose em relação ao homem e a mulher, pontos bem explicados no Volume III, Freud.
Os sintomas da Neurose de Angústia comuns ao homem e a mulher são: a vivência da prática de se masturbar, e quando não mais utilizam essa prática podem ficar reféns da neurastenia, vez que, muitas vezes, não desenvolvem a tolerância para  aguentar a resistência.
Outra causa comum ao homem e a mulher em relação à neurose de angústia tem como fator a exaustão física e psicológica em função de grande carga de trabalho, cuidados com familiares adoentados...
A neurose de angústia pode oscilar em duração e intensidade, e, pode acontecer, em alguns casos, a neurastenia ser uma resposta da fadiga física ou mental.
A anamnese dos pacientes revela que os sintomas da neurose de angústia, em algum período definido, sucederam aos sintomas de alguma outra neurose- talvez da neurastenia e tomaram o seu lugar.

“... onde quer que ocorra  uma neurose mista, será possível descobrir uma mistura de várias etiologias” (Freud, 132).
Os quadros de ansiedade podem acontecer mediante a combinação de vários sintomas e podemos entender que o analista deverá ter um olhar aprofundado e sistêmico no que se refere a busca da origem dos comportamentos do seu paciente.
Ex: Uma mulher que já tinha um quadro de histeria, por estar no casamento praticando o coito interrompido, estará predisposta a desenvolver uma neurose de angústia e trazer comportamentos respectivos dos dois quadros.
Todavia é importante que saibamos que a histeria e a neurose de angústia não se combinam uma com a outra:
“... a diferença é simplesmente que na neurose de angústia a excitação se expressa é puramente somática (excitação sexual somática) enquanto que na histeria é psíquica (provocada por um conflito).” (pag.134)

 Conclusão:

Reflitamos sobre o poder curativo da psicanálise, trabalhado, conjuntamente pelo analista e o paciente.
Esse relacionamento vai possibilitando ao paciente trazer à tona forças inconscientes, muito ocultas e também muito poderosas, ao mesmo tempo em que busca se identificar e se compreender as dificuldades e recursos,
Diante do estudo das neuroses, pilar da estrutura do comportamento humano, pode-se ir compreendendo a relevância das vivências da infância e das suas duradouras consequências à vida como um todo, podendo daí resultar em neuroses que se fixam em sentimentos os quais poderão trazer à vida do ser humano o seu adoecimento.
Pode-se também ir-se à busca da compreensão sobre em que condições as pessoas aprenderam a amar e se preciso for, elaborar condições para que esse caminho aconteça  de forma mais inteira.

 O processo psicanalítico possibilita olhar para o ser humano e entender o quanto da sua vida interior pode trazer sentimentos de medo, culpa, vergonha, acusação, punição, ansiedade, sabendo que essa formação para ser melhor compreendida será preciso uma automergulho nas profundezas da mente que possa  trazer  a esse ser condições de, também, acordar para vivências mais  saudáveis.

Concluindo, trago um pensamento que avalio ser pertinente tanto ao psicanalista como ao paciente dentro do viés do olhar para as suas/nossas neuroses:

SE NÃO CONHEÇO A MINHA PRÓPRIA CASA FICA DIFÍCIL RECEBER VISITAS” ROGERS, 1961.

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                  Psicanalista em formação: Lígia Maria Bezerra de Oliveira/ 2013
Bibliografia:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud-VolumeIII- Traduzido do Alemão e do Inglês sob a Direção Geral e Revisão Técnica de Jayme Salomão- Rio de Janeiro, IMAGO EDITORA, 1976.
ZIMERMAN, David E.
Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica- uma abordagem didática/David E. Zimerman- Porto Alegre, Artmed, 1999.
Zimerman, David E.
Psicanálise em perguntas e respostas- verdades, mitos e tabus/ David E. Zimerman/ Porto  Alegre: Artmed, 2005
Kahn, Michael

Freud básico: Pensamentos psicanalíticos para o século xxi- Michael Kahn, tradução de Luiz Paulo Guanabara- 2 ed.- Rio de Janeiro,Civilização Brasileira, 2005.

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