quinta-feira, 28 de maio de 2015

Convivendo Com a Raiva






Ouvi certa vez em um filme, que não me lembro o nome, uma conversa entre pai e e filho que  falava sobre a utilidade da raiva. Fiquei pensando como na minha vida essa citação, poucas vezes,  foi realidade. A raiva tinha para mim um gosto abafado, proibido e contido.  Penso que talvez por não querer ver, que a raiva mais genuína era direcionada para o meu jeito medroso  de entender essa minha emoção.


Atualmente,  percebo que sentir raiva pode ser vulnerabilidade, mas também força e coragem. Nos momentos raivosos nos sentimos limitados, contudo, também cheios de uma energia intensa.  Essa  energia bem administrada facilitará condições  à solução de impasses, que se não resolvidos gerarão uma estrada prolongada de ressentimento e   nos paralisar na vivência do rancor.


Importante ainda, quando da vivência do sentimento da raiva, entendermos o que essa emoção diz da gente: Se estamos engolindo muitos sapos, se os sapos são menores ou maiores do que pensamos, se esse sentimento é direcionado àquele momento,  ou se  é decorrência de vários motivos guardados.  Como estou "guardando" essa raiva? Sou pouco amadurecido e cheio de melindres? O que estou querendo negar, abafar e pedir quando expresso ou escondo minha raiva ?Será  que a pessoa a quem eu direciono essa emoção está pisando no meu pé, já faz tempo, ela não sente, ou não quer sentir e eu preciso reagir para que ela perceba?

Outro viés pelo qual precisamos olhar para a raiva é  nos perguntando o que  queremos controlar e não estamos conseguindo? Como compreender que o excesso de controle  despertará sentimentos de frustração e mágoas, funcionando como um gatilho para sentimentos raivosos?

Sabemos que esses sentimentos são respostas naturais e até saudáveis e podem significar protesto, indignação, impotência,  agressividade, descontrole, frustração, ação, reação...

Quando voltamos nosso olhar ao processo humano de amadurecimento podemos empreender um esforço no sentido de saber reconhecer os passos que necessitamos caminhar para a compreensão da raiva que impulsiona para ação criativa, assertiva a um melhor conhecimento de mim, do outro e das situações,  daqueles passos que nos aprisionam numa visão de túnel onde todos os outros lados estão encobertos por uma visão que consideramos como verdadeira  e única: nossos motivos raivosos. Nesse caso não seria delegar ao outro por quem nutrimos essa emoção o poder de gerenciar nosso pensamento, nosso sentimento e uma boa fatia das nossas ações?

Obs- Importante refletir que o sentimento da raiva, em algumas situações, pode alimentar emoções e ações que trazem consequências negativas, até mesmo devastadoras. Assim sendo, faz-se necessário um observação atenta em separar o sentimento da raiva que destrói e adoece,  daquele sentimento raivoso que  na sua essência traz uma energia criativa, positiva e saudável .

Reflexão:
Quando voce direciona sua raiva para alguém  o que percebe que direciona para voce?
Em que momento voce entende que a raiva pode ser útil?

                                                        Lígia Oliveira-Terapeuta de família e casal

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Pai e Mãe : O Papel das Frustrações na Educação dos Filhos / Um pouco da Teoria Psicanalítica





Observando a relação mãe/pais e filhos entendemos a necessidade de uma compreensão, de forma geral, do papel das frustração na nossa vida. Esse olhar nos leva a compreensão de uma das funções essenciais da mãe, e por que não paterna, no sentido de ajudar ao filho no entendimento de como experenciar de forma saudável suas frustrações.

É fato que as frustrações são muito presentes durante todo o decorrer  da vida. Vemos como elas são indispensáveis ao desenvolvimento afetivo, emocional,cognitivo, social...

Todavia, é preciso atenção   no sentido dos pais avaliarem  como essas frustrações  podem ser vivências adequadas ao crescimento ou terem conteúdo e dinâmica patogênicos.

Assim sendo, as frustrações se mostram nocivas à pessoa na medida em que  podem ser evitadas pelos pais, sem prejuízo para nenhuma das partes, e não são; quando são demasiadamente escassas e exageradas, ou ainda, continuamente, incoerente, ou seja como diz o psicanalista David Zimerman: "gratificar rápido demais estimula a simbiose ( excesso de ligação/mãe/filho); gratificar lento demais  gera protesto porque é vivido pelo bebe como frustração."

As experiências da frustração podem  ser adequadas quando são necessárias ao aprendizado da criança e reforçam condições à estruturação sadia da personalidade. Contudo, também podem ser  inadequadas e desestruturantes.

Segundo Zimermam, pag. 108 e 109, no seu livro Fundamentos Psicanalíticos, as frustrações inadequadas tem origem numa dessas três possibilidades:

" São por demais escassas, em cujo o caso, a mãe tende a resolver todas as necessidade e desejos da criança, antecipando-se à capacidade dessa de poder pensar para achar soluções para os problemas criados. Assim,  a mãe não só inibe no filho, a capacidade para pensar, como também, ao mesmo tempo, ela reforça, excessivamente, a onipotência  e a vigência do " princípio do prazer.

Quando são continuadamente exageradas, tanto na intensidade como numa possível quantidade de injustiça contra o filho,essas frustrações geram na criança um sentimento de falta de autonomia, raiva, ódio intenso, ansiedade...

As frustrações incoerentes que provocam na criança um estado de confusão, instabilidade, e permanente sobressalto quanto à reação dessa mãe enigmática"

 Concluindo, Zimerman pontua sobre essas três formas patogênicas de educar os filhos: severidade excessiva, indulgência excessiva e incoerência nas atitudes dos educadores, reforçando a pior de todas que seria a indiferença pela criança.

Enquanto pais, educadores e terapeutas  reflitamos acerca de como podemos desenvolver nos nossos filhos, educando e pacientes, atitudes mais saudáveis no aprendizado da vida.
         Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal e psicanalista em formação.
  Base de estudo:David Zimerman: Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, Técnica e Clínica

terça-feira, 19 de maio de 2015

ALIENAÇÃO PARENTAL


ESCOLAS COMO FACILITADORAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL

 

                                                                                                                                                      

Ednalda Gonçalves Barbosa*
 

Nos últimos anos muito se tem falado sobre o fenômeno da alienação parental, prática esta ocorrida geralmente após rompimentos conjugais, onde os filhos são envolvidos nas querelas parentais e passam a ser usados como instrumentos de vingança direcionados ao genitor não guardião.

 

A vasta literatura que versa sobre o assunto dá conta de que se trata de fenômeno que transcende barreiras de raça, gênero, religião, classe social, nacionalidade, etc., numa infeliz constatação de que crianças e adolescentes são revitimizados constantemente por aqueles que deveriam ser os principais promotores de seu bem estar.

 

Aproveitando este sábado, 25 de abril, eleito como Dia Internacional de Combate à Alienação Parental, exponho minha intenção de trazer para o debate reflexões acerca da participação de atores externos à família, que podem colaborar na perpetuação do fenômeno em discussão.

 

No exercício profissional cotidiano, tenho me deparado com situações onde identificamos a participação de escolas, agindo de maneira por assim dizer “desavisada” e que reforçam comportamentos considerados alienantes, a saber: não inserção do nome e demais dados referentes ao outro genitor na documentação escolar; envio de comunicação apenas ao responsável pela matrícula; aceitação de argumentação do guardião relativa à proibição de acesso do genitor não guardião no ambiente escolar, etc.

Felizmente essas e outras condutas foram levadas em consideração na Lei da Guarda Compartilhada recentemente aprovada, de modo que a possibilidade de implementação de multas às escolas foi instituída. Tal mecanismo visa, no meu entender, servir de alerta para que as escolas não sejam coparticipantes na perpetuação da Alienação Parental.

 

 
  • Assistente Social e Terapeuta Familiar do Tribunal de Justiça de Pernambuco.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Eu Comigo Mesma



Eu Comigo Mesma

Hoje ao acordar, em função de um sonho, não muito bom, que eu tive, revivi lembranças de conversas  repetitivas que tenho comigo mesma.

Fiquei refletindo:

Quantas são as vezes que ficamos aprisionados no passado e consciente ou inconscientemente,  não queremos nos soltar dessas amarras?

Essas lembranças retornam, de vez em quando, e parecem nos dizer : OLHA PARA"ISSO" MENINA!.  Todavia, logo mais adiante esquecemos  essas sábias palavras e colocamos no "outro" o movimento que trará como resultado nossa liberdade?

Que liberdade é essa? 

Chamo essa postura de cegueira adquirida por não querermos olhar para dentro: Só farei isso se alguém fizer aquilo, ou quando aquela pessoa se comportar diferente ...me pedir desculpas, vier falar comigo,ou até mesmo não falamos nada, na esperança,( ou seria desesperança?) de que o outro adivinhe nossos desejos...

Convoco todos que assim se sentem a se comportarem e a entrarem  nos seus/nossos sentimentos na procura da compreensão do que eles estão a  nos dizer e as chances  que eles estão a nos oferecer. 

Compreendo que nesse percurso há  momentos de raras oportunidades para um aprendizado mais genuíno e inteiro, da gente com a gente mesmo, com nossos familiares, amigos...

O presente está acontecendo agora... O futuro está nascendo já, já  O passado tem muita lembrança boa, mas também as ruins que  ficam batendo na nossa porta, tomando a forma de mágoas, ressentimentos, dores...sequestrando nosso ser, nos intimando a favorecer atitudes ressentidas, mesquinhas, infelizes.

Hoje, vou aos poucos, olhando para esse lado meu, conversando com ele, mas também respeitando os meus limites que são ainda maiores do que eu pensava.

Nesse momento procuro ir exercitando a compreensão que para sermos mais felizes, precisamos de " desistir de  ter um passado melhor."( Irvin Yalom) e seguir na elaboração do presente, quem sabe de maneira mais leve, mais real e não por isso menos feliz.

     Lígia Oliveira- Terapeuta de família, casal e psicanalista.