O Contínuo Abraço da
Mágoa
Atendimento
a um casal em conflito: A conversa seguia na busca dos principais motivos que
os levara à Terapia de Casal. Dentre as múltiplas razões, uma razão menos
falada com palavras, mas compreendida mediante olhares, gestos e
expressões faciais se sobressaía: a mágoa. "Ela" estava
ali presente como uma ponte que os levava, cada vez mais, ao distanciamento
afetivo.
O
momento era repleto de olhares quase só voltados ao outro, muito mais
"naquilo" que o outro tinha de "pior".
Falar
acerca do outro na sua "dimensão menor", trazia ao casal um
sentimento de revolta, ou seria de desvalia, ressentimento? Não saberia bem
definir, pois por mais que nós terapeutas nos aprofundemos na experiência do
outro, esse esforço não nos aproxima tão intensamente, das suas dores. Tive a
compreensão que a dor"falada" parecia menor do que a
experiência sofrida.
Percebia
os dois sozinhos, cada um com a sua visão, razão, sem motivação à da busca da
aproximação da dor do outro.
Refletimos
juntos que a continuidade daquele caminho pelo casal poderia trazer como
consequência a "instalação" de alguns outros monstros como a
mágoa ressentida, vingativa e essa quando alimentada, investe em
conversas que nos aprisionam, trazendo um clima interior de guerra silenciosa,
onde é necessário ver que o primeiro a ser morto é a gente mesmo.
Como
terapeutas precisamos acolher, explorar, compreender
e ressignificar junto aos clientes suas conversas destrutivas,
como ainda fazer nascer e ampliar as construtivas.
Leva
tempo, requer abertura, idas e vindas, escuta compassiva da dor vista, falada,
vivida e revivida.
Essencial
entendermos como as mágoas cresceram nesses contextos de falta, revoltas,
ressentimentos,e, outros "amigos" que se instalam como
"companheiros de viagem".
.
Para
onde o casal quer olhar?
Se a
escolha for investir em percurso do entendimento recíproco, e, quem sabe
do perdão, o caminho tenderá a ser reestruturado com passos mais
verdadeiros e ao mesmo tempo mais afetivos.
Todavia,
se o casal resolver dar as costas às possibilidades de melhoria afetiva,
então teremos como consequência estradas com mais desamor.
Até
quando e para que preciso ficar presa a essa minha necessidade de sofrimento,
fazendo minha minha alma viver refém da lamentação?
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