sábado, 3 de janeiro de 2015

Psicanálise- Psiconeuroses e Neuroses Atuais






O presente trabalho tem como objetivo o estudo das teorias freudianas sobre as neuroses.

O material do estudo foi baseado no Volume III, Primeiras Publicações Psicanalíticas, Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud e, livros de psicanalistas mais contemporâneos, citados ao término do trabalho.
A psicanálise tem o seu foco voltado à compreensão da dinâmica da mente, sendo essa entendida de forma ampla: psique, afeto, emoção... e,  como esses movimentos mentais podem contribuir aos distúrbios evolutivos do comportamento.
 A atuação da psicanálise busca a raiz das dificuldades e os caminhos que irão proporcionar o equilíbrio emocional, afetivo, mental...
Para tal, paciente e analista precisam juntos, buscar os conteúdos submersos da mente do paciente, seus significados e como esses podem estar trazendo sofrimento ao ser.
Para iniciar nosso estudo podemos dizer que  as neuroses surgem de uma não compreensão dos sentimentos e dos conflitos intrapsiquicos não resolvidos pela pessoa. E sabendo-se que todos os seres humanos convivem com conflitos, podemos dizer também, que todos somos neuróticos, uns com mais intensidade e outro com menos.
Para entender melhor acerca de como se originam as neuroses vejamos:

A pessoa sente um impulso do ID, tido por ela como proibido por ser de conteúdo erótico, agressivo, vingativo, incestuoso... O EGO entende que se alguns desses desejos se realizarem o SUPEREGO trará como resultado a culpa, a acusação, a vergonha... Assim sendo o EGO recalca o desejo e o leva para longe da consciência, protegendo-se da ansiedade mediante a utilização dos mecanismos de defesa.

Quando a pessoa se defronta, mais adiante, com situações semelhantes às passadas que foram recalcadas, mas, afetivamente guardadas no inconsciente, ocorre uma estimulação dos antigos, sentimentos, e perdas.
O EGO trabalha para que os impulsos e desejos proibidos não se realizem. Esses conteúdos reprimidos empreendem uma luta contra esse caminho, através de movimentos que o EGO não tem o controle. Desta forma cria uma representação substituta: o SINTOMA- NEUROSE- O CONTEÚDO LATENTE DO SUJEITO.

No livro III, Primeiras Publicações Psicanalíticas, quando Freud aborda acerca do Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos, seu olhar se volta mais para o aprofundamento da Histeria ( psiconeurose de defesa) chamada por Chacort de “  Neurose Maior”
Reflito sobre o sofrimento daqueles que desenvolveram, naquela época, sintomas histéricos, em função da forma pela qual eram olhados dentro de uma lente de loucura, preconceitos, julgamentos...
O aprofundamento das teorias freudianas veio auxiliar aquela pessoa que além de não  entender as suas dores, ainda é vista como dissimulada, vez que não apresentava lesão aparente, doença “exposta”, visivelmente.
Encontramos nas páginas 42 e 43 do Volume III,a seguinte explicação:
“... Aprendemos desse modo, para dizê-lo em termos grosseiros, que há uma experiência afetivamente marcante por trás da maioria dos fenômenos histéricos, se não de todos”
Observamos que na histeria é reforçada a vivência do desejo, da emoção, do afeto, que mesmo reprimidos continuam  circulando na pessoa. A pessoa arquiva o desejo, mas a vontade continua viva e pode ser revivida a qualquer momento na forma de uma neurose histérica.
O exemplo registrado na página 44 explica de forma prática a compreensão da neurose histérica.
O caso fala sobre uma mulher que apresentava quadro de histeria de conversão apresentando quadro forte de anorexia...
O evento significativo anterior afetivo se deu pela leitura, dessa paciente, de uma carta contendo conteúdo de humilhações bem antes de uma refeição. A atitude doentia  da repulsa à comida persistiu por grande período, caracterizando dessa forma em uma histeria de conversão.

Observamos então que a relação histérica do exemplo acima foi uma resposta do sistema nervoso que não teve poder para administrar a lembrança afetiva, se utilizando assim de somatizações, ataques histéricos e a cronificação desses sintomas.
O processo analítico irá favorecer ao paciente neurótico, a vivência da repetição dos seus sintomas com o objetivo de liberar o afeto que está estrangulado, na busca da cura do sintoma.
Freud fala sobre a importância da análise reforçando que a mesma é uma “tentativa de converter as forças mais importantes de inimigas em aliadas” (FREUD BÁSICO, pag.261).
O processo analítico investiga junto ao paciente as causas das suas enfermidades psicológicas, na sua grande maioria vindas da infância, ansiedades iniciais do nascimento, Édipo, Complexo de Castração, eventos que ocorreram há muito tempo, mas continuam exercendo poder e influências significativas ao paciente.
Obsessões e Fobias (Psiconeuroses)
Obsessões:
As obsessões e fobias são neuroses distintas com mecanismos e etiologias específicos. Na maioria dos casos (não sendo uma obsessão intensa) são imagens inalteradas de eventos importantes.” (pag.89)
“Dois fatores são presentes em toda obsessão:
  a- Uma ideia que se impõe ao paciente.
  b- Um estado emocional associado.”                  .
O fato relevante no paciente obsessivo é o estado emocional inalterado, enquanto a ideia pode variar.
É essencial se fazer uma diferenciação entre pacientes que apresentam pequenos traços de obsessão, como organização e limpeza, daqueles que se comportam de forma significativamente obsessiva que podem vir acompanhados de neurose mista, perversão, psicose.
Percebemos que os pacientes obsessivos reforçam em si  elevado  grau de sofrimento, aos outros  e a sua dinâmica de vida como um todo, uma vez que vivenciam uma rotina de repetição, atos motores, os quais são realizados e desfeitos uma quantidade de vezes, pois esse não feitos trarão maior ansiedade ao paciente.
Para exemplificar observemos o exemplo dado por Freud nas páginas 69/70:
Uma jovem esposa que tivera apenas um filho em cinco anos de casamento, queixou-se  a mim que sentia um impulso obsessivo de atirar-se pela janela, ou de uma sacada, e queixou-se também do temor de apunhalar seu filho, temor que a acometia quando ela via uma faca afiada. Admitiu que raramente acontecia o intercurso sexual, sempre sujeito a precaução contra a concepção, mas afirmou que não sentia falta disso por não ser de natureza sensual”.
“Nesse ponto aventurei-me a dizer-lhe que à vista de um homem ela tinha idéias eróticas e que, portanto perdera a confiança em si própria e que se considerava uma pessoa depravada capaz de qualquer coisa.”
Na maioria dos casos as obsessões têm como base de origem sentimentos sexuais reprimidos. A obsessão representa então o substituto da ideia sexual recalcada, pois sabemos bem como  aquilo que é recalcado tenta se expressar.
Os sintomas mais frequentes da pessoa obsessiva são; pensamentos ruminativos, repetições motoras, rituais, controle onipotente... Seu principal mecanismo é a substituição do desejo anterior (proibido) por outro.

Fobias:
O mecanismo das fobias é em tudo diferente da obsessão. A substituição não é o traço mais dominante... nada se encontra além do estado emocional da ansiedade. ( Freud,pag. 96)
A origem das fobias tem como pilar três fatores: temor de encontrar com aspectos da sexualidade reprimida, medo de se confrontar com os aspectos agressivos e o discurso terrorífico dos pais.
Exemplificando acerca do discurso de terror dos pais aos filhos podemos citar um exemplo dado, registrados por Zimerman, 2005, pag.174:
 “Mãe apavorada que manda os filhos cobrirem janelas e espelhos e terem atitudes medrosas em relação a trovões e relâmpagos e se contam histórias amedontradoras, é bem possível que esteja fabricando um filho fóbico a dias chuvosos”,( Zimerman, 2005)
É necessário um conhecimento amplo acerca dos tipos de fobia, aquelas que observamos ser mais comuns, como medo da morte, doença, escuridão... das fobias contingentes que se caracterizam pelo temor e atitudes de evitação de situações  e objeto os quais não despertam medo nas pessoas em geral.
É essencial observarmos que tanto nos quadros fóbicos como nos obsessivos não está presente a somatização, desta forma também não encontramos a conversão.
Todavia Freud fala sobre a existência de fobias puramente histéricas. São os casos onde o paciente rejeita a ideia incompatível juntamente com o afeto, e apresenta um  comportamento como se essa ideia nunca tivesse existido. Nesses casos observamos que o paciente desenvolve uma “confusão alucinatória”.
O ego pratica a fuga para se defender da ideia incompatível.
Ex: “Mãe que se perde pela perda do seu bebe, e agora embala nos seus braços um pedaço de madeira”
Freud aborda volta sua atenção também à Neurose de Angústia- (neuroses atuais)
A investigação acerca da etiologia da neurose de angústia aponta para causas originadas na vida sexual, sendo de maneira geral, o resultado de todos aqueles fatores que impedem a excitação sexual somática de ser exercida psiquicamente.
O quadro principal é a presença de uma expectativa ansiosa e nesse capítulo do volume III, Freud fala da neurastenia e da hipocondria.
O paciente com neurose de angústia apresenta sintomas de irritabilidade em geral, expectativa angustiante, pânico, medos exagerados, mania de duvidar, ataques de angústia respiratória, dores cardíacas, tremores, diarreias, vertigens...
É necessário ao entendimento da neurose de angústia, se fazer uma diferenciação da manifestação da neurose em relação ao homem e a mulher, pontos bem explicados no Volume III, Freud.
Os sintomas da Neurose de Angústia comuns ao homem e a mulher são: a vivência da prática de se masturbar, e quando não mais utilizam essa prática podem ficar reféns da neurastenia, vez que, muitas vezes, não desenvolvem a tolerância para  aguentar a resistência.
Outra causa comum ao homem e a mulher em relação à neurose de angústia tem como fator a exaustão física e psicológica em função de grande carga de trabalho, cuidados com familiares adoentados...
A neurose de angústia pode oscilar em duração e intensidade, e, pode acontecer, em alguns casos, a neurastenia ser uma resposta da fadiga física ou mental.
A anamnese dos pacientes revela que os sintomas da neurose de angústia, em algum período definido, sucederam aos sintomas de alguma outra neurose- talvez da neurastenia e tomaram o seu lugar.

“... onde quer que ocorra  uma neurose mista, será possível descobrir uma mistura de várias etiologias” (Freud, 132).
Os quadros de ansiedade podem acontecer mediante a combinação de vários sintomas e podemos entender que o analista deverá ter um olhar aprofundado e sistêmico no que se refere a busca da origem dos comportamentos do seu paciente.
Ex: Uma mulher que já tinha um quadro de histeria, por estar no casamento praticando o coito interrompido, estará predisposta a desenvolver uma neurose de angústia e trazer comportamentos respectivos dos dois quadros.
Todavia é importante que saibamos que a histeria e a neurose de angústia não se combinam uma com a outra:
“... a diferença é simplesmente que na neurose de angústia a excitação se expressa é puramente somática (excitação sexual somática) enquanto que na histeria é psíquica (provocada por um conflito).” (pag.134)

 Conclusão:

Reflitamos sobre o poder curativo da psicanálise, trabalhado, conjuntamente pelo analista e o paciente.
Esse relacionamento vai possibilitando ao paciente trazer à tona forças inconscientes, muito ocultas e também muito poderosas, ao mesmo tempo em que busca se identificar e se compreender as dificuldades e recursos,
Diante do estudo das neuroses, pilar da estrutura do comportamento humano, pode-se ir compreendendo a relevância das vivências da infância e das suas duradouras consequências à vida como um todo, podendo daí resultar em neuroses que se fixam em sentimentos os quais poderão trazer à vida do ser humano o seu adoecimento.
Pode-se também ir-se à busca da compreensão sobre em que condições as pessoas aprenderam a amar e se preciso for, elaborar condições para que esse caminho aconteça  de forma mais inteira.

 O processo psicanalítico possibilita olhar para o ser humano e entender o quanto da sua vida interior pode trazer sentimentos de medo, culpa, vergonha, acusação, punição, ansiedade, sabendo que essa formação para ser melhor compreendida será preciso uma automergulho nas profundezas da mente que possa  trazer  a esse ser condições de, também, acordar para vivências mais  saudáveis.

Concluindo, trago um pensamento que avalio ser pertinente tanto ao psicanalista como ao paciente dentro do viés do olhar para as suas/nossas neuroses:

SE NÃO CONHEÇO A MINHA PRÓPRIA CASA FICA DIFÍCIL RECEBER VISITAS” ROGERS, 1961.

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                  Psicanalista em formação: Lígia Maria Bezerra de Oliveira/ 2013
Bibliografia:
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas de Sigmund Freud-VolumeIII- Traduzido do Alemão e do Inglês sob a Direção Geral e Revisão Técnica de Jayme Salomão- Rio de Janeiro, IMAGO EDITORA, 1976.
ZIMERMAN, David E.
Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica- uma abordagem didática/David E. Zimerman- Porto Alegre, Artmed, 1999.
Zimerman, David E.
Psicanálise em perguntas e respostas- verdades, mitos e tabus/ David E. Zimerman/ Porto  Alegre: Artmed, 2005
Kahn, Michael

Freud básico: Pensamentos psicanalíticos para o século xxi- Michael Kahn, tradução de Luiz Paulo Guanabara- 2 ed.- Rio de Janeiro,Civilização Brasileira, 2005.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014




     MEUS MAIS SINCEROS VOTOS DE UM ANO REPLETO DE LUZ!

              ligia oliveira- terapeuta casal/ família e individual/psicanalista

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

FELIZ!







Esse ano quero PAZ no meu coração e serenidade e FÉ para a minha ALMA,

Agradeço ao ano de 2014 as inúmeras visitas feitas a mim pela senhora ESPERANÇA,

as várias batidas na minha porta da senhora RAZÃO,

a quantidade de olhares da  senhora LEVEZA,

as múltiplas motivações para COMEÇAR DE NOVO,

as inúmeras situações ensinadas a mim pela senhora ACEITAÇÃO,

as várias ocasiões do necessitar abrir NOVAS FRESTAS, JANELAS E PORTAS,

as motivações para adentrar em NOVOS RUMOS

os verdadeiros momentos de amor com MINHA FAMÍLIA

A CLAREZA DE QUE ALÉM DE TUDO ISSO EXISTE UMA ENERGIA DE LUZ QUE NOS APÓIA,ENGRANDECE,E NOS AMPLIA NOSSA CONDIÇÃO DE PLENITUDE E AMOR.

É NATAL, ESTÁ CHEGANDO UM NOVO ANO: MAIS UM MOMENTO EM NOSSAS VIDAS PARA VOLTAR A FLORESCER!

lígia

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

COMENTÁRIOS DOS LEITORES


 


  Avaliei que seria muito legal compartilhar comentários dos leitores do blog.
  Essas mensagens me motivam, me fazem refletir, me adoça o coração e a alma!
  Muito grata!

" É necessário que o amor esteja expresso no que se diz, sobretudo, no que se faz. Concordo que amar
 é uma escolha. Mas acho que é uma escolha cotidiana. É como se todos os dias você acordasse e, com gestos (às vezes, grandes; outras vezes, pequenos), renovasse a escolha de amar. Isso me faz pensar que, além da poesia, o amor tem que caminhar com uma certa dose de racionalização, de pé no chão. Como algo que não é incondicional. Que, se não for cuidado, pode morrer. Ouso até dizer (porque é muita ousadia fazer isso diante de uma especialista no assunto) que o amor não é suficiente para manter uma relação. Agora, em um sentido mais geral, concordo com o comentário acima, que coloca o amor como uma escolha de vida. O amor não como algo que você vai encontrar ou viver. Mas como óculos. Como pele. Como algo que a gente é. E ao sermos juntos, como algo que nos une a um parceiro, a outras pessoas e ao mundo.

Muito gostoso o papo por aqui. Seguimos conversando! Um beijo"

Edna Granja

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

RESENHA SOBRE A NEUROSE OBSESSIVO- COMPULSIVA






A NEUROSE OBSESSIVO- COMPULSIVA

Esse artigo tem como proposta abordar, em linhas gerais, a neurose obsessivo- compulsiva dentro de um olhar psicanalítico, denominada, na atualidade no DSM IV de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) CID-10.
Minha escolha se deve tanto em relação à curiosidade do tema por conhecer pessoas próximas que tem essa neurose, (sou terapeuta de casal e familiar e psicanalista em formação) como ainda por observar em momentos da minha vida ter me comportado como portadora de alguns traços obsessivos compulsivos, herdados do lado materno, tais como: exagerada cobrança em relação ao perfeccionismo das tarefas e o olhar voltado a uma exigência demasiada em limpeza e organização.
Por outro lado a vivência desses mesmos traços me levou a um processo terapêutico rico e repleto de chances do descobrimento do viver através de formas mais inteiras e leves. A terapia, essa grande aliada facilitou a minha jornada na busca da compreensão e ressignificação desses comportamentos obsessivos compulsivos.
Interessante perceber que no meu percurso eu tinha a clareza da falta de nexo das ideias intrusivas. No entanto, a ação em fazer o ritual comandado pela mente ganhava o jogo no alívio da ansiedade.
Há alguns anos venho exercitando mais leveza, como também me permitindo concluir as tarefas dando um limite que corresponde à realização de uma ação cuidadosa do bem fazer, todavia, não mais me tornando refém do perfeccionismo. Hoje, através de processo analítico, me lanço na busca não só do enfrentamento dos sintomas vivenciados, mas também daquilo que sustentava o comportamento disfuncional.

A NEUROSE OBSESSIVO- COMPULSIVA

A Neurose Obsessivo- Compulsiva traz ao seu portador um alto grau de sofrimento pessoal e social, uma vez que a pessoa percebe que as suas ideias obsessivas, como suas compulsões, além de  serem exagerados, são também irracionais. Todavia, essa constatação não impede a atitude repetitiva- defensiva.
Diz Zimerman:
“Como acontece em outras estruturações de personalidade, também a de natureza obsessivo-compulsiva diz respeito à forma e o grau de como se organizam os mecanismos defensivos do ego diante de fortes ansiedades subjacentes”.( Psicanálise em Perguntas e Respostas,,pag.177,2005)
Na sua obra, “O Homem dos Ratos” (1909) Freud fala, mediante o aprofundamento dos relatos do seu cliente, que é o erotismo anal que prevalece na organização sexual do neurótico obsessivo compulsivo. Defende que a obsessão está sempre relacionada a uma regressão sexual da fase anal.
Freud segue no estudo da neurose obsessiva, e, através da Segunda Tópica nos faz entender acerca das pulsões de vida e de morte e o relevante papel do superego, sendo identificado como principal censor do ego, o qual desenvolve e amplia uma experiência pautada no medo de ser punido pelo superego. Essa vivência traz como consequência sintomas de ansiedade presentes na neurose obsessivo- compulsiva.
O constante conflito entre o ego e o superego é explicado da seguinte forma: Ao trabalhar o recalque o ego busca em obediência ao superego, banir as pulsões sexuais provenientes do id. Desta forma, lança mão de reações tais como nojo, asseio, vergonha.  Então o superego como excelente censor comanda as ações do ego, restando a esse conseguir satisfação por meio de sintomas.
Freud afirma que “o medo que o ego tem do superego, na verdade é o medo da morte, que numa análise mais profunda, desemboca no medo da castração”.
O DSM-IV refere-se aos transtornos obsessivos compulsivos como transtornos de ansiedade, vez que é a ansiedade o sintoma primário ou a causa primária de outros sintomas.
Zimerman (Fundamentos Psicanalíticos, 1999) pontua sobre a necessidade de um olhar cuidadoso da obsessividade, no que se refere a diferenciação do grau em que “ela” se apresenta nas pessoas:

1-    Traços obsessivos em uma pessoa normal, ou traços acompanhantes de uma neurose mista, uma psicose, uma perversão;


2-    Caráter marcadamente obsessivo;


3-    Neurose obsessivo compulsiva.


A pessoa que tem um caráter, marcadamente, obsessivo apresenta em seu comportamento traços fortes de controle, dúvida, intolerância, disciplina, moralidade... Todavia, essas posturas não trazem grandes prejuízos e sofrimentos. Experiências clínicas e a literatura científica observam que os indivíduos com caráter obsessivo, desde que não seja exagerado são aquelas pessoas que trazem aspectos funcionais de ordem, disciplina, respeito...
Em relação ao neurótico obsessivo compulsivo o grau de sofrimento é ampliado, também em função da pessoa ter consciência das suas ideias e atos “absurdos”. O neurótico obsessivo fica refém das suas repetições ideativas, sofrendo pela intensidade dos pensamentos ego- distônicos, atormentado pela ampliação da ansiedade, que para ser aliviada necessita da vivência de comportamentos que obedecem a rituais denominados de compulsões.
Esses atos em casos mais sérios comprometem a vida pessoal, familiar, social, profissional, trazendo um acentuado nível de incapacitação diante da vida.
É importante observar que “o termo obsessão refere-se aos pensamentos, que como corpos estranhos infiltram-se na mente e atormentam os indivíduos, enquanto que por sua vez, o termo compulsão designa os atos motores que o neurótico executa como uma forma de contra-arretar a pressão dos referidos pensamentos” (Zimerman,1999)
Essa vivência neurotizada propicia ao neurótico, uma constante ambivalência relacional, por ele ficar preso dentro de um círculo insano de pensamentos esquisitos, que poderão trazer a paralisação das suas ações cotidianas.Contudo, são muitos os obsessivos que conseguem ter uma vida normal na frente dos outro, em função da sua capacidade cognitiva não ser prejudicada.
É interessante observar que as compulsões são ampliadas quando as pessoas estão em casa”, pois ao mesmo tempo em que a sua casa é um símbolo de proteção uterina é também palco de suas maiores angústias e fraquezas neuróticas”.


Zimerman, no seu livro Fundamentos Psicanalíticos aborda sobre os fatores etiológicos mais marcantes na Neurose Obsessivo -Compulsiva.
Na presente resenha trago de forma resumida, as principais causas:
Pais com superego rígido e punitivo.
Exagerada carga de agressão mal administrada pelo ego, falha na capacidade de síntese do ego e discriminação que perturbam o obsessivo.
Conflito intra-sistêmico- ego sob o controle do superego primitivo, e, ao mesmo tempo pressionado pelas pulsões do id. Também dentro do próprio id as pulsões de morte e de vida podem estar em forte conflito ( amor, ódio).
Importância da defecação da criança e suas fantasias presentes no ato de defecar, significado das crianças às fezes, relações parentais com a criança acerca da representatividade do ato de defecar, ou essa ação como um movimento da criança de conquista, controle e punição.
Fixação do pensamento infantil sobre o ato de defecar, segundo Freud quando a criança equipara as fezes ao pênis, bebês e presente

Descrevo, agora, de maneira geral as principais características clínicas do obsessivo compulsivo:
Sintomas de ordem, limpeza, regras, excesso de escrúpulos, podendo essa obsessividade ser expressa dentro de dois perfis distintos: a forma passiva( relacionada a fase retentiva anal) e a  forma ativa( fase anal expulsiva). No primeiro perfil estaria o neurótico passivo- submetido, ou seja: pessoas que têm uma necessidade imensa de agradar, medo de perder o amor das pessoas. Exagero de falas com gentilezas forçadas onde o, por favor, desculpa... são ampliados e aqueles  que desenvolvem atitudes masoquistas.
Estão no segundo perfil dos obsessivos os do tipo ativo- sub metedor, resultado de uma identificação com o agressor, muitas vezes reforçando atitudes de controle excessivo para com os outros que tem o objetivo de ser o dono absoluto da verdade, sendo todos esses pensamentos permeados por um sentimento constante de culpa.
Os neuróticos obsessivos se utilizam de mecanismos defensivos tais como:
Anulação (ação que desfaz o que já foi feito, sentido ou pensado), isolamento (que consiste em inibir o afeto do pensamento) formações reativas (comportamentos que procuram negar os sentimentos que trazem ansiedade), racionalização e intelectualização (muitas vezes utilizadas na análise através da resistência).
A escolha das suas relações objetais tem como foco  um olhar disjuntivo, separado por dois polos distintos ou seja pessoas que se caracterizam a complementação  dos tipos :sádico-masoquista,dominador- dominado...
Olham a sexualidade através da analidade, com excesso de cuidado com a higiene, desenvolvendo um sentimento de propriedade ou proprietário do parceiro. Tem também na sua relação sexual uma exagerada moralidade para a vivência da sexualidade anal e oral que a vida adulta aos casais pode propiciar.
Quando há uma obsessividade narcísica a pessoa demonstra, mesmo que sob a máscara da modéstia, uma superioridade, ou seja, ela é a pessoa mais honesta, mais certa, mais disciplinada...
Instalada a obsessão narcísica o neurótico desenvolve um medo crescente de um fracasso no orgasmo ou na potência o que o leva ao desenvolvimento de um ciclo vicioso de medo e evitação da intimidade sexual, o que pode resultar em comportamentos de isolamento e fobia.
Alguns dos sintomas mais comuns da neurose obsessivo- compulsiva se apresentam nas seguintes posturas: excesso de lavagem das mãos, mania de limpeza, rituais de higiene, preocupar-se acentuadamente com germes e contaminações, verificar repetitivamente o fechamento de portas, janelas, dar valor excessivo a números e contagens, pensamentos catastróficos, simetria neurótica, pensamentos voltados à punição e morte.
É interessante ressaltar uma característica forte no obsessivo: sua habilidade ao pensar. Ele cogita, pensa e desenvolve uma extensa ruminação mental, repleta de dúvidas, rituais e uma vivência sofrida de uma consciência de culpa constante.
Em relação ao trabalho analítico, é essencial que o psicanalista aprofunde o seu olhar e atenção, para que o obsessivo compulsivo não engendre mecanismos próprios que consiga prevalecer o seu controle, mediante a utilização dos seus múltiplos comportamentos defensivo.
“ O maior cuidado que o analista deve ter consiste na possibilidade de ele se deixar equivocar pela colaboração irretocável desse paciente que costuma ser obsessivamente correto, assíduo, bom pagador... porém existe a possibilidade de que esse analisando esteja cumprindo a tarefa de ser bom paciente, do que alguém disposto a fazer mudanças verdadeiras”. (Zimeman).
 Entendemos que a obsessividade é o resultado da atuação dos mecanismos de defesa contra a ansiedade, e que mediante um trabalho compartilhado, passo a passo, entre analista e analisando, poderão ser construídos caminhos que  trabalharão na busca da transformação dessas forças inimigas em forças aliadas. 

Lígia Oliveira- terapeuta de família e casal e psicanalista


Bibliografia:
Zirmeman,David,E.Psicanálise em perguntas e respostas: verdades,mitos e tabus/David E.  Zimerman- Porto Alegre:Artmed,2005

Fundamentos Psicananlíticos: teoria, técnica e clínica- uma abordagem didática- Porto Alegre: Artmed, 1999.

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PSICANÁLISE - RESENHA SOBRE A NEUROSE OBSSESSIVA COMPULSIVA PARTE II








Parte II

Descrevo,agora,de maneira geral as principais características clínicas do obsessivo compulsivo:

Sintomas de ordem, limpeza, regras, excesso de escrúpulos, podendo essa obsessividade ser expressa dentro de dois perfis distintos: a forma passiva( relacionada a fase retentiva anal) e a  forma ativa( fase anal expulsiva). No primeiro perfil estaria o neurótico passivo- submetido, ou seja: pessoas que têm uma necessidade imensa de agradar, medo de perder o amor das pessoas. Exagero de falas com gentilezas forçadas onde o, por favor, desculpa... são ampliados e aqueles  que desenvolvem atitudes masoquistas.
Estão no segundo perfil dos obsessivos os do tipo ativo- sub metedor, resultado de uma identificação com o agressor, muitas vezes reforçando atitudes de controle excessivo para com os outros que tem o objetivo de ser o dono absoluto da verdade, sendo todos esses pensamentos permeados por um sentimento constante de culpa.
Os neuróticos obsessivos se utilizam de mecanismos defensivos tais como:
Anulação (ação que desfaz o que já foi feito, sentido ou pensado), isolamento (que consiste em inibir o afeto do pensamento) formações reativas (comportamentos que procuram negar os sentimentos que trazem ansiedade), racionalização e intelectualização (muitas vezes utilizadas na análise através da resistência).
A escolha das suas relações objetais tem como foco  um olhar disjuntivo, separado por dois polos distintos ou seja pessoas que se caracterizam a complementação  dos tipos :sádico-masoquista,dominador- dominado...
Olham a sexualidade através da analidade, com excesso de cuidado com a higiene, desenvolvendo um sentimento de propriedade ou proprietário do parceiro. Tem também na sua relação sexual uma exagerada moralidade para a vivência da sexualidade anal e oral que a vida adulta aos casais pode propiciar.
Quando há uma obsessividade narcísica a pessoa demonstra, mesmo que sob a máscara da modéstia, uma superioridade, ou seja, ela é a pessoa mais honesta, mais certa, mais disciplinada...
Instalada a obsessão narcísica o neurótico desenvolve um medo crescente de um fracasso no orgasmo ou na potência o que o leva ao desenvolvimento de um ciclo vicioso de medo e evitação da intimidade sexual, o que pode resultar em comportamentos de isolamento e fobia.
Alguns dos sintomas mais comuns da neurose obsessivo- compulsiva se apresentam nas seguintes posturas: excesso de lavagem das mãos, mania de limpeza, rituais de higiene, preocupar-se acentuadamente com germes e contaminações, verificar repetitivamente o fechamento de portas, janelas, dar valor excessivo a números e contagens, pensamentos catastróficos, simetria neurótica, pensamentos voltados à punição e morte.
É interessante ressaltar uma característica forte no obsessivo: sua habilidade ao pensar. Ele cogita, pensa e desenvolve uma extensa ruminação mental, repleta de dúvidas, rituais e uma vivência sofrida de uma consciência de culpa constante.
Em relação ao trabalho analítico, é essencial que o psicanalista aprofunde o seu olhar e atenção, para que o obsessivo compulsivo não engendre mecanismos próprios que consiga prevalecer o seu controle, mediante a utilização dos seus múltiplos comportamentos defensivo.
“ O maior cuidado que o analista deve ter consiste na possibilidade de ele se deixar equivocar pela colaboração irretocável desse paciente que costuma ser obsessivamente correto, assíduo, bom pagador... porém existe a possibilidade de que esse analisando esteja cumprindo a tarefa de ser bom paciente, do que alguém disposto a fazer mudanças verdadeiras”. (Zimeman).
 Entendemos que a obsessividade é o resultado da atuação dos mecanismos de defesa contra a ansiedade, e que mediante um trabalho compartilhado, passo a passo, entre analista e analisando, poderão ser construídos caminhos que  trabalharão na busca da transformação dessas forças inimigas em forças aliadas. 
  
Ligia Oliveira- terapeuta de família e casal e psicanalista


Bibliografia:
Zirmeman,David,E.Psicanálise em perguntas e respostas: verdades,mitos e tabus/David E.  Zimerman- Porto Alegre:Artmed,2005

Fundamentos Psicananlíticos: teoria, técnica e clínica- uma abordagem didática- Porto Alegre: Artmed, 1999.


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