Re- historiando vidas
A terapia familiar narrativa tem o seu modelo
baseado no Construcionismo Social. Os significados dados aos fatos pelas
pessoas é o seu principal alvo.
Michael White juntamente com David Epston, na
década de 1970 foram os pioneiros da visão construcionista social da terapia
familiar.
Harlene Anderson e Harry Goolishian entre os anos
de 1980 a 1990, trabalharam seguindo a linha construtivista, dentro de uma
forma que facilitou uma postura mais democrática entre terapeuta e cliente.
Juntamente com Lyn Hoffman e outros formaram um grupo de terapeutas narrativos,
o qual reforçava uma visão pós- moderna da terapia, que tinha como principal
objetivo o cuidar .
Foi desenvolvida ainda uma visão mais cooperativa
e horizontal do papel do terapeuta, desmistificando a sua postura de perito, de
especialista.
Outro profissional muito importante na
democratização do processo terapêutico foi o psiquiatra norueguês Tom
Andersen, criador da equipe reflexiva.
Nessa abordagem narrativa, além do terapeuta e do
co- terapeuta na sala de terapia, uma equipe de terapeutas observa a terapia
por trás de um espelho, em uma sala específica. Esses observadores, quando
chamados pelo terapeuta, e com a devida autorização dos clientes, vão até a
sala e fazem suas observações acerca do processo, mas sem interagir com os
clientes, que somente voltam a falar depois que a equipe reflexiva se retira.O
terapeuta explica aos familiares que se quiserem podem falar acerca do que foi
dito pela equipe.
A função da equipe reflexiva, como bem fala o
nome, é fazer os familiares refletirem sobre algum assunto, considerado
significativo pela equipe, que não ficou claro, ou não foi muito explorado, ou
apenas silenciado...A função da equipe reflexiva é principalmente tocar os
clientes naqueles significados que são essenciais à uma melhor compreensão dos
sentimentos, pensamentos, vivências...
"Esse processo cria um ambiente aberto em
que a família se sente parte da equipe, e os terapeutas sentem mais empatia
pela família".
É necessário que na abordagem colaborativa, o
terapeuta possa adotar uma legítima posição do não saber ( não ter a
verdade que os clientes tanto pedem), e procurar desenvolver genuína
curiosidade pelos processos familiares.
Um outro grande colaborador à psicologia pós-
moderna foi o psicólogo social Knneth Gergen( 1985) construtivista, que
reforçou o poder das interações sociais na criação dos significados das
pessoas. Os terapeutas colaborativos se baseiam em Gergen ao explicar o self
como um fenômeno socialmente construído.
O Construcionismo Social afirma que não existe o
monopólio da verdade, vez que as verdades são construções sociais. Sendo o
processo terapêutico um local de diálogo, os terapeutas e clientes,
colaborativamente, podem trabalhar conversando sobre os diversos significados
mediante respeito e flexibilidade, investindo juntamente com o grupo familiar à
construção de novas leituras.
A terapia narrativa afirma que os problemas não
estão nas pessoas ( visão psicanalítica) ou nos relacionamentos ( teoria
sistêmica) e sim nos pontos de vista, nos significados relativos as pessoas e
suas interações. Uma função terapêutica essencial é fazer os clientes reverem e
reavaliarem os seus pontos de vista.
" Importante observar que as explicações e
histórias que contamos a nós mesmos, organizam a nossa experiência e moldam
nosso comportamento".
Essa histórias são valiosas: Determinaram nosso
passado, constrem nosso presente e podem criar o nosso futuro. Por esse motivo
a necessidade de um olhar mais atencioso às histórias que precisam ser mantidas
e àquelas que necessitam de transformação nos seus significados, para a
melhoria do clima familiar.
Com essa visão o terapeuta narrativo trabalha
junto com os clientes para que possam compreender e transformar suas histórias
problemáticas em significados mais construtivos, através de uma visão
desconstrutiva das suas histórias atuais. Utilizam para tal várias técnicas,
dentre as quais ressalto a Externalização. Essa técnica leva
ao cliente a olhar o problema fora da sua pessoa. O problema passa a ter
"vida própria", para que a pessoa possa analisar os pressupostos
incapacitantes que apóiam a dificuldade.
Por exemplo: Um homem se identifica como depressivo
e tenderá a ver o mundo através dessa lente.
Se o homem for levado a refletir que a sua
depressão está levando a melhor, então talvez consiga se lembrar de situações
de eficácia, nos quais não foi vencido por uma atitude deprimida.Nesse momento,
reforça-se sua eficácia e vitória.
Michael White não aceitava que as pessoas
ficassem reféns das suas histórias derrotistas. Procurava mostrar que as
pessoas não são os seus problemas, reforçando, como estratégia terapêutica, em
situações pertinentes, confiança crescente nos seus clientes.
Outra técnica muito eficiente é o mapeamento da
influência do problema sobre a família. O terapeuta propicia uma exploração,
ouvindo cada um dos familiares, acerca dos significados que as dificuldades tem
para eles e para a família como um todo.
A etapa seguinte é o mapeamento dos recursos da
famíla, ou seja, as influências da família sobre o problema.
Na maioria do processo terapêutico as
intervenções são mediante perguntas. Raramente se faz interpretações, ou
afirmações.
Investindo-se, continuadamente em perguntas
reflexivas, o terapeuta vai realizando o que denominamos de perguntas de
influência relativa. Perguntas tais como: Quando dona agressividade consegui te
dominar? Qual a atitude que dona agressividade mais faz voce fazer? Quando os
seus ataques de fúria viram que já não tinham mais força sobre você? Quando
Maria conseguiu reagir a tremenda pressão que o alcoolismo exerce nela?
As estratégias da terapia narrativas seguem tres
estágios:
1- Estágio narrativo do problema: reformular o
problema como uma aflição ( externalizar) ao focar seus efeitos em vez das suas causas;
2- Encontro de exceções: achar triunfos parciais
sobre o problema e exemplos de ação efetiva;
3- Recrutamento de apoio
Abaixo relacionamos os principais tipos de
perguntas que são usadas, com mais frequente, na terapia narrativa:
Perguntas de
desconstrução:-Externalização do problema.
Ex:O que a sua ansiedade faz voce fazer?
Perguntas para abrir espaço: -Descobrir
resultados positivos.
Ex : Cite um momento onde a ansiedade poderia ter
assumido o seu controle mas voce não permitu.
Perguntas de preferência: -Saber se os
resultados positivos representam experiências preferidas.
Ex: Essa forma de lidar com a ansiedade foi
melhor ou pior para voce?
Perguntas sobre o desenvolvimento da
história- Criação de uma história a partir de um resultado positivo.
Ex :Quem seria a primeira pessoa a perceber essa
mudança positiva em você?
Perguntas sobre significados- Desafiar
modelos negativos de si e enfatizar o positivo.
Ex: O que essa forma mais positiva de lidar com
as situações diz de você?
Perguntas para estender a história para o
futuro- Apoiar a atitude de mudança e reforçar a capacidade.
Ex :Diante desse seu progresso, como voce se ver
no próximo ano?
"A abordagem familiar narrativa baseia-se em
duas metáforas organizadas: narrativa pessoal e construção social... os
terapeutas narrativos quebram os grilhões das histórias prejudiciais ao
externalizar os problemas e criam espaços de flexibilidade e esperança".
Lígia Oliveira-terapeuta de família/casal e psicanalista.
Base de leitura para o resumo : Terapia familiar: conceitos e métodos/Michael P.Nicchols, Richard C.
Schwartz; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese-7ed.-Porto Alegre : Artmed, 2007
Lígia Oliveira-terapeuta de família/casal e psicanalista.
Base de leitura para o resumo : Terapia familiar: conceitos e métodos/Michael P.Nicchols, Richard C.
Schwartz; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese-7ed.-Porto Alegre : Artmed, 2007
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