PSICANÁLISE E ADOLESCÊNCIA:POSSIBILIDADES DE UM DIÁLOGO CRIATIVO( Recorte da conclusão de um artigo cientifico) Ligia Oliveira
A fase do adolescer é um período
do ciclo vital que traz como característica principal complexas demandas que
exigem e oportunizam ao adolescente investimento no processo de formação da
pessoa, enquanto sujeito, dos seus pensamentos, sentimentos, escolhas,
decisões, ações...
Percebe-se desta forma, que
durante a adolescência o jovem desenvolve um trabalho psíquico singular na
ressignificação da sua identidade.
Trabalhar o tema Psicanálise e
Adolescência é adentrar na compreensão da complexa dinâmica, mental, psíquica e
comportamental pela qual passa o adolescente e no conhecimento e na vivência da
psicanálise, seus princípios, fundamentação teórica e prática clínica,
elementos essenciais que o psicanalista precisa aprofundar para a criação e
manutenção de um clima propício ao desenvolvimento de uma prática clínica que
favoreça aos seus pacientes adolescentes condições a um processo terapêutico
criativo e saudável.
O processo da adolescência vai
oportunizando, aos poucos e ao mesmo tempo, intensamente, ao adolescente, à
procura da sua autonomia, e, para tal, o jovem precisa sentir, refletir e viver
os seus múltiplos eus os fluxos afetivos, que em várias ocasiões lhe trazem
perturbações físicas, emocionais, psíquicas, afetivas influenciando,
significativamente, seu comportamento como um todo.
Passo a passo, segue o jovem em
um caminho de descobertas onde se percebe preso a processos identificatórios
que não mais o complementam.
O adolescente sente que necessita
descobrir e exercitar formas novas de relacionamento consigo mesmo, mediante a
realização de escolhas que sejam criadas a partir da forma pela qual ele começa
a compreender a si, as pessoas a sociedade.
Nesse momento, tem início o
difícil processo de diferenciação do seu até então principal modelo de
identificação: seus pais.
O adolescente passa a questionar
suas figuras parentais como modelos onipotentes, experenciando nesse percurso
pais e filhos complexa elaboração de
significativos e recíprocos lutos presentes no ciclo do adolescer.
É natural que o adolescente
percorra nessa fase de instabilidade emocional, ao mesmo tempo em que envolve
energia para poder se sentir bem sem a protetora influência direcionadora dos
seus pais. Essa postura traz ao jovem o imperativo de desenvolver
posicionamentos próprios que vão além da paisagem familiar.
É importante observar que a forma
pela qual os pais investem na qualidade do relacionamento com o seu filho, é
fator essencial ao processo de estruturação da sua subjetividade, como ainda
pelas condições desse filho se tornar pessoa diante de si dos outros e do mundo
que o cerca.
Muitas são as situações nas quais
o adolescente se percebe querendo “voltar” ao seu mundo infantil, e
concomitantemente, deseja se ver menos dependente do seu seguro colo familiar.
A vida sexual do jovem é rica em
sentimentos e redescobertas. O complexo de Édipo vivido no período infantil
traz significativas influências ao seu comportamento adolescente e surge como o
grande responsável pela sexualidade no adolescer.
A reedição do complexo de Édipo
infantil na adolescência produz importantes efeitos à criação e ao
desenvolvimento do seu EU.
Atualmente, tanto os pais dos
adolescentes como também o próprio jovem tem investido na busca de
profissionais que possam ajudá-los a compreender e a solucionar os conflitos
pertinentes a essa fase.
Torna-se imprescindível saber que
a adolescência como um todo, acontece como um processo no qual tanto os jovens,
como pais e a sociedade passam por situações de enfrentamentos conflituosos,
mas também criativos voltados a novos modelos de comportamentos.
O processo psicanalítico trabalha
o ser em movimento e possibilita ao seu paciente aprender a se escutar,
buscando o entendimento do que ele é e as suas principais demandas internas e
externas. Para tal, propicia ao analisando condições de refletir acerca das
suas possibilidades e limites e do como trabalhar no sentido de mudanças para
uma vida mais saudável.
O formato do setting desenvolvido
por Freud foi, aos poucos, necessitando de algumas adequações, de acordo com o
contexto histórico cultural de cada época, mas manteve como princípio essencial
ao relacionamento analítico, o setting como um local no qual seja reforçado ao
paciente o acolhimento, a confiança, o amparo, o respeito a sua dor, e a
facilitação da sua fala, silêncios e escuta.
Nesse processo, torna-se imperativo que o
psicanalista amplie sua compreensão e prática no que se refere aos elementos
indispensáveis da psicanálise, sua metodologia, seu fundamentação teórica, seu
instrumental técnico e a sua própria pessoa enquanto ser, como também aos
progressos e questionamentos da Psicanálise naquilo que se refere ao todo e a
área específica na qual o analista se dedica no caso desse artigo à psicanálise
com adolescentes.
É através da palavra na psicanálise
que a compreensão do paciente se expande para além do seu discurso. Seu papel
junto ao paciente é investir no olhar e no aprofundamento desse ser, na sua
historicidade, escolhas, decisões e na leitura dessa pessoa de acordo com a sua
singularidade..
O presente trabalho não se
reporta aos adolescentes que apresentam
distúrbios mais específicos. Portanto é necessário compreender o período do
adolescer como uma fase de vivência de
rebeldia, conflitos e desafios, naturais a esse ciclo para “não tentar
curar uma coisa que é essencialmente
sadia.”( Winnicott,2011)
Com o adolescente o processo analítico
objetiva atribuir um sentido ao seu sofrimento e segue trabalhando seus
conceitos e sentimentos, como esses foram moldados na sua psicodinâmica mental
e afetiva, seus processos inconscientes,focando o eu infantil para melhor
compreender e trabalhar condições à criação do eu adulto
dentro de um contexto mais saudável.
Bibliografia:
Aberastury,Arminda-
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Winnicottt, tradução Marcelo
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Nasio, Juan-David, 1942
Como agir com um adolescente difícil
( ponto de interrogação): Um manual para pais e profissionais J Násio;tradução
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Coutinho, Gageiro Luciana
A adolescência na
contemporaneidade: Ideal cultural ou sintoma social (interrogação)
Revista Científica Eletrônica de
Psicologia- ISSN: 1806-0625
Ano VII- número 12-maio- 2005- periódicos
semestral-
Uma leitura psicanalítica da
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Domingues, Mariana Rosa,
Domingues, Taciano Luiz Coimbra
Baracat,Juliana
Zimerman, David E.
Manual de técnica psicanalítica:
uma re-visão
David E Zimerman- Porto Alegre:
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