sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ofereço a Você






    www.terapiacasalefamilia.blogspot.com

Ofereço a você,mesmo sem saber se você quer, o sentimento da paciência que espia atenta as nossas idas e vindas nesse caminhar;

Ofereço a você minha casa enfeitada e colorida com abraço apertado e gosto de quero mais;

Ofereço a você as estradas que alimentam o nosso" ficar" e  "namorar"com vivências mais amenas  diante dos nossos erros, dúvidas e acertos;

Ofereço a você a coragem que se volta para caminhos que nos liberam de sentimentos que  aprisionam;

Ofereço a você a Fé que nos leva a Deus, nos ilumina e nos ajuda a acreditar no viver e no reviver;

Ofereço a você essa vontade calma de querer lavar, limpar, costurar e refazer muitas das nossas atitudes passadas e presentes, e, também, de querer trocar, desculpar, acreditar ou aceitar tantas outras;

Ofereço a você esse toque de despertar que nos faz viver essas "COISAS BOAS" que  sinto, vivo e levo agora, em energia para você.

Lígia Oliveira


sábado, 5 de novembro de 2016

Psicanálise- Lembranças Encobridoras


Estudo- O Mecanismo Psíquico do Esquecimento, Edição Standart  Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund  Freud, volume III.

Lembranças Encobridoras- páginas: 333 a 354

Roteiro para estudo e conversação em grupo:

1-      Lembranças Encobridoras são recordações nas quais o conteúdo manifesto é visto pelo sujeito como não significativo, banal.Todavia, esse conteúdo é rico em detalhes, sentimentos precisos e intensos, chegando muitas vezes  a serem alucinatórios.

2-      Desta forma, sob o manto de uma recordação aparentemente, banal, parece ter outras experiências da vida psíquica anteriores ( infantis), ou posteriores, bastante significativas que encontram nessas memórias, base para se manifestarem através de símbolos;  essas partes esquecidas contém tudo que essas lembranças significativas forma omitidas antes de serem e esquecidas.

3-      O que é registrado como imagem mnêmica não é a experiência Relevante. Essas cenas forma  retidas.
4-      O processo psicanalítico investe na busca do estudo e da compreensão das relações e conexões que existem entre o conteúdo psíquico das neuroses e a vida infantil do seu paciente.

5-      As crianças de 3  a 4 anos apresentam uma significativa organização mental em relação a sua compreensão emocional e não encontram-se razões óbvias que se explique a amnésia infantil.
6-      Alguns pacientes não se recordam dos seus primeiros anos de infância; outros só tem recordações a partir dos seus 6 anos.

7-      Pesquisa realizada em1895, pelos Henri ouviram 123 pessoas acerca das suas lembranças infantis; 82 delas trouxeram lembranças a partir dos 2 a 4 anos. As outras 61 pessoas só tinham recordações a partir dos 6 anos.

8-      Por que se  suprime aquilo que é importante e se retém o que é indiferente?
9-      Duas forças psíquicas estão presentes em lembranças encobridoras: UMA que dá ao fato, ação ou sentimento significado importante e a OUTRA que é uma resistência à recordação desagradável.
10-  A Lembrança Encobridora é o resultado desse processo.

11-  A Lembrança Encobridora seria um caminho para se encontrar outras
experiências conexas.

12-A resistência acontece pela existência de um conflito e de uma ideia censurável. Essa ideia censurável pode ser associativamente DESLOCADA, emergindo sob a forma de outra lembrança.

 13-O processo analítico vai trabalhar no aprofundamento dos motivos originais da retenção da lembrança ( retida)procurando compreender acerca da relação mantida pelo paciente, entre o conteúdo aparente e manifesto da sua lembrança e aquilo que foi suprimido, latente; os elementos essenciais omitidos.

14- Resumo do caso de um paciente citado no artigo:

     Sonho “infantil”- símbolos, campo, flores, cores,o paciente enquanto 
     criança, brincadeiras infantis, agressividade, recompensas...

15- O analista vai junto com o paciente trabalhando cuidadosamente na análise dessas lembranças que encobriam significados antes não compreendidos. Buscam os significados dos símbolos, experiências, mediante a Associação Livre.

16- Perguntas chaves trazem aos poucos o olhar mais curioso e atento do par analítico: Quando começaram essas lembranças, seu contexto, seus significados, o quanto essas recordações afetaram a  vida do paciente, em  quais  momentos  as lembranças apareciam..

17- Importante observar que nesse caso estudado as lembranças do paciente aconteceram quando ele tinha 17 anos e depois aos 21 e dentro de contextos que aludiam ao passado, mas na vivência de experiências das idades mencionadas.

18- Todavia as lembranças falavam de uma vontade do paciente em melhorar o seu passado. Ex. Se tivesse ficado na terra natal, hoje poderia estar...

19- Trabalho de análise seguindo na exploração e aprofundamento dos vários símbolos reforçados pelo paciente nas suas lembranças, provocando abertura e insights, trazendo condições ao paciente de ver como suas lembranças encobridoras ocultaram seus desejos, e quais as relações que podem existir entre o conteúdo manifesto e o que foi suprimido: o latente.

20-É essencial o cuidado ao processo de interpretação das lembranças, imagens, para NÃO atribuir um sentido culturalmente aceito às imagens, mas antes de tudo saber que os pacientes podem ter significados mais profundos e subjetivos.

21- Na maior parte das cenas infantis o sujeito se ver como uma criança que se observa como um observador externo. Desta maneira é evidente que quando fala de uma cena pode não ser uma repetição EXATA da impressão original, podendo essa recordação ser superelaborada.

22- Muitas lembranças da infância, quando faladas por outras pessoas revelam não terem sido tão verdadeiras.

23-Essas modificações estão a serviço de objetivos de repressão, repulsas, deslocamentos. A lembrança falsificada é a primeira que tomamos consciência; o conteúdo pelo qual a forjamos continua inconsciente.

24- O artigo QUESTIONA: SE TEMOS MESMO ALGUMA LEMBRANÇA DA NOSSA INFÂNCIA- LEMBRANÇAS RELATIVAS À NOSSA INFÂNCIA PODEM SER TUDO QUE POSSUÍMOS.

25-Lembranças infantis mostram nossos anos NÃO como foram, mas como nos aparecem nos anos posteriores em que as lembranças foram despertadas.
26- Ao despertar as lembranças encobridoras, elas não emergiram elas foram FORMADAS NESSA ÉPOCA.

Lígia Maria Bezerra de Oliveira- Abril-2015

domingo, 16 de outubro de 2016

HOMOAFETIVIDADE E TERAPIA FAMILIAR



HOMOAFETIVIDADE E   FAMILIAR FAMILIAR

Esse texto é fruto de reflexões acerca da homoafetividade baseada em referências teóricas e 
 casos  clínicos,os quais trabalhei em consultório. Deixo claro a necessidade de nós terapeutas familiares sistêmicos investirmos mais em estudo e trocas de experiências com outros profissionais e famílias, com objetivos voltados a um melhor aprofundamento do nosso entendimento e do entendimento do outro, em relação  aos significados do comportamento afetivo, cognitivo, emocional e social, individuais e familiares.

Compreendo que também é significativo a leitura da homoafetividade dentro de uma abordagem histórico cultural na qual possamos ampliar o conhecimento das diversas fases de interpretação que essa orientação sexual recebeu ao longo do tempo e suas diversas consequências no contexto individual, familiar e comunitário.

No livro Novas Abordagens da Terapia Familiar de Mcgoldrick, 2003, no capítulo 24 o qual fala sobre a homoafetividade, a autora faz a seguinte afirmação:  
 "É a família que transmite valores, crenças, e um sentido de ação, assim como um modelo, para o relacionamento. A família também é o principal transmissor das atitudes culturais, habituais, assim como das atitudes em relação a essas atitudes. Dentro dessa família os homens gays e as mulheres lésbicas lutam para estabelecer uma identidade pessoal que vai contra a identidade da família".
É essencial que nós terapeutas familiares possamos ampliar nosso foco mediante o entendimento das múltiplas visões, tanto da família que sofre, naquele estágio, por não compreender a homoafetividade de um dos seus membros, como da ansiedade do familiar homoafetivo que busca uma melhor compreensão da sua orientação sexual.

Uma função significativa aos terapeutas que desenvolvem trabalho com cliente homoafetivo é investir na abertura de um clima que facilite o complexo caminho de diferenciação da sua identificação gay e lésbica.

 Em relação aos pais observamos que precisamos trabalhar, gradualmente, o execício voltado ao autoreconhecimento da homoafetividade do seu filho (a).Essa dinâmica deve se basear, antes de tudo, no respeito e acolhimento dos sentimentos de todos os envolvidos, todavia também, em um olhar abrangente que procura junto à família rever crenças culturais, religiosas e culturais cristalizadas, e juntos caminhar na  desconstrução da idéia que a homoafetividade é patológica.

 Assim sendo, avaliamos que um papel básico incial da terapia é ver  a crise presente, naquele ciclo, como uma resposta familiar possível, olhá-la de frente, explorar os seus múltiplos significados e instrumentalizar a família como um todo, identificando suas possibilidade e limitações.
Entendemos que reforçar a prática sistêmica na direção da compreensão da reciprocidade das partes envolvidas no trabalho terapêutico envolve, entre outros, a atenção aos seguintes pontos:

  .  A família necessita de um tempo cronológico e emocional relativo ao sentimento da perda dos sonhos e projetos voltados ao filho homoafetivo;




  . A vivência do homoafetivo passa por fase de negação, ambivalência, tentativas sofridas de experiências heterossexuais, períodos de raiva, medo, ódio, depressão, até assumir seu self homoafetivo. Muitos, mesmo após a revelação, ainda vivem dentro de uma conspiração própria de segredo;

 .  Sofrimento emocional e psicológico do sistema familiar por muito tempo e a percepção que o processo de autoconhecimento que antecede a revelação é muito complexo;

 .  A revelação traz junto uma grande insegurança ao homoafetivo pelo medo da perda do apoio familiar; na maioria das vezes a revelação tem um alto preço.

. Revelação como meio de favorecer, por parte do homoafetivo, a autonomia da sua vida, investir na autoestima, como ainda facilitar condições para a melhoria do isolamento social;

. O membro homoafetivo deverá ser encorajado ao entendimento das possibilidade e limites dos pais, sendo explicado a necessidade do cultivo da paciência e empatia pelo sistema parental;

. Acolhimento aos pais a exporem suas lamentações, seus  conflitos pelas expectativas perdidas e não compreendidas em relação aos filhos e ao mito da família"normal";

. Muita vezes a revelação da homoafetividade de um dos filhos pode vivenciar um processo carregado de culpa, rejeição, vergonha. Alguns pais alimentam um movimento de racionalização, "acreditando" ser só uma fase do filho e tentam, ao máximo, mudar a orientação sexual do filho(a).

. Após a revelação da homoafetividade o relacionamento familiar poderá  desenvolver os seguintes comportamentos  em relação ao familiar homoafetivo:

      Distanciamento afetivo, físico  e emocional;
      Invisibilidade;
      Não aceitação e conflitos constantes;
      Aceitação restrita e contrato de silêncio para os não familiares;
      Aceitação e aproximação gradual da homoafetividade.

A Terapia Familiar trabalha no sentido de junto com a família rever e transformar suas interações em formas mais claras e positivas de comunicação. Procuramos investir na família mais voltados aos processos familiares, ajudando-os na ressignificação dos seus significados.

 Empreendemos esforço para que a família fortaleça  uma maneira mais efetiva e afetiva de compreender suas diferenças e  semelhanças, revendo que algumas mudanças são frutos de caminhadas lentas e que há situações nas quais não conseguimos mudar...Muito bom se ao darmos voltas juntos, terapeutas e clientes possamos, passo a passo ir desconstruindo escutas fechadas e esses novos significados facilitem construções de vida mais plena.

OBS- Leia também, Terapia de casal com casais homoafetivos,-Recife, editado em  julho de 2015

               Lígia Oliveira - Terapeuta familiar,  de casal e psicanalista

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Reconhecer Nossos Erros



Penso que um dos principais valores do movimento ao reconhecimento dos nossos erros é o exercício do aprendizado voltado à confiança em nós mesmos. Ouvi certa vez que mentir para nós  nos empobrece. Reflito que também nos paralisa.

Winnicott, em um dos seus livros falou que a diferença entre mães boas e mães ruins não eram os erros cometidos, mas o que elas faziam com eles.

E nós o que estamos fazendo com os nossos erros? Os repetimos, os acolhemos, os negamos, os justificamos, os terceirizamos, os reconhecemos?

Parar e com atenção observarmos nossos atos nocivos, procurarmos explorar seus significados, contextos e necessidades ajudará na facilitação de uma visão mais inteira do nosso ser. É preciso que a intencionalidade dessa avaliação não responda à causas culposas, vitimizadas, mas dirija-se a alimentarmos sentimentos e ações com mais liberdade e inteireza.

Avalio que essa postura não é simplesmente uma forma de se comportar baseada em referênciais morais. Vai além. Peitar a vida de cabeça erguida e coração aberto é entender que a primeira porta a ser aberta é a de dentro, o que nos trará força na alma e serenidade no coração.

Quantas vezes  nós não queremos reconhecer nossos erros. Nos sentimos apontados, vulneráveis, perdedores. Pior se  o que impede é o orgulho, sentimento que quando alimentado cria um grande muro, desnecessário, entre as pessoas, e mescla a energia relacional de distanciamento, arrogância e teimosia.

Aqueles que ficam na negação e repetição dos erros não cooperam com a descoberta de importantes chaves que poderão abrir seus quartos escuros.

Mudemos nossas escolhas. Por onde podemos começar?



                       Lígia Oliveira- Terapeuta de Casal e Família

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mansidão e Paciência


 Vamos juntos?

Ouvi certa vez de alguém  um pouco  mais velha do que eu, na época  tinha 34 anos, duas palavras que não sei porque ( mas vou aprofundar) estão sendo presentes na minha mente hoje já vivendo na década dos 60:

Mansidão e Paciência.

Fico recordando do como ouvia  e compreendia essas duas palavras naquela época lá atrás:

Sentia um gosto de acomodação,desculpa para a pessoa não se colocar, e até um sentimento de perda diante do outro que dava "razões"para  que eu não sentisse vontade  de  ser mansa, nem desenvolver a tão falada paciência.

Mas, respeitava aquela senhora que para mim, no momento, me trazia paz e vontade de ouvi-la mais e mais. Ela me passava um QUÊ de um sentimento, querido, calmo,todavia,não presente na minha pessoa.

Lembro agora o seu sorriso acolhedor que tão sabiamente me repassava a vivência de uma serenidade e de uma Fé realizante que embalavam as suas doces palavras. Ela se comportava de forma firme, muitas vezes ousada nas suas atitudes, mas trazia um perfume que me envolvia me encantavam: sua mansidão e paciência.

Hoje avalio que para nos motivarmos a viver de forma mais paciente e serena é preciso que  primeiro entendamos o significado dessas vivências nas nossas vidas,na minha e  na do outro.

Entendo que essas atitudes são escolhas conscientes,exercitadas da gente com a gente mesmo e, requerem reflexão,caminhos  nos quais as  brigas e as  pazes se completam em  muitos ciclos centenas de vezes.

Penso,hoje, nas pessoas que me despertam  e despertaram para vivências de mansidão e paciência.

 Olho para pessoas próximas,as que se encontram longe dos olhos,  as da minha infância, os amigos do coração,os colegas de trabalho...Agradeço a cada um  por terem me despertado para  ondas de serenidade e, motivação para ir além do momento presente da pressa,  do piloto automático, da  raiva, da reação,da falta de fé... Foram múltiplas as situações  nas quais fiquei na vontade.

Hoje,aos poucos  vou  querendo caminhar na busca de adocicar e serenar o meu passo,sem tanta ansiedade e pressa para que a mansidão e a paciência queiram ser morada em mim.

Hoje sinto que não está tão difícil essa caminhada!

 E aí,vamos juntos?

                Lígia Oliveira- Terapeuta de família/casal e individual na abordagem psicanalítica.


sábado, 13 de agosto de 2016

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                                                               Supervisão Psicanalítica I


Reverso vol.34 número, Belo Horizonte, dezembro de 2012

Sobre a supervisão- On supervision

Eliane Rodrigues Pereira Mendes

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.


Resumo do artigo-             Observações Importantes.


O artigo Sobre a Supervisão de Eliane Rodrigues pontua acerca do olhar à prática da Supervisão dentro da Psicanálise.

Ao mesmo tempo em que o texto registra a Supervisão como tema polêmico, reforça a necessidade de um maior estudo e fundamentação teórica sobre o assunto mediante movimentos que ampliem suas abordagens e campo de ação.

É necessário compreender o grande valor da Supervisão que junto aos seminários clínicos (pressupostos teóricos) e a análise pessoal formam a base do tripé da transmissão, teoria e prática da Psicanálise.


 O artigo demonstra que é essencial que sejam desenvolvidas mais pesquisas acerca do tema Supervisão em Psicanálise e que os psicanalistas procurem ter como postura profissional o conhecimento de pontos importantes tais como:


O que vem a ser a Supervisão.

Em que bases aconteceram a sua origem e seu desenvolvimento.

Quais seriam as necessidades do analista ir à busca do olhar de outro profissional para melhorar a sua prática.

Resultados teóricos e concretos da Supervisão.

Relevância da Supervisão ao processo psicanalítico como um todo.


A origem da Supervisão, em um modelo mais formal e organizado aconteceu por volta de 1920, em Berlim, através do trabalho dos psicanalistas Karl Abrahan e Max Eitingon diante da observação da fragilidade que alguns novos analistas apresentavam ao término da sua análise pessoal, na ocasião em que começavam o atendimento como psicanalista.

Alguns desses novos apresentavam um visível sentimento de desamparo.

Anterior a esse período já acontecia alguns movimentos, menos formais, de analistas no sentido desses irem buscar conversas e trocas com outros psicanalistas sobre seus atendimentos no viés mais direcionado à forma do fazer psicanalítico.

Podemos citar como exemplo o próprio Freud e a sua grandiosa correspondência endereçada a Fliess, as quais tratavam em seus relatos trabalhos desenvolvidos com clientes de Freud como também escritos sobre a autoanálise desse último.

No ano de 1920, em Berlim, foi criado o Centro de Formação Psicanalítica, clínica referência em Psicanálise.

 Nessa instituição a Supervisão tem sua presença dentro de uma organização de ensino e prática, mais voltada ao objetivo de controle aos analistas menos experientes, no sentido de agir mais diretamente como forma de evitar e diminuir os riscos que os novos psicanalistas poderiam correr na sua prática inicial. Essa postura sofreu múltiplas críticas até mesmo dos próprios analistas responsáveis pela Supervisão.

A IPA, International Psjchoanalytic Associaton, apresentava uma regra à prática clínica do psicanalista: necessidade do profissional ser supervisionado como também precisar receber uma autorização expressa dada por uma comissão, para poder clinicar, posição que causou muitas dúvidas e questionamentos a muitos psicanalistas naquela época.

Diante desses impasses a Clínica Psicanalítica da Hungria ( Sandor Ferenzi) apresenta o exercício da Supervisão como “um instrumento para analisar a contratransferência do candidato a psicanalista... A contratransferência se define como um conjunto de manifestações do analista relacionados comas transferências do seu paciente”( ROUDENESCO,1988,p.133).

Na segunda década do século XX, Lacan faz nascer a Escola Freudiana de Paris, EFP aprofunda seu olhar sobre a Psicanálise e dentro dessa, a Supervisão. Rompe com o IPA e procede as transformações significativas nas regras psicanalíticas, como ainda explora diversas formas de tratamentos, seminário, supervisões. Tal postura lacaniana denuncia o seu desejo de criar uma instituição “verdadeiramente freudiana que preservasse a liberdade e a política do inconsciente”.

Os membros da referida Escola poderiam escolher livremente os seus analistas, não teriam como imposição o divã, e não precisariam ser autorizados por uma instituição para o seu exercício da clínica.

É essencial salientar que Lacan defendeu a importância de se resguardar o sentido de autonomia do psicanalista “para autorizar-se por sua formação e, ainda registra sobre a importante e a fecunda passagem do analisando para analista.

Os múltiplos questionamentos direcionados ao modelo de Supervisão lacaniano trouxeram rompimentos no cerne da própria EFP, o que ocasionou a fundação de novas associações, regras e formatos de Supervisão psicanalítica.

Diante desse momento surge o modelo de Análise Quarta, proposto por Valabrega composto quatro seguintes elementos, daí o nome Análise Quarta:

O analista- o próprio supervisionando;

Seu paciente;

O analista do analista;

O supervisor.

Segundo Valabrega existe uma “zona surda” que acontece desde o início da análise entre analista e analisando, a qual poderá trazer influências à contratransferência do analisando quando em posição de analista.

A Análise Quarta teria como direção a prevenção dessa surdez em relação a si própria, como ainda poder explorar o não conhecimento dos conteúdos latentes que atuam diretamente na relação do analista com seu paciente.

Percebe-se assim o papel relevante que a Supervisão tem à vivência psicanalítica dentro de uma ótica mais ampla e não apenas compreende-la como formas de monitoramento e controle.

Quinet (2009, p, 125) compreende a Supervisão como uma “superaudição” do caso do analisando e do analista na qual acontece uma “ouvidoria psicanalítica” onde o supervisor amplia a sua escuta e visão para facilitar a leitura e a compreensão das estruturas e dinâmicas do paciente, auxiliando ao supervisionando os conhecimentos necessários ao encaminhamento do processo psicanalítico.

O artigo salienta a Supervisão como um caminho que favorece ao supervisionando  uma melhor leitura das suas contratransferências e os passos que precisam ser dados para a compreensão dos sentimentos que são do paciente, do analista, aprendendo a realizar a aproximação e o distanciamento necessários a vivência terapêutica como um todo.

A Supervisão pode ser compreendida como um caminho voltado à formação, (essa entendida como contínua) do analista, dentro de um viés didático, mas também singular, de acordo com a subjetividade de cada caso.

Concluindo entendo que a Supervisão Psicanalítica é uma prática na qual os profissionais aprendem a aprender, como bem fala Coutinho Jorge: “Um lugar de articular o saber, pelo qual se revitaliza a experiência clínica e reabre-se o seu campo particular de ação”.

2015
Lígia Maria Bezerra de Oliveira-     julho

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Terapia de Casal- Quando Terminar ou Seguir com o Relacionamento






O livro Terapia Cognitiva com Casais de Datillio e Padesky, em seu sexto capítulo, traz a seguinte pergunta: "Como um terapeuta sabe que um relaciona deve terminar"?

Explica o texto, adiante, que a decisão da separação ou da união conjugal, apenas, tem como autores os cônjuges.

A leitura nos faz refletir acerca da necessidade dos terapeutas, quando em atendimento com casais em conflito, desenvolver um olhar curioso e atento junto ao par, no sentido de aprofundarmos o conhecimento sobre a construção da relação disfuncional, como ainda, à postura metodológica e epistemológica do terapeuta.

Dentro do processo, o profissional não deve se apoiar  nas questões, somente, trazidas no início da terapia e  na pressa do casal, ou de um parceiro mais imediatista, em querer resolver o futuro do relacionamento. 

Os casais,na maioria da situações, chegam ao consultório carregados de conflitos, culpas, acusações, falta de esperança, frustrações pelas alternativas já tentadas...E não são raras as ocasiões nas quais  o casal, ou apenas um dos parceiros, traz a vontade para que esses sofrimentos acabem logo; para tal vislumbram uma separação sem momentos de reflexão mais calmos. O mesmo argumento também é pertinente aos casais que desejam a continuidade da relação sem a reflexão necessária. Tal atitude do par pode estar a serviço de conclusões pouco aprofundadas, tanto para seguir o casamento quanto para a separação.

Torna-se essencial que o terapeuta trabalhe junto aos parceiros na visualização dos seus pontos cegos, mediante a leitura mútua dos impasses, como também dos seus recursos.

É importante que a atitude terapêutica desperte nos cônjuges a motivação para avançar no entendimento que um passo imprescindível  na   identificação e compreensão do seu relacionamento,  é a definição cooperativa dos seus principais problemas, sentimentos atitudes, crenças... descobertas básicas para o seguimento da terapia.

Segue o processo em uma linha de trabalho voltada à busca do entendimento ao casal das suas principais crenças, as quais atuam negativamente e positivamente na relação conjugal.  

Um vez identificadas e explorados os significados dessas crenças, o terapeuta junto aos clientes irão  seguir na criação de um plano de ação de tratamento, para ajudar ao par  a rever na prática as crenças e as evidências que estão segurando comportamentos não saudáveis ao relacionamento.

Outro momento valioso na terapia se traduz na construção pelo casal dos fatores prós e contras da decisão a ser tomada, levando o casal a refletir acerca da sua vida dentro e fora do casamento.

Após a análise de várias situações vivenciadas na história  de vida a dois, a decisão da continuidade ou ruptura do casamento é escolha que diz respeito ao casal.

Ao terapeuta cabe a postura de acolhimento do sofrimento conjugal, facilitar a busca das razões e sentimentos envolvidos nesse caminho, e  auxiliar, cooperativamente, na busca das alternativas mais saudáveis do caminho a seguir, seja esse com o casal andando de mãos dadas ou separadas.

        Ligia Oliveira- Terapeuta de casal,  família e psicanalista.

Base de leitura para o texto.
Terapia Cognitiva Com Casais- Frank M. Dattilio, Christine A. Padesky, 1995,Artemed

quinta-feira, 23 de junho de 2016





 PSICANÁLISE E ADOLESCÊNCIA:POSSIBILIDADES DE UM DIÁLOGO CRIATIVO( Recorte da conclusão de um artigo cientifico)  Ligia Oliveira

A fase do adolescer é um período do ciclo vital que traz como característica principal complexas demandas que exigem e oportunizam ao adolescente investimento no processo de formação da pessoa, enquanto sujeito, dos seus pensamentos, sentimentos, escolhas, decisões, ações...
Percebe-se desta forma, que durante a adolescência o jovem desenvolve um trabalho psíquico singular na ressignificação da sua identidade.

Trabalhar o tema Psicanálise e Adolescência é adentrar na compreensão da complexa dinâmica, mental, psíquica e comportamental pela qual passa o adolescente e no conhecimento e na vivência da psicanálise, seus princípios, fundamentação teórica e prática clínica, elementos essenciais que o psicanalista precisa aprofundar para a criação e manutenção de um clima propício ao desenvolvimento de uma prática clínica que favoreça aos seus pacientes adolescentes condições a um processo terapêutico criativo e saudável.

O processo da adolescência vai oportunizando, aos poucos e ao mesmo tempo, intensamente, ao adolescente, à procura da sua autonomia, e, para tal, o jovem precisa sentir, refletir e viver os seus múltiplos eus os fluxos afetivos, que em várias ocasiões lhe trazem perturbações físicas, emocionais, psíquicas, afetivas influenciando, significativamente, seu comportamento como um todo.
Passo a passo, segue o jovem em um caminho de descobertas onde se percebe preso a processos identificatórios que não mais o complementam.

O adolescente sente que necessita descobrir e exercitar formas novas de relacionamento consigo mesmo, mediante a realização de escolhas que sejam criadas a partir da forma pela qual ele começa a compreender a si, as pessoas a sociedade.
Nesse momento, tem início o difícil processo de diferenciação do seu até então principal modelo de identificação: seus pais.

O adolescente passa a questionar suas figuras parentais como modelos onipotentes, experenciando nesse percurso pais e filhos complexa  elaboração de significativos e recíprocos lutos presentes no ciclo do adolescer.

É natural que o adolescente percorra nessa fase de instabilidade emocional, ao mesmo tempo em que envolve energia para poder se sentir bem sem a protetora influência direcionadora dos seus pais. Essa postura traz ao jovem o imperativo de desenvolver posicionamentos próprios que vão além da paisagem familiar.

É importante observar que a forma pela qual os pais investem na qualidade do relacionamento com o seu filho, é fator essencial ao processo de estruturação da sua subjetividade, como ainda pelas condições desse filho se tornar pessoa diante de si dos outros e do mundo que o cerca.
Muitas são as situações nas quais o adolescente se percebe querendo “voltar” ao seu mundo infantil, e concomitantemente, deseja se ver menos dependente do seu seguro colo familiar.

A vida sexual do jovem é rica em sentimentos e redescobertas. O complexo de Édipo vivido no período infantil traz significativas influências ao seu comportamento adolescente e surge como o grande responsável pela sexualidade no adolescer.

A reedição do complexo de Édipo infantil na adolescência produz importantes efeitos à criação e ao desenvolvimento do seu EU.
Atualmente, tanto os pais dos adolescentes como também o próprio jovem tem investido na busca de profissionais que possam ajudá-los a compreender e a solucionar os conflitos pertinentes a essa fase.
Torna-se imprescindível saber que a adolescência como um todo, acontece como um processo no qual tanto os jovens, como pais e a sociedade passam por situações de enfrentamentos conflituosos, mas também criativos voltados a novos modelos de comportamentos.

O processo psicanalítico trabalha o ser em movimento e possibilita ao seu paciente aprender a se escutar, buscando o entendimento do que ele é e as suas principais demandas internas e externas. Para tal, propicia ao analisando condições de refletir acerca das suas possibilidades e limites e do como trabalhar no sentido de mudanças para uma vida mais saudável.

O formato do setting desenvolvido por Freud foi, aos poucos, necessitando de algumas adequações, de acordo com o contexto histórico cultural de cada época, mas manteve como princípio essencial ao relacionamento analítico, o setting como um local no qual seja reforçado ao paciente o acolhimento, a confiança, o amparo, o respeito a sua dor, e a facilitação da sua fala, silêncios e escuta.

 Nesse processo, torna-se imperativo que o psicanalista amplie sua compreensão e prática no que se refere aos elementos indispensáveis da psicanálise, sua metodologia, seu fundamentação teórica, seu instrumental técnico e a sua própria pessoa enquanto ser, como também aos progressos e questionamentos da Psicanálise naquilo que se refere ao todo e a área específica na qual o analista se dedica no caso desse artigo à psicanálise com adolescentes.

É através da palavra na psicanálise que a compreensão do paciente se expande para além do seu discurso. Seu papel junto ao paciente é investir no olhar e no aprofundamento desse ser, na sua historicidade, escolhas, decisões e na leitura dessa pessoa de acordo com a sua singularidade..
O presente trabalho não se reporta aos adolescentes que  apresentam distúrbios mais específicos. Portanto é necessário compreender o período do adolescer como uma  fase de vivência de rebeldia, conflitos e desafios, naturais a esse ciclo para “não tentar curar  uma coisa que é essencialmente sadia.”( Winnicott,2011)

Com o adolescente o processo analítico objetiva atribuir um sentido ao seu sofrimento e segue trabalhando seus conceitos e sentimentos, como esses foram moldados na sua psicodinâmica mental e afetiva, seus processos inconscientes,focando o eu infantil para melhor compreender  e  trabalhar condições à criação do eu adulto dentro de um contexto mais saudável.

Bibliografia:

Aberastury,Arminda-
Adolescencia Normal, por Aberastury e Maurício Knobel. Tradução de Suzana Maria Garogory Balve. Porto Alegre, Artes Médicas, 1981-             92 páginas- 22 cm.


Kahn, Michael
Freud Básico: pensamentos psicanalíticos para o século XXI. Tradução de Luiz Paulo. Guanabara- 2 edição- Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2005.

Winnicott, Donald W, 1896-1971
A família e o desenvolvimento individual D.W.
Winnicottt, tradução Marcelo Brandão Cipolla. 4 edição-São Paulo: Martins Fontes, 2011. – ( textos de psicologia)


WWW.marcoedianacorso.com  anotações-sobre a clínica com adolescente


Nasio, Juan-David, 1942
Como agir com um adolescente difícil ( ponto de interrogação): Um manual para pais e profissionais J Násio;tradução André Telles- - Rio de Janeiro: Zahar, 2011


Pulsional- Revista de Psicanálise- artigos, ano. XVII, N. 181, MARÇO, 2005.
Coutinho, Gageiro Luciana
A adolescência na contemporaneidade: Ideal cultural ou sintoma social (interrogação)

Revista Científica Eletrônica de Psicologia- ISSN: 1806-0625
Ano VII- número 12-maio- 2005- periódicos semestral-
Uma leitura psicanalítica da adolescência: mudança e definição
Domingues, Mariana Rosa, Domingues, Taciano Luiz Coimbra
Baracat,Juliana

Zimerman, David E.
Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão
David E Zimerman- Porto Alegre: Artmed, 2004

domingo, 1 de maio de 2016

Lídar Com o Inesperado








Tudo pronto para a viagem. A medida que ia chegando ao aeroporto o casal conversava sobre suas expectativas e  seus projetos para aquela viagem,  ou seja, investiam em sonhos conjuntos.
No balcão da companhia aérea a aeromoça informa que havia um erro na data da viagem: O casal estava um dia atrasado.
Houve um movimento de desconforto, um início de reclamação, que depois foi resolvido pela disposição de juntos, reconstruirem ações positivas diante dessa imprevisibilidade. A vivência que poderia ter final pesado foi vivenciada dentro de outras possibilidades.
Como será que terminou essa história?

Ao longo das nossas vidas incorporamos, mediante histórico familiar, posturas que nos auxiliam em determinadas situações e outros comportamentos que nos dificultam, os quais tumultuam o relacionamento, com o outro e com a gente mesmo. Ficarmos atentos como nossos padrões de comportamento podem ser nossos aliados é de vital importância nesses momentos inesperados que não nos trazem boas surpresas.
É comum que nos fixemos mais no lado da situação previsível, ou seja o planejado e  o projetado. Realmente é muito prazeroso o cuidado com o palnejamento e vermos os nossos objetivos serem alcançados passo a passo. Quem não sonha com isso?
Quando nos deparamos com momentos de  impresibilidade, não positivos, vem a frustração, a raiva, o medo, a revolta, a ansiedade, sentimentos naturais em função de estarmos em um cenário que não construímos .( ? ). É natural que queiramos falar, e achar um culpado para a situação... É ruim, chato, nem sempre temos a motivação para melhorar a situação e ficamos colhendo os frutos dessa nossa reação. Paciência...E aí? Como não ficar parado nesse sentimento?

 Se olhamos ao nosso redor percebemos que existem aquelas pessoas que mesmo sentindo todos os sentimentos acima descritos, trabalham  a ação para sair desse "quadrado". Esses investem em uma postura fora da dramatização e culpabilização, tendo o cuidado para não negar, fugir e  se paralisar diante do inesperado. Sim, voce pode dizer que essas pessoas vivem dentro de outras heranças familiares, outro contextos...É possível. Todavia como refletir para uma mudança comportamental em relação ao lidar com o imprevisível?
Penso que seja importante olhar para essa "linha" do inesperado e ir traçando  as prioridades. Talvez haja a necessidade de se abrir mão de alguma coisa para se  ganhar outra.
Sabemos que nesse processo ( onde não está presente a acomodação), dependendo da situação, o estresse pode estar presente, contudo com menos peso, vez que a motivação e o  foco  para lidar com o   que está fora do nosso controle, auxilia na melhoria do nosso campo energético e consequentemente no alinhamento positivo das nossas emoções.
É significativo olharmos se temos alguma participação nesse imprevisto. Não com um olhar voltado à culpa, mas para um desenvolvimento da leitura proativa diante da vida. Avalio também ser importante um maior investimento nas nossas forças, essas entendidas como flexibilidade, leveza e pensamento voltado à ação,  mas  termos como parâmetro nossos reais limites, pois há ocasiões onde precisamos saber que o caminho não passa pelo esticar mais o elástico. Esse pode se romper.

Muitas vezes tropeçamos, demoramos um pouco no chão, nos erguemos sozinhos ou encontramos uma mão que nos ajuda a seguir em frente.É assim que recomeçamos o caminho. Caso contrário não saimos do chão.
Como todo processo de crescimento pessoal, aprender a lidar, positivamente, com o ineperado, requer irmos dando passos para adaptação da  ação  nos  momentos  em que não estamos com o controle remoto na mão.
Quem sabe se em alguns desses casos o melhor da vida não pode chegar nesse momento...
O casal da história do início do texto trouxe na sua bagagem além da lembrança de uma viagem legal um roteiro que precisamos incluir na viagem da vida: Diminuir o peso do inesperado e seguir em diante.
Refexão:
Como voce lida com o inesperado?
Lembre de alguém que voce percebe que tem sabedoria para lidar com os imprevistos
da vida.
O que gostaria de aprender sobre esse lidar com o inesperado?

                 Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

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                                                               Supervisão Psicanalítica I


Reverso vol.34 número, Belo Horizonte, dezembro de 2012

Sobre a supervisão- On supervision

Eliane Rodrigues Pereira Mendes

Círculo Psicanalítico de Minas Gerais.


Resumo do artigo-             Observações Importantes.


O artigo Sobre a Supervisão de Eliane Rodrigues pontua acerca do olhar à prática da Supervisão dentro da Psicanálise.

Ao mesmo tempo em que o texto registra a Supervisão como tema polêmico, reforça a necessidade de um maior estudo e fundamentação teórica sobre o assunto mediante movimentos que ampliem suas abordagens e campo de ação.

É necessário compreender o grande valor da Supervisão que junto aos seminários clínicos (pressupostos teóricos) e a análise pessoal formam a base do tripé da transmissão, teoria e prática da Psicanálise.

 O artigo demonstra que é essencial que sejam desenvolvidas mais pesquisas acerca do tema Supervisão em Psicanálise e que os psicanalistas procurem ter como postura profissional o conhecimento de pontos importantes tais como:

O que vem a ser a Supervisão.

Em que bases aconteceram a sua origem e seu desenvolvimento.

Quais seriam as necessidades do analista ir à busca do olhar de outro profissional para melhorar a sua prática.

Resultados teóricos e concretos da Supervisão.

Relevância da Supervisão ao processo psicanalítico como um todo.

A origem da Supervisão, em um modelo mais formal e organizado aconteceu por volta de 1920, em Berlim, através do trabalho dos psicanalistas Karl Abrahan e Max Eitingon diante da observação da fragilidade que alguns novos analistas apresentavam ao término da sua análise pessoal, na ocasião em que começavam o atendimento como psicanalista.

Alguns desses novos apresentavam um visível sentimento de desamparo.

Anterior a esse período já acontecia alguns movimentos, menos formais, de analistas no sentido desses irem buscar conversas e trocas com outros psicanalistas sobre seus atendimentos no viés mais direcionado à forma do fazer psicanalítico.

Podemos citar como exemplo o próprio Freud e a sua grandiosa correspondência endereçada a Fliess, as quais tratavam em seus relatos trabalhos desenvolvidos com clientes de Freud como também escritos sobre a autoanálise desse último.

No ano de 1920, em Berlim, foi criado o Centro de Formação Psicanalítica, clínica referência em Psicanálise.

 Nessa instituição a Supervisão tem sua presença dentro de uma organização de ensino e prática, mais voltada ao objetivo de controle aos analistas menos experientes, no sentido de agir mais diretamente como forma de evitar e diminuir os riscos que os novos psicanalistas poderiam correr na sua prática inicial. Essa postura sofreu múltiplas críticas até mesmo dos próprios analistas responsáveis pela Supervisão.

A IPA, International Psjchoanalytic Associaton, apresentava uma regra à prática clínica do psicanalista: necessidade do profissional ser supervisionado como também precisar receber uma autorização expressa dada por uma comissão, para poder clinicar, posição que causou muitas dúvidas e questionamentos a muitos psicanalistas naquela época.

Diante desses impasses a Clínica Psicanalítica da Hungria ( Sandor Ferenzi) apresenta o exercício da Supervisão como “um instrumento para analisar a contratransferência do candidato a psicanalista... A contratransferência se define como um conjunto de manifestações do analista relacionados comas transferências do seu paciente”( ROUDENESCO,1988,p.133).

Na segunda década do século XX, Lacan faz nascer a Escola Freudiana de Paris, EFP aprofunda seu olhar sobre a Psicanálise e dentro dessa, a Supervisão. Rompe com o IPA e procede as transformações significativas nas regras psicanalíticas, como ainda explora diversas formas de tratamentos, seminário, supervisões. Tal postura lacaniana denuncia o seu desejo de criar uma instituição “verdadeiramente freudiana que preservasse a liberdade e a política do inconsciente”.

Os membros da referida Escola poderiam escolher livremente os seus analistas, não teriam como imposição o divã, e não precisariam ser autorizados por uma instituição para o seu exercício da clínica.

É essencial salientar que Lacan defendeu a importância de se resguardar o sentido de autonomia do psicanalista “para autorizar-se por sua formação e, ainda registra sobre a importante e a fecunda passagem do analisando para analista.

Os múltiplos questionamentos direcionados ao modelo de Supervisão lacaniano trouxeram rompimentos no cerne da própria EFP, o que ocasionou a fundação de novas associações, regras e formatos de Supervisão psicanalítica.

Diante desse momento surge o modelo de Análise Quarta, proposto por Valabrega composto quatro seguintes elementos, daí o nome Análise Quarta:

O analista- o próprio supervisionando;
Seu paciente;
O analista do analista;
O supervisor.

Segundo Valabrega existe uma “zona surda” que acontece desde o início da análise entre analista e analisando, a qual poderá trazer influências à contratransferência do analisando quando em posição de analista.
A Análise Quarta teria como direção a prevenção dessa surdez em relação a si própria, como ainda poder explorar o não conhecimento dos conteúdos latentes que atuam diretamente na relação do analista com seu paciente.
Percebe-se assim o papel relevante que a Supervisão tem à vivência psicanalítica dentro de uma ótica mais ampla e não apenas compreende-la como formas de monitoramento e controle.
Quinet (2009, p, 125) compreende a Supervisão como uma “superaudição” do caso do analisando e do analista na qual acontece uma “ouvidoria psicanalítica” onde o supervisor amplia a sua escuta e visão para facilitar a leitura e a compreensão das estruturas e dinâmicas do paciente, auxiliando ao supervisionando os conhecimentos necessários ao encaminhamento do processo psicanalítico

O artigo salienta a Supervisão como um caminho que favorece ao supervisionando  uma melhor leitura das suas contratransferências e os passos que precisam ser dados para a compreensão dos sentimentos que são do paciente, do analista, aprendendo a realizar a aproximação e o distanciamento necessários a vivência terapêutica como um todo.

A Supervisão pode ser compreendida como um caminho voltado à formação, (essa entendida como contínua) do analista, dentro de um viés didático, mas também singular, de acordo com a subjetividade de cada caso.

Concluindo entendo que a Supervisão Psicanalítica é uma prática na qual os profissionais aprendem a aprender, como bem fala Coutinho Jorge: “Um lugar de articular o saber, pelo qual se revitaliza a experiência clínica e reabre-se o seu campo particular de ação”.

2015
Lígia Maria Bezerra de Oliveira-     julho