quarta-feira, 25 de abril de 2012

Andar por Antigos Caminhos, Tomando Novos Rumos





Quantas vezes nos deparamos com cenas e ações repetitivas, desgastadas que não trazem nenhum acréscimo positivo às nossas vivências.

Fico pensando nas inúmeras ocasiões que percorremos, de forma automática, nossos caminhos, sem enxergar sinais e chamados que, se olhados, poderiam melhorar muito nossos relacionamentos tóxicos ( conosco e com o outro), que nos adoecem e nos paralisam.

Como não perceber as nossas bagagens pesadas e desnecessárias que fazem a gente ficar teimando em um percurso sempre pelo mesmo caminho e que em grande parte nos acrescenta mais sofrimento e insatisfação?
Onde foi que a gente parou? O que precisamos olhar mais, acolher, aceitar ou mudar?

Nessa reflexão e parada é importante que voce se torne capaz de se ouvir, se observar e compreender suas memórias, ganhos e perdas.

Pare e reflita. É a estrada que voce deseja? Muita coisa voce conseguirá, se de forma mais paciente e serena, cooperar com voce mesmo, todavia, também, ir aos poucos, junto a esses avanços, compreendendo suas limitações e vendo as fronteiras que, agora, pode transpor ou ainda não.

Observe suas escolhas e se responsabilize por elas. Se precisar dê meia volta - volver e comece tudo novamente.  Vá transformando aos poucos, esse conhecimento em sabedoria.

Nesse processo de avaliação da nossa vida, atentemos para a nossa motivação em lidar com situações antigas de forma nova, com menos automatismo, menos reclamação e  com mais leveza.

Quem se seu novo olhar e a inter-relação com seus triunfos e desapontamentos, agora mais observados e compreendidos, poderá favorecer posturas mais sadias em relação a um comportamento  mais afetivo, próximo e efetivo?

Diga a si mesmo que permitir que a velha forma automática de agir volte é pura perda de tempo e energia. Pois tudo que aqui conversamos só terá validade se voce vivenciar.

Por onde voce quer começar?


              Lígia Oliveira- terapeuta de família e casal      -  www.terapiacasalefamilia.blogspot.com


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Terapia Familiar e Homoafetividade






Esse texto é fruto de reflexões acerca do tema homoafetividade baseados em referências teóricas e casos  clínicos,os quais trabalhei em consultório. Deixo claro a necessidade de nós terapeutas familiares sistêmicos investirmos mais em estudo e trocas de experiências com outros profissionais e famílias, com objetivos voltados a um melhor aprofundamento do nosso entendimento e do entendimento do outro, em relação  aos significados do comportamento afetivo, cognitivo, emocional e social, individuais e familiares.

Compreendo que também é significativo a leitura da homoafetividade dentro de uma abordagem histórico cultural na qual possamos ampliar o conhecimento das diversas fases de interpretação que essa orientação sexual recebeu ao longo do tempo e suas diversas consequências no contexto individual, familiar e comunitário.
 
No livro Novas Abordagens da Terapia Familiar de Mcgoldrick, 2003, no capítulo 24 o qual fala sobre a homoafetividade, a autora faz a seguinte afirmação:  
 
 "É a família que transmite valores, crenças, e um sentido de ação, assim como um modelo, para o relacionamento. A família também é o principal transmissor das atitudes culturais, habituais, assim como das atitudes em relação a essas atitudes. Dentro dessa família os homens gays e as mulheres lésbicas lutam para estabelecer uma identidade pessoal que vai contra a identidade da família".
É essencial que nós terapeutas familiares possamos ampliar nosso foco mediante o entendimento das múltiplas visões, tanto da família que sofre, naquele estágio, por não compreender a homoafetividade de um dos seus membros, como da ansiedade do familiar homoafetivo que busca uma melhor compreensão da sua orientação sexual.

Uma função significativa aos terapeutas que desenvolvem trabalho com cliente homoafetivo é investir na abertura de um clima que facilite o complexo caminho de diferenciação da sua identificação gay e lésbica.

 Em relação aos pais observamos que precisamos trabalhar, gradualmente, o execício voltado ao autoreconhecimento da homoafetividade do seu filho (a).Essa dinâmica deve se basear, antes de tudo, no respeito e acolhimento dos sentimentos de todos os envolvidos, todavia também, em um olhar abrangente que procura junto à família rever crenças culturais, religiosas e culturais cristalizadas, e juntos caminhar na  desconstrução da idéia que a homoafetividade é patológica.

 Assim sendo, avaliamos que um papel básico incial da terapia é ver  a crise presente, naquele ciclo, como uma resposta familiar possível, olhá-la de frente, explorar os seus múltiplos significados e instrumentalizar a família como um todo, identificando suas possibilidade e limitações.
Entendemos que reforçar a prática sistêmica na direção da compreensão da reciprocidade das partes envolvidas no trabalho terapêutico envolve, entre outros, a atenção aos seguintes pontos:

  .  A família necessita de um tempo cronológico e emocional relativo ao sentimento da perda dos sonhos e projetos voltados ao filho homoafetivo;

  . A vivência do homoafetivo passa por fase de negação, ambivalência, tentativas sofridas de experiências heterossexuais, períodos de raiva, medo, ódio, depressão, até assumir seu self homoafetivo. Muitos, mesmo após a revelação, ainda vivem dentro de uma conspiração própria de segredo;

 .  Sofrimento emocional e psicológico do sistema familiar por muito tempo e a percepção que o processo de autoconhecimento que antecede a revelação é muito complexo;

 .  A revelação traz junto uma grande insegurança ao homoafetivo pelo medo da perda do apoio familiar; na maioria das vezes a revelação tem um alto preço.

. Revelação como meio de favorecer, por parte do homoafetivo, a autonomia da sua vida, investir na autoestima, como ainda facilitar condições para a melhoria do isolamento social;

. O membro homoafetivo deverá ser encorajado ao entendimento das possibilidade e limites dos pais, sendo explicado a necessidade do cultivo da paciência e empatia pelo sistema parental;

. Acolhimento aos pais a exporem suas lamentações, seus  conflitos pelas expectativas perdidas e não compreendidas em relação aos filhos e ao mito da família"normal";

. Muita vezes a revelação da homoafetividade de um dos filhos pode vivenciar um processo carregado de culpa, rejeição, vergonha. Alguns pais alimentam um movimento de racionalização, "acreditando" ser só uma fase do filho e tentam, ao máximo, mudar a orientação sexual do filho(a).

. Após a revelação da homoafetividade o relacionamento familiar poderá  desenvolver os seguintes comportamentos  em relação ao familiar homoafetivo:

      Distanciamento afetivo, físico  e emocional;
      Invisibilidade;
      Não aceitação e conflitos constantes;
      Aceitação restrita e contrato de silêncio para os não familiares;
      Aceitação e aproximação gradual da homoafetividade.

A Terapia Familiar trabalha no sentido de junto com a família rever e transformar suas interações em formas mais claras e positivas de comunicação. Procuramos investir na família mais voltados aos processos familiares, ajudando-os na ressignificação dos seus significados.

 Empreendemos esforço para que a família fortaleça  uma maneira mais efetiva e afetiva de compreender suas diferenças e  semelhanças, revendo que algumas mudanças são frutos de caminhadas lentas e que há situações nas quais não conseguimos mudar...Muito bom se ao darmos voltas juntos, terapeutas e clientes possamos, passo a passo ir desconstruindo escutas fechadas e esses novos significados facilitem construções de vida mais plena.

OBS- Leia também, Terapia de casal com casais homoafetivos,-Recife, editado em  julho de 2015

               Lígia Oliveira - Terapeuta familiar,  de casal e psicanalista.