quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

A BOA MÃE- MÁRCIA NEDE



"A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista esta frase e ela sempre me soou
estranha. Até agora.
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a
cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma
batalha interna hercúlea, confesso.

Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos
dentro de nós, lembro da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu
trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o
que significa isto. Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor
incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos
filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos,
confiantes  e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas,
superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada
nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vinculo não
pára de se transformar ao longo da vida.
Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e
recomeçam o ciclo. O que  eles precisam é ter certeza de que estamos lá,
firmes, na concordância e na divergência, no sucesso ou no fracasso, com peito
aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.


Pai e mãe- solidários- criam filhos para serem livres. Esse é o maior
desafio e a principal missão. Ao aprendermos  a ser desnecessários, nos
transformamos em porto seguro para quando eles decidem atracar.'

 Marcia Nede