segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A PESSOA DO TERAPEUTA X CONTRATANSFERÊNCIA





O olhar à pessoa do terapeuta é para mim uma motivação constante. 

Dentro desse movimento também me incluo, vez que nossos significados são autoreferenciais.

Lendo o artigo: "O mapa do terapeuta e a diferenciação do Self como recursos para a formação em terapia familiar( Revista BRA. de Terapia, número 1, pag.122 a 133, junho, 2014), procurei dá uma parada para refletir sobre esse tema.

Meu olhar passeia tanto em relação aos meus atendimentos  sistêmicos de família e casal, nas intervisões com terapeutas familiares e no  atendimento  com meus pacientes de psicanálise.

Avalio que essa  postura  precisa ser cuidadosa e constante, e que nos propicie a compreensão necessária nas vivências das nossas ressonâncias e contratransferências com a história do "outro".

Para tal o trabalho do terapeuta deve ter como base o aprofundamento do seu genograma familiar no sentido de poder ampliar  o conhecimento dos seus padrões familiares, das suas origens " que podem está afetando o seu  trabalho às famílias e casais em atendimento".

Reforça o texto o caminho para que os terapeutas aprendam melhor a desbloquear os obstáculos que permeiam, da sua parte,o desenvolvimento do processo terapêutico, e, ainda a atenção direcionada para os seus "pontos cegos".

Essa  postura profissional trará condições ao terapeuta para proceder o cruzamento do seu"mapa familiar com o mapa familiar ou do casal por ele atendida".

Com base na sua experiência pessoal o terapeuta reúne maior oportunidade de  auxiliar seus clientes, juntando conhecimento teórico e prático aos seus filtros  familiares.

Essencial ir à busca acerca da compreensão  do que alguns comportamentos estão querendo dizer à pessoa do terapeuta, diante de alguns atendimentos à famílias, casais, e indivíduos tais como:

Irritabilidade
Desconforto
Ansiedade
Incomodo
Estranheza
Pressa em respostas

Falta de motivação, e outros sentimentos que possam estar dialogando com o mundo interno do profissional, ressonâncias, contransferências, não observadas, negadas...

Sabemos que esses comportamentos são naturais durante o curso do processo terapêutico, pois já falava Grandesso: "Conversar é dá voltas juntos. Nossa histórias são sempre produções coletivas"

Entendemos que os resultados dessa busca, mediante a análise do que é "meu", "teu" e "nosso" possa ajudar ao terapeuta a transformar suas ressonâncias em ferramentas e recursos terapêuticos.

Lígia Oliveira- Terapeuta de família, casal e psicanalista.

domingo, 17 de agosto de 2014

Avós, Pais e Netos- Parceria na Educação- Parte Dois









  
Voltando nosso olhar à convivência entre avós e netos, reproduzo no texto a seguinte afirmação, sobre o assunto, registrada no livro A Família e o Idoso, org. Deusivânia Falcão, pag. 39:
"São diversos os aspectos que influenciam as relações de avós e netos, tais como: idade, gênero, mediação dos pais, distância geográfica, trabalho e saúde dos avós, nível sócio emocional da família, ocorrência de eventos disruptivos, entre outros".
A ampliação do papel dos avós na vida dos netos, tanto em relação aos cuidadores diários como aos que são  responsáveis financeiramente, nem sempre são decorrência das escolhas desses avós. Grande parte dessa função de cuidado e de avós como pais substitutos, é imposta por fatores sociais emocionais e sociais tais como:
Gravidez na adolescência, separações, mortes dos filhos, dependência química, desemprego, problemas financeiros, abandono, negligência paterna...
O aprendizado cultural, entre as gerações, acontece através de uma variedade de significados e valores, onde se alternam o" tradicional" e o "moderno", o  "novo" e o "velho".
Percebemos, devagar, um movimento de redimensionamento desses valores  no que se refere aos papéis mais voltados à autoridade e hierarquia.
Nos casos em que os pais assumem a função de pais substitutos, os assuntos relativos às estratégias educacionais necessitam de um maior estudo e reflexão..
Importante, nesse movimento  um olhar no qual se tenha condições de se discutir sobre as diversas diferenças, de vivências e significados, onde avós, pais e netos, não queiram entender o processo educacional transgeracional como algo unilateral ( no meu tempo...)
O relacionamento entre os avós e os  netos acontece  de forma ativa, alternando-se afetos e atritos, principalmente,  quando  esses avós têm a responsabilidade na educação. O processo tornar-se ainda mais complicado se  não existe a presença da geração do meio ( pais). Sinalizamos nesse ítem a guarda delegada aos avós, morte ou mesmo abandono.
Pesquisa realizada em Brasília, recentemente, por Jaqueline Maragoni e Maria Cláudia de Oliveira ( A Família e o Idoso), que teve como objetivo analisar as relações entre avós( com idade que variaram de 50 a 69 anos) e netos ( adolescentes, entre 13 e 18 anos) nos apresenta principais vivências do contexto familiar:
Preocupações com a violência do contexto urbano;
Relação de co- dependência afetiva e financeira entre gerações no contexto familiar;
Dificuldades socioeconômicas entre as gerações avós e netos no contexto familiar;
Negociações entre valores tradicionais e modernos.
Na pesquisa referida, os avós e netos foram atendidos em grupos focais em encontros de quatro horas cada. As significações em relação aos avós foram descritas pelos netos como pessoas importantes nas suas vidas;
" As narrativas ofertadas pelos participantes permitiram reconhecer os avós da pesquisa como pessoas ativas no processo de desenvolvimento dos netos e que representam um importante esteio emocional e financeiro à família".

Observamos na prática clínica, que a postura da maioria dos avós, segue o exemplo da pesquisa referia acima.
                        Lígia Oliveira-  Terapeuta de família e casal

obs- O texto teve como base de leitura o livro A Família e o Idoso- Desafios da Contemporaneidade, org. Deusivânia Vieira da Silva Falcão- Campinas, SP, Papirus, 2010-  2- Relacionamento Intergeracionais: Avó e Netos na Família Contemporânea.

sábado, 9 de agosto de 2014

Terapia de Casal e Família- Escultura

 


A Escultura Familiar é uma representação simbólica do sistema familiar.  Esse instrumento foi considerado como uma meio eficaz vez que combina o cognitivo, o afetivo, o emocional com a experimentação, no qual os familiares posicionam a si e aos membros da família da forma como os percebem participantes na teia relacional.

Na Terapia Familiar a Escultura Familiar foi muito utilizada por Virgínia Satir, terapeuta familiar que combinou essa técnica com Teoria Geral dos Sistemas a qual reforça a visão circular dos fatos, sentimentos...

De maneira geral podemos explicar sobre a utilização da dinâmica Escultura Familiar da seguinte forma:

O terapeuta pede que cada familiar feche os olhos e visualize-se, como também visualize os demais familiares.

 Em seguida pede para cada familiar pensar como colocaria cada pessoa do sistema familiar naquela sala: LOCAL, POSIÇÃO, OLHAR, ATITUDE.

O escultor vai colocando as pessoas e formando a escultura; se precisar pode também colocar o terapeuta no local de alguém que não está presente.

O Terapeuta espera o escultor terminar a escultura, sua movimentação completa para depois fazer as perguntas.

Trabalha- se tanto a auto- percepção como a percepção global da unidade familiar com cada membro.

Por exemplo, um participante pode pedir que dois membros fiquem abraçados, ou bem distantes, um fique de joelhos, outro deitado. O que importa é que cada um seja leal à forma como ver a si e aos outro na interação familiar.

Podemos trabalhar situações concretas como a comunicação, afetividade familiar , como ainda desejos , atitudes , comportamentos ..

  
Passos gerais do processo:


   1 - Escolher um escultor;

   2 – Pede-se para o escultor colocar pessoas (inclusive ele) na posição que ele as ver dentro do sistema familiar. Reforça-se observar proximidade, olhar, expressões...

  3 – Terapeuta pergunta ao escultor: Como se sente  diante da escultura formada e espera que o escultor fale sobre seus sentimentos , pensamentos...

   4- Se o escultor gostaria de fazer alguma modificação. O que mudaria o que manteria... Agora como se sente e pensa mediante a movimentação feita por ele no sistema.

   5- Continua com novos escultores, outras esculturas, sentimentos, mudanças, novos sentimentos , até o último familiar.

A Escultura é feita um a um, enquanto os outros participantes observam e esperam sua vez. Ao término das esculturas, pedimos que a família reflita acerca do que ouviu , sentiu e mais adiante se pode trabalhar a construção de uma escultura familiar geral, tanto atual, como futura.

Dentro de uma visão geral as esculturas mais realizadas:

    Escultura da família presente – atual
    Escultura da família ideal
    Escultura do passado
    Escultura do futuro

A utilização da Escultura na Terapia Familiar facilita a expressão de emoções, falas silenciadas, através da utilização do corpo e do movimento. Dependendo da dinâmica familiar podemos utilizar a escultura nas primeiras sessões, ou em situações onde percebemos um processo mais paralisado, como ainda nas terapias onde trabalhamos com crianças, vez que alia o lúdico ao conteúdo, à emoção.

     Lígia Oliveira- Terapeuta de casal e família



Obs:

Para a utilização da escultura, faz-se necessário o terapeuta ter um conhecimento básico sobre sua teoria e prática e saber o momento mais adequado de vivenciá-la.


                                                                         
                       

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Separação e Recasamento-




A terapeuta Gladis Brun em entrevista,(2010)  sobre a compreensão da "Nova Família", diz que é cada vez mais comum a formação de lares compostos por padrasto, madrasta, enteados, meio irmãos, tias, avós "postiços"...


Vemos que a separação conjugal traz como consequência, tanto ao casal, como aos filhos e família extensa sentimentos de ansiedade, medo, resistência, revolta, frustrações...

Observamos, fazendo uma contextualização da sociedade como um todo, como ocorreram múltiplas mudanças nos mais diferentes segmentos. Assim sendo, precisamos investir na compreensão dessas mudanças, como ainda aprendermos a nos posicionarmos em direção a nossa adequação às mesmas.

Em relação ao casamento e a família, novos formatos foram criados e aos poucos, a sociedade vai aprendendo e internalizando esses novos modelos.

Fala Brun: " A família não está em extinção. Agora é permitido chamar de família composições diferentes que fogem ao simples pai e mãe e filhos"

As dinâmicas  das separações e recasamentos conjugais são cada vez mais frequentes.

É importante observar como a estrutura do recasamento é complexa, vez que envolve um número maior de pessoas na vivência familiar: avós, tios, primos, tias, pessoas que até então desconhecidas, e, que agora são chamados de parentes. Toda essa teia de relações propicia a necessidade de um olhar mais amplo em relação aos construtos familiares.

Brun pontua ainda, na sua entrevista, que em uma separação todos irão sofrer: " Não tem como passar imune a esse sofrimento. Não existe analgésico eficiente para a dor do divórcio. Todavia, se os filhos forem bem cuidados, haverá a cicatrização"

É essencial que o luto pela separação seja trabalhado, digerido por todos em todos os seus espaços, para que a partir daí, os ex-parceiros possam estar inteiros à formação de um sentimento de família novamente.

Dentre das condições "normais", quando não ocorrência de dificuldade mais profundas, em aproximadamente um ano e meio as feridas tendem a sarar.

No dia a dia dessas transformações,e, na formação de novas famílias, alguns pontos são necessários observar:

            Compreender a influência das mães e pais biológicos, entender  a importância afetiva do avós
            ( muitas vezes canais essenciais entre pais e filhos). Saber sobre a ajuda emocional quando
            não colocadas as questões de formas polarizadas nas figuras de "mocinhos e bandidos", como
            ainda saber negociar bem os papéis, funções, limites, possibilidades...


Finaliza Gladis na sua entrevista:

"As pessoas precisam entender que o sucesso da nova família está na diminuição das cobranças e acusações e na convivência com as diferenças. São as pequenas gentilezas que vão firmando os laços de amizade, e, isso só acontece se existir boa vontade e cooperação de todos os lados".

                                 Lígia Oliveira- Terapeuta de família e casal