terça-feira, 5 de novembro de 2019

Terapia Familiar: A Criança Como Sujeito


Quando a família chega ao consultório, na maioria das vezes, relata na sua conversa informações sobre as suas crianças. Ouvimos com respeito os comentários dos pais acerca da criança falada, atribuindo-se a essa ( pelos pais) o papel de coadjuvante na dinâmica familiar.

Compreendemos o olhar dos pais, todavia reforçamos a esses a necessidade da participação da criança no processo terapêutico, como também um participante ativo da dinâmica familiar.

Assim sendo, facilitamos encontros nos quais "as crianças possam ser vistas como informantes dos seus próprios sentimentos, comportamentos e relacionamento social"( Yanna Aires,Izane Nogueira).

A criança conquistou mais espaço, e,o seu mundo, agora, traz subsídios valiosos à compreensão da dinâmica individual e familiar, sendo essencial a postura terapêutica no sentido de buscar a ampliação do conhecimento da vivência relacional, mediante estratégicas lúdicas, do relato verbal e não verbal, para que a compreensão não se estenda, somente, através do relato dos pais.

A utilização de histórias aparece como fator de aproximação e conhecimento infantil, uma vez que ao descrever e fazer parte da história, a criança é levada a  falar sobre o comportamento dos personagens, fazendo, depois uma identificação com seus padrões comportamentais familiares, ficando mais à vontade diante de uma postura não punitiva do terapeuta.

Yana Gadelha e Izane Menezes traz no seu artigo, Estratégias Lúdicas na Relação Terapêutica com a Criança na Terapia Comportamental, a seguinte orientação:

"Pedir que a criança imagine ser um barco pequeno em uma imensa tempestade.  Orientar para ela falar sobre as ondas, o vento, a luta para vencer a tempestade, trará condições  à criança  a externalização de  sentimentos relacionados ao seu ambiente familiar, escolar, social..."

Outra atividade prazerosa para as crianças é o desenho. O terapeuta pode solicitar que a criança desenhe sua família através de símbolos, animais, o que poderá clarificar sentimentos positivos, negativos, padrões de comportamentos afetivos, cognitivos...

O trabalho com fantoches, com figuras de pessoas e animais auxiliará na construção de histórias que tragam conteúdos comportamentais significativos .
Importante, no início, a participação de toda a família, na criação das histórias, como forma de ajudar na descontração do grupo como um grande sistema..
Os familiares,  juntos, conversam sobre a história e dividem os personagens. Desta forma, o terapeuta já vai compreendendo os  múltiplos fatores e indicativos relacionais familiares.

A utilização de jogos específicos para cada faixa etária contribui para conhecer e trabalhar o comportamento infantil e familiar em relação ao seguimento de regras, sociabilidade, liderança, acomodação, aprender a lidar com perdas e ganhos...

Outros jogos facilitam ao desenvolvimento da criatividade( modelagem, argila, colagens), cognição( jogos de montar, quebra cabeça, memória),relaxamento, concentração( observar partes do corpo, ouvir os sons lá de fora...).  

As atividades lúdicas junto às crianças objetivam , antes de qualquer coisa, a formação do vínculo afetivo infantil ao processo terapêutico, facilitar o conhecimento acerca das bases que motivam e mantém o padrão comportamental individual e familiar, trabalhar os sentimentos que permeiam as relações infantis e dos adultos, favorecendo a participação da criança como sujeito dentro do ambiente familiar.

Lígia Oliveira- Terapeuta de casal, familiar e psicanalista.