quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Olhando Para O Ciúme





O ciúme é um sentimento carregado de emoção que transmite ao seu "portador" sensações de possessividade, medo da perda de algo valioso, insegurança  em relação ao amor que o outro sente por ele, sentimentos de desvalia e competição, que dependendo do grau, frequência e intensidade poderá levar o ciumento a ser refém de formas doentias de viver a relação afetiva.

Quando refletimos acerca do sentimento do ciúme, observamos que o mesmo surge como consequência de comportamentos recorrentes de comparação, inveja e insegurança. Ou seja: o ciúme é resultado de uma ação reativa à presença de um rival seja ele real ou imaginário. Envolve sempre um terceiro que na mente do que sente o ciúme, ameaça a segurança da relação.

Pittman(1994) fala que na relação amorosa conjugal "o ciúme pode ser uma emoção normal e adequada". Focando a atenção a esses casais que tem a difícil maturidade de controlar o ciúme, podemos compreender que  esse clima sadio relacional deve-se às condições do casal em querer aprender a trabalhar seus fatos e versões permeados pelo ciúme, dentro de um clima mais claro e amadurecido; momentos esses, não muito frequentes nas relações amorosas.

É importante fazermos a diferenciação entre um sentimento ciumento "natural" de zelo voltado à relação amorosa, do ciúme potencializado pela insegurança doentia que envenena o relacionamento, com ações voltadas à agressividade e passionalidade. Dependendo do grau do ciúme, alguns casos podem se tornar crônicos, onde o grande papel do ciumento é conseguir provas às suas suspeitas, o que amplia o poder do parceiro ciumento em criar fantasia que, quase sempre, só são reais dentro do seu cenário.
No trabalho terapêutico voltado ao casal que traz como um dos seus problemas o tema ciúme, procuramos conscientizar os dois que esse sentimento é consequência também de lembranças enraizadas em memórias afetivas cristalizadas ao longo das suas vidas.
Como terapeutas sistêmicos encaminhamos o olhar aos dois cônjuges, tanto ao parceiro que sofre e faz sofrer em função do seu ciúme, como também ao parceiro que desperta no outro tais sentimentos.O comportamento e a historicidade de ambos são estudados e trabalhados dentro do contexto relacional.

Procuramos juntos explorar o histórico de cada um,  anterior e posterior à relação, na busca de como as dificuldades podem ser resultados de emoções primitivas e atuais. É essencial  favorecermos um direcionamento ao casal no sentido deles avaliarem o que está acontecendo dentro deles, do lado de fora e na relação.
Osho, grande pensador, quando escreve sobre o ciúme nos contempla com orientações sábias que penso serem oportunas como reflexões úteis nesse momento:
  "Quando o ciúme aparecer:  Olhe bem para dentro dele;
                                                Não negue-o;
                                                Olhe bem para dentro da sua raiva e possessividade;
                                                Aceite-as,  explore-as;
                                                Veja o efeito do ciúme na sua vida."
Sabemos que na Terapia de Casal é fundamental que sejam dimensionados a singularidade, o grau e a intensidade de cada relacionamento permeado pelo sentimento do ciúme. Desta forma é necessário avaliarmos quando o processo terapêutico tem condições para desenvolver um trabalho voltado à ações mais breves e quando o tratamento demandará movimentos que envolvem acompanhamentos mais complexos.

Refletindo:
Como voce percebe o ciúme na sua vida afetiva familiar?  E na sua vida amorosa?
Qual o momento do texto sobre o qual voce gostaria de refletir mais?

                                     Lígia Oliveira -Terapeuta de casal, família,sexuale psicanalista.





quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O Amor Não Nos Autoriza Tudo






Quantas  das atitudes nossas levam à frente a bandeira do amor. Por amor respiramos, paramos de respirar, caimos, levantamos, brincamos, nos alegramos, nos enraivecemos, perdoamos....
São muitos os que terceirizam ao sentimento amoroso, comportamentos criativos e construtivos, mas também creditam ao amor suas ações invasivas, egocentradas, vingativas, como se essas lhe fossem "justificadas" pela condição amorosa.
Quantos desses movimentos "justificados" trouxeram àqueles que os vivenciaram colheitas infelizes, sementes nocivas, estéries de energias de luz, à convivência com o outro e com eles mesmos.
Li no livro Cartas entre Amigos- Sobre Ganhar e Perder, de Gabriel Chalita e Fábio de Melo, reflexão interessante acerca da atitude amorosa, quando em conflito.

Fala o pensamento que é importante "cuidar para não transformamos a relação de amor com dor em relação de dor sem amor".

Tanto na vida pessoal como enquanto terapeuta de casal e família, percebo quando na experiência de uma perda, brigas e dificuldades amorosas, como é difícil, a busca mais positiva dessa relação. A condição emocional, na maioria das vezes, nos aprisiona e embaça esse olhar. Observo que é necessário tentativas de ensaio, erros e acertos, com uma presente motivação à transformação do clima emocional conflituoso.
O que nos tranquiliza e nos impulsiona à essa busca é perceber que alguns já conseguiram ou estão nessa trilha. É lento, mas possível.

Fiquemos atentos. São muitas as ocasiões, quando estamos com dificuldades no  nosso relacionamento que ficamos na postura voltada ao outro da acusação, correção, culpa invasão, vingança.Tudo em nome do nosso grande amor. Sim, somos seres humanos, frágeis, e, foram inúmeras as vezes que percorremos esses caminhos. Quem sabe estejamos percorrendo ele, agora, nesse momento, e estejamos querendo ganhar esse jogo. Pergunto, estamos jogando contra quem?

Se estamos feridos, abandonados, não reconhecidos" é preciso ser bom para  ignorar a fera que nos quer invadir"( Gabriel Chalita). Complementaria, ainda, que é preciso amar com mais paciência e querer, de verdade, a transformação desse vínculo amoroso e, principalmente, aprender a crescer interiormente.

Olhemos melhor ao utilizarmos a bandeira do amor, quando nosso comportamento é fruto de imagens que nos aprisionam e nos impedem de compreender, passo a passo, como as nossas "perdas" se entrelaçam com os nossos "ganhos" e faz a vida seguir em crescimento.

                               Lígia Oliveira- Terapeuta de  Casal e Família

domingo, 3 de janeiro de 2021

Garoa de Esperança

GAROA DE ESPERANÇA 


Lá estou eu mais uma vez voltando a esse tema, que me faz  sentir  mais confiança  na minha alma e serenidade ao meu  sentido de vida:   A  Esperança.
Paro, agora, o meu sentir na Esperança, e vejo como esse caminho muda o olhar acerca do nosso eu, da nossa vida, do universo. Gosto desse momento. É um bom local de se estar, pois amplifica a minha entrega e diminui o meu vício do controle.
  
Minha Esperança me traz a vontade de silenciar,  de falar e de  me "convencer", como também ao outro, a um acreditar e a um esperar mais cheio de fé, no momento presente, e naqueles que estão por vir. "Ela", muitas vezes, chega  devagarinho e se presentifica, como uma garoa, que, suavemente, vai fortificando as plantas e fertilizando a terra.
A minha Esperança é uma boa companhia. Ela me ampara, me protege e me leva a perceber que nunca estou sozinha. Quando acionamos o botão da esperança sentimos que nossa "imunidade espiritual",  não pega gripe, nem virose, nem qualquer doença contagiosa. Ao contrário, nossa luz  se fortalece, nos fazendo resistir ao desânimo, à depressão, revolta...
Senhora Dona  Esperança, vejo que a senhora trabalha em mim para que eu não fique aprisionada no contexto da ausência, da reclamação, do medo, mas nem por isso,  quer que eu pare na acomodação. Sim, sua companhia não me nega a dor, nem a minha impotência, todavia "investe" no meu sentido de autoria, mas também de transcendência, do acreditar em uma Energia Maior, que me facilita  saber quando ir em frente e também a hora de aguardar.
Quando estou com você, Dona Esperança, ou melhor,em você, percebo que voce é vizinha da dor. Vejo que voces também são boas amigas, pois  aprenderam a conversar compreendendo o valor da complementaridade e de uma amizade recíproca.
Peço à Força Maior que me ajude a fazer essa amizade, dia a dia, mais presente no meu viver e  na vida de todas as minhas pessoas queridas.



          Lígia Oliveira- Terapeuta de Família,casal e psicanalista.