domingo, 16 de outubro de 2016

HOMOAFETIVIDADE E TERAPIA FAMILIAR



HOMOAFETIVIDADE E   FAMILIAR FAMILIAR

Esse texto é fruto de reflexões acerca da homoafetividade baseada em referências teóricas e 
 casos  clínicos,os quais trabalhei em consultório. Deixo claro a necessidade de nós terapeutas familiares sistêmicos investirmos mais em estudo e trocas de experiências com outros profissionais e famílias, com objetivos voltados a um melhor aprofundamento do nosso entendimento e do entendimento do outro, em relação  aos significados do comportamento afetivo, cognitivo, emocional e social, individuais e familiares.

Compreendo que também é significativo a leitura da homoafetividade dentro de uma abordagem histórico cultural na qual possamos ampliar o conhecimento das diversas fases de interpretação que essa orientação sexual recebeu ao longo do tempo e suas diversas consequências no contexto individual, familiar e comunitário.

No livro Novas Abordagens da Terapia Familiar de Mcgoldrick, 2003, no capítulo 24 o qual fala sobre a homoafetividade, a autora faz a seguinte afirmação:  
 "É a família que transmite valores, crenças, e um sentido de ação, assim como um modelo, para o relacionamento. A família também é o principal transmissor das atitudes culturais, habituais, assim como das atitudes em relação a essas atitudes. Dentro dessa família os homens gays e as mulheres lésbicas lutam para estabelecer uma identidade pessoal que vai contra a identidade da família".
É essencial que nós terapeutas familiares possamos ampliar nosso foco mediante o entendimento das múltiplas visões, tanto da família que sofre, naquele estágio, por não compreender a homoafetividade de um dos seus membros, como da ansiedade do familiar homoafetivo que busca uma melhor compreensão da sua orientação sexual.

Uma função significativa aos terapeutas que desenvolvem trabalho com cliente homoafetivo é investir na abertura de um clima que facilite o complexo caminho de diferenciação da sua identificação gay e lésbica.

 Em relação aos pais observamos que precisamos trabalhar, gradualmente, o execício voltado ao autoreconhecimento da homoafetividade do seu filho (a).Essa dinâmica deve se basear, antes de tudo, no respeito e acolhimento dos sentimentos de todos os envolvidos, todavia também, em um olhar abrangente que procura junto à família rever crenças culturais, religiosas e culturais cristalizadas, e juntos caminhar na  desconstrução da idéia que a homoafetividade é patológica.

 Assim sendo, avaliamos que um papel básico incial da terapia é ver  a crise presente, naquele ciclo, como uma resposta familiar possível, olhá-la de frente, explorar os seus múltiplos significados e instrumentalizar a família como um todo, identificando suas possibilidade e limitações.
Entendemos que reforçar a prática sistêmica na direção da compreensão da reciprocidade das partes envolvidas no trabalho terapêutico envolve, entre outros, a atenção aos seguintes pontos:

  .  A família necessita de um tempo cronológico e emocional relativo ao sentimento da perda dos sonhos e projetos voltados ao filho homoafetivo;




  . A vivência do homoafetivo passa por fase de negação, ambivalência, tentativas sofridas de experiências heterossexuais, períodos de raiva, medo, ódio, depressão, até assumir seu self homoafetivo. Muitos, mesmo após a revelação, ainda vivem dentro de uma conspiração própria de segredo;

 .  Sofrimento emocional e psicológico do sistema familiar por muito tempo e a percepção que o processo de autoconhecimento que antecede a revelação é muito complexo;

 .  A revelação traz junto uma grande insegurança ao homoafetivo pelo medo da perda do apoio familiar; na maioria das vezes a revelação tem um alto preço.

. Revelação como meio de favorecer, por parte do homoafetivo, a autonomia da sua vida, investir na autoestima, como ainda facilitar condições para a melhoria do isolamento social;

. O membro homoafetivo deverá ser encorajado ao entendimento das possibilidade e limites dos pais, sendo explicado a necessidade do cultivo da paciência e empatia pelo sistema parental;

. Acolhimento aos pais a exporem suas lamentações, seus  conflitos pelas expectativas perdidas e não compreendidas em relação aos filhos e ao mito da família"normal";

. Muita vezes a revelação da homoafetividade de um dos filhos pode vivenciar um processo carregado de culpa, rejeição, vergonha. Alguns pais alimentam um movimento de racionalização, "acreditando" ser só uma fase do filho e tentam, ao máximo, mudar a orientação sexual do filho(a).

. Após a revelação da homoafetividade o relacionamento familiar poderá  desenvolver os seguintes comportamentos  em relação ao familiar homoafetivo:

      Distanciamento afetivo, físico  e emocional;
      Invisibilidade;
      Não aceitação e conflitos constantes;
      Aceitação restrita e contrato de silêncio para os não familiares;
      Aceitação e aproximação gradual da homoafetividade.

A Terapia Familiar trabalha no sentido de junto com a família rever e transformar suas interações em formas mais claras e positivas de comunicação. Procuramos investir na família mais voltados aos processos familiares, ajudando-os na ressignificação dos seus significados.

 Empreendemos esforço para que a família fortaleça  uma maneira mais efetiva e afetiva de compreender suas diferenças e  semelhanças, revendo que algumas mudanças são frutos de caminhadas lentas e que há situações nas quais não conseguimos mudar...Muito bom se ao darmos voltas juntos, terapeutas e clientes possamos, passo a passo ir desconstruindo escutas fechadas e esses novos significados facilitem construções de vida mais plena.

OBS- Leia também, Terapia de casal com casais homoafetivos,-Recife, editado em  julho de 2015

               Lígia Oliveira - Terapeuta familiar,  de casal e psicanalista

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Reconhecer Nossos Erros



Penso que um dos principais valores do movimento ao reconhecimento dos nossos erros é o exercício do aprendizado voltado à confiança em nós mesmos. Ouvi certa vez que mentir para nós  nos empobrece. Reflito que também nos paralisa.

Winnicott, em um dos seus livros falou que a diferença entre mães boas e mães ruins não eram os erros cometidos, mas o que elas faziam com eles.

E nós o que estamos fazendo com os nossos erros? Os repetimos, os acolhemos, os negamos, os justificamos, os terceirizamos, os reconhecemos?

Parar e com atenção observarmos nossos atos nocivos, procurarmos explorar seus significados, contextos e necessidades ajudará na facilitação de uma visão mais inteira do nosso ser. É preciso que a intencionalidade dessa avaliação não responda à causas culposas, vitimizadas, mas dirija-se a alimentarmos sentimentos e ações com mais liberdade e inteireza.

Avalio que essa postura não é simplesmente uma forma de se comportar baseada em referênciais morais. Vai além. Peitar a vida de cabeça erguida e coração aberto é entender que a primeira porta a ser aberta é a de dentro, o que nos trará força na alma e serenidade no coração.

Quantas vezes  nós não queremos reconhecer nossos erros. Nos sentimos apontados, vulneráveis, perdedores. Pior se  o que impede é o orgulho, sentimento que quando alimentado cria um grande muro, desnecessário, entre as pessoas, e mescla a energia relacional de distanciamento, arrogância e teimosia.

Aqueles que ficam na negação e repetição dos erros não cooperam com a descoberta de importantes chaves que poderão abrir seus quartos escuros.

Mudemos nossas escolhas. Por onde podemos começar?



                       Lígia Oliveira- Terapeuta de Casal e Família