segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Filho Único- Dificuldades de Relacionamento





No livro Família de Alta Performance- Conceitos Contemporâneos na Educação,( Içami TIBA, 2009)  se refere à "Sindrome do Filho Único"(SFU) sendo esse termo utilizado para nos referirmos aos distúrbios de relacionamento apresentados pelo filho único com a sua família e pessoas do seu relacionamento.
A SFU é definida como "um conjunto de sinais e sofrimentos existentes nas pessoas envolvidas nos relacionamento Mãe e Filho Único, Pai e Filho Único e ou seus substitutos"( Içami). Esses comportamentos, dependendo do investimento dos pais nas mudanças necessárias, tenderão a ser de caráter temporário, ou se prolongarão em vários ciclos de vida.
Percebemos que os sinais da SFU aparecem, mais fortemente, na primeira / segunda infância e tendem a minimizar com o tempo, quando existe um olhar mais atento dos familiares mais próximos, no sentido de compreenderem o que é positivo e ou prejudicial ao desenvolvimento do filho único.
Caso essas dificuldades permaneçam, contribuirão ao agravamento de sofrimentos e a perpetuação  das dificuldades relacionais. Desta forma, o filho único, mesmo na idade adulta, estará ainda na busca de uma pessoa que exerça esse papel complementar, a qual "substituirá" o papel do familiar que, na maioria das situações é a mãe.
É fato que os maiores responsáveis pela SFU são os pais."A Síndrome é uma consequência da maneira pela qual este filho é criado, protegido, perdoado, pelos seus próprios pais ou substitutos"( Içami). Todas as energias positivas e negativas são destinadas a uma só pessoa. Há uma polarização do excesso.Assim sendo, é essa condição de excesso que propicia  o surgimento e a manutenção da Síndome do Filho Único.
Observamos que o filho único tem mais chance de desenvolver uma estrutura de comportamento frágil, tímida, ou ao contrário, apresentar ações de tirania, rebeldia, e, constantes movimentos de exigência de uma atenção egocentrada.
Por ser filho único, sua rede de relacionamentos é mais com adultos, fato que o leva a incorporar a linguagem, os costumes, os interesses, diversões da idade adulta... Por não ter uma convivência maior com outras crianças e pelas demais razões aqui já mencionadas, o filho único poderá ter um nível intelectual mais elevado, trazendo consequências de rejeição pelas crianças mais novas, quando em brincadeiras com as mesmas.  Esse entre outros é um dos motivos pelos quais o filho único busca o isolamento.
No período da adolescência, caso o filho único continue nessa postura mais voltada a si mesmo, facilitará a ampliação das dificuldades de relacionamento afetivas, emocionais e sociais entre pais, familiares etc...
Como o adolescer é um período no qual o grupo é a referência, e as amizades tornam-se mais próximas e importantes, o compartilhamento das dificuldades do filho único com amigos, ou até com o seu "melhor amigo," poderá contribuir, positivamente, para a melhoria da SFU.
Por serem mais solitários que os filhos não únicos, os filhos únicos  tem lançado mão a uma "amizade" bem contemporânea: a internet,  local no qual pode desenvolver e alimentar suas amizades virtuais. Esses amigos contribuem ao preenchimento do vazio da falta de irmãos e dos amigos reais no compartilhamento de brincadeira, jogos, conversas.
A literatura e também nossa prática clínica, reforça aos pais a necessidade de uma contínua vigilância, em relação ao uso da internet, uma vez que o mundo virtual pode ser muito perigoso.
No tocante ao uso de drogas e à sexualidade, pesquisa apresentada por Vallego Nágea, www.portaldafamilia.org,  pontua que os filhos únicos usam menos drogas que os filhos não únicos. Todavia, quando iniciam a experiência, existe uma precocidade maior  na utilização das drogas.
Como é sozinho pode ter a chance de se drogar no seu próprio quarto sem testemunhas. Muitos só vão perceber a dependência tardiamente.
Em relação à iniciação da vida sexual, a pesquisa citada registra que os filhos únicos também vivem esse momento mais cedo que os filhos não únicos.
O desempenho escolar do filho único, geralmente é bom, por conta  do constante  monitoramento dos pais.Entretanto, em alguns casos, problemas decorrentes da SFU, trazem como resultado dificuldades tanto na  área comportamental como cogtnitiva, o que possibilita o decréscimo do  potencial escolar.
É imprescindível que não só os pais, mas também os avós e familiares mais próximos, se trabalhem na compreensão das ações maléficas que o excesso de atenção e realização das vontades do filho único poderão trazer para esse e a família como um todo. O filho único poderá ficar dependente dessa facilidade de vida, onde tudo é colocado nas suas mãos, e entender que PODE tudo, esperando que o mundo esteja ao seu servir. Quando não encontra essa solicitude vai buscar sua saciedade de qualquer forma .
Muitos filhos únicos não foram ensinados, suficientemente, a esperar, ter limtes, trabalhar a frustração e perdas, acontecendo o que IçamiTIBA chama de "obesidade de carinhos, brinquedos, agrados". Atitudes que contribuem ao filho único quererem tudo na sua hora, pouco respeitar o olhar alheio, dificuldades em seguir regras necessárias...
Os filhos únicos que apresentam a SFU esperam que o mundo lhes trate com exclusividade, em função de como seus pais o acostumaram. Uma consequência lógica desse comportamento é um egoísmo aumentado.
Por não ter tido irmãos com quem dividir, brigar, competir, negociar , ganhar, perder, nem em ações concretas como em experiências afetivo emocionais, nem uma educação mais saudável por parte dos pais, o filho único pouco pode exercitar o seu processo de amadurecimento compatível a cada ciclo vital.
Mediante todos esses motivos percebemos que o filho único portador da SFU, não tem um ambiente que possa lhe servir de base pisco-emocional- afetiva para um desenvolvimento dentro de uma estrutura e dinâmica que possa lhe favorecer condições de amadurecimento.

Reflitamos como pais, avós e familiares:

Como vejo a minha participação na SFU,em meu filho, neto...?

Onde posso contribuir positivamente?

Por onde começar?

                                       Lígia Oliveira- Terapeuta de família/ casal e psicanalista

obs- Sugiro ler o livro Família de Alta Performance- Conceitos Contemporâneos na Educação- Içami TIBA,São Paulo, Editora Integrare, 2009, livro o qual foi a base para o texto acima

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