quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Terapia Familiar e Famílias Com Adolescentes






A adolescência  caracteriza-se por ser um período de contínuas mudanças físicas, emocionais,afetivas, de pensamento, sociais, de relacionamento...
Dia a dia, o adolescente vai alargando sua visão de mundo para além das fronteiras familiares, ou seja, vivências  que extrapolam as orientações e o amor dos pais.


Nesse processo, o adolescente parte em busca de aceitação do grupo o qual faz parte, ampliando suas visões, mediante a conquista de novas amizades, ideias, valores e comportamentos. Tudo isso vai legitimar ao adolescente seu "novo olhar" sobre a realidade que se descortina para ele.
Esse descortinar traz também ao mundo "secreto" do adolescente uma convivência com novos conflitos os quais podemos resumir nas seguintes reflexões:


         O que quero?      Não quero?    O que posso?      Não posso?
         O que é certo?    Errado?           Por que meus pais não me entendem?
         Não quero falar agora    Quero ficar só.     O que pensará meu grupo?
Pensamentos e sentimentos de ambivalência são recorrentes pois o adolescer reforça a autonomia, todavia, também traz sentimentos de prazer, medo, dúvidas, certezas, culpa, raiva, arrependimentos, alegrias...
Por mais que os meios de comunicação, escolas, palestras, terapeutas procurem explicar sobre esse ciclo de vida, é natural que existam conflitos afetivos e de autoridade entre pais e filhos, conflitos esses que,  em muitas ocasiões, são passos de uma dança na qual  os dois perdem o ritmo, a paciência e o controle.
Em relação aos pai, observamos que alguns deles ao lidar com os filhos, reforçam modelos idealizados em motivações próprias, tentando consciente ou inconscientemente, transferir aos seus filhos sonhos e  expectativas. Essa postura, na maioria das vezes, pode ocasionar o desenvolvimento de conflitos e frustrações recíprocas.


É importante, nesse momento, entender os movimentos dos pais e filhos. Os filhos vivendo um  despertar legítimo do querer se diferenciar dos pais para a construção de uma identidade e uma   autonomia próprias e os pais ainda muito confusos pelo sentimento de perda do exemplo deles como modelo para o filho e, quem sabe também, não querendo aceitar a perda da "sua criança".
McGoldrick, no seu livro As Mudanças no Ciclo da Vida Familiar, 1995, explica que os pais de adolescentes, quando procuram a Terapia Familiar, costumam chegar sentindo-se confusos, zangados, e descontrolados e apresentam posturas que refletem, naquele momento, a incapacidade deles em lidar com as  " tarefas" da adolescência.



Abordando de forma breve, a ação da Terapia Familiar com famílias de adolescentes podemos dizer que no início é direcionada à família como um todo,  para avaliação conjunta dos padrões de comportamentos, principais dificuldade, e significados para cada um e para a família em geral. Depois dessa visão geral, na maioria dos casos, existe a necessidade de encontros separados, ou seja, sessões com os pais e com o filho.
Nesses encontros é feito o acolhimento das necessidade, desejos, ideias, mágoas e procura-se clarificar as leituras e significados desses fatores e suas influências tanto na dimensão interna como nas situações práticas do relacionamento familiar.
Em relação aos pais facilita-se uma volta à adolescência de cada um  investindo na compreensão dessa fase na vida. Essa experiência muito ajuda aos pais fazerem uma volta aos seus significados vivenciados, aos significados atuais dos seus filhos, procurando-se olhar o que precisa ser compreendido em função dos novos padrões de comportamento sociais, como também as regras e valores de cada família.


Voltando ao processo mais amplo, família toda reunida, há uma orientação ao olhar da família, aos ciclos familiares, padrões positivos e negativos, papéis e funções familiares,  fatores internos e externos que poderão estar contribuindo para a dificuldade e a melhoria do relacionamento familiar.
Em algumas situações, dependendo da demanda da família, torna-se necessário que o terapeuta familiar explique aos familiares a necessidade de desenvolver um trabalho conjunto com redes de apoio  de uma equipe terapêutica multidisciplinar.


               Lígia Oliveira - Terapeuta familiar e de casal


Obs- O texto teve como base de leitura o Capítulo 12 do livro As Mudanças no Ciclo da Vida Familiar- McGoldrick, Artmed, 1995

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