segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Terapia Familiar e Perdas






Sabemos que o trabalho da Terapia Familiar tem como objetivo a facilitação da comunicação entre os familiares para a melhoria do compartilhamento das emoções, idéias, ações, criando aos poucos, um espaço relacional mais claro, aberto e oxigenado.

Esse espaço é um local de aprendizagem ao manejo dos afetos positivos e negativos, de forma construtiva, na busca dos recursos que poderão favorecer as condições de superação.
No tocante à Terapia Familiar mais diretamente ligada à grandes perdas, o objetivo se baseia no acolhimento, compartilhamento e compreensão do sofrimento, como meio para aceitá-lo e transformá-lo.
Trabalhamos no sentido de, gradativamente e nos limites e possibilidades dos familiares, irmos investindo nos reservatórios da aceitação e da esperança, através dos recursos que ajudem no processo de continuidade da vida: Procuramos, dia a dia, facilitar condições de transformação da perda em força  familiar.

Froma Walsh em seu livro Fortalecendo  a Resilência Familiar, 2005, faz a seguinte reflexão sobre famílias e perdas:

" A capacidade de aceitar  a perda está no cerne de todas as habilidades nos sistemas familiares. Beavers et. al.(1990) descobriram que em famílias com bom funcionamento, a capacidade de aceitar a mudança e a perda está intimamente vinculada à aceitação da idéia da própria morte...   As famílias que exibem padrões pouco adaptativos para lidar com perdas inevitáveis tendem a se apegar à fantasia e à negação para escamontear a realidade e insistem na atemporalidade  e na perpetuação de vínculos jamais rompidos."

Olhando  para o luto, entendemos que o mesmo precisa ser entendido como uma síndrome, ou seja, a vivência de um conjunto de sintomas e respostas fisiológicas, psicológicas, emocionais, espirituias e sociais que passam por diversas fases, as quais destacamos a seguir:
 Muito sofrimento, desespero, reaçoes de negação, raiva, revolta, isolamento social, culpa, alívio, sintomas psicossomáticos, ambivalencia, medo do amanhã ...Observamos também fases como:
Elaboração de dolorosas lembranças, compreensão e vivência um pouco mais concreta da perda;
Conciliação de um sentido para a perda, para ressignificá-la em um contexto de crenças, descobertas de novos papéis, adaptação gradativa à vida sem o ente querido: Prosseguimento ao processo de continuidade da vida.

Em relação aos modelos de enfrentamento do luto, ressaltamos os principais fatores que poderão contribuir para a experiência do luto de forma mais saudável:
Força do enfrentamento individual e grupal, condições de união e resiliência familiar;
Rede familiar e social de suporte;
Forma de como  o enlutado passou por perdas anteriores, reações emocionais;
Natureza da morte, morte repentina, doença crônica, envelhecimento, perdas traumáticas;
Apoio e base espiritual da família: espiritualidade compreendida de forma ampla, confiança em uma Força Superior que acolhe o pesar e ajuda nos movimentos direcionados à transmutação dessa dor em entendimento gradativo dos caminhos da vida .

A família necessita, conjuntamente, falar sobre suas emoções de maneira mais consciente para o progresso da aceitação da morte. Todos os sentimentos deverão ser reconhecidos e acolhidos, vez que a negação e outros sentimentos negativos podem favorecer reações nocivas aos relacionamentos atuais e futuros, como comportamentos de medo, distanciamento , substituições...
O caminho de recuperação familiar segue dentro de um processo no qual são realinhados relacionamentos e funções que facilitem a vivência do luto como um todo. Torna-se fundamental auxiliar os familiares mais sobrecarregados, dando suporte aos seus tempos e espaços, mediante o investimento na colaboração familiar.
Ir aos poucos olhando de frente a ausência do ente querido, faz gerar um movimento para se encontrar um modo de extrair significado da perda, colocando-a em uma perspectiva mais saudável  e ir em busca de ir em frente com a vida.

                              Lígia  Oliveira- Terapeuta de Casal e Familiar

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